09/02/11

As dimensões do ser humano



Na Universidade ensinaram-nos que o homem é um ser bio-psico-social. Certamente. Esta definição é repetida vezes sem conta em livros e escritos de toda a ordem. É, talvez, uma simplificação.
O homem tem também as dimensões de um ser cultural e espiritual.
Por isso educar uma criança passa também pelo desenvolvimento cultural e espiritual.
A criança é um corpo que cresce em interacção com uma mente que se desenvolve, a realidade biológica e psíquica. Podemos dizer que ainda não sabemos tudo sobre esta interacção e sobre as potencialidades que cada criança vai manifestando no seu desenvolvimento. Mas sabemos que essas potencialidades dependem de condições que possibilitam que a criança encontre o seu próprio caminho, e a realização máxima da sua personalidade: são as dimensões sociais, culturais e espirituais.
"A primeira ideia que uma criança precisa ter é a da diferença entre o bem e o mal. E a principal função do educador é cuidar para que ela não confunda o bem com a passividade e o mal com a actividade."
Cada criança tem o seu próprio ritmo de trabalho e um  aluno da turma não deve sujeitar-se ao ritmo dos outros, isto é, nem deve acertar o passo pelo último e também não deve ser obrigada a seguir o primeiro.
Não necessita desenvolver sistematicamente o espírito de competição. Pelo contrario, deve-se oferecer oportunidades para ajuda mútua e cooperativa.
A criança pode assim habituar-se a ter comportamentos de sua livre escolha, sem coerções nem sentimentos de inferioridade e outras experiências capazes de deixar marcas negativas no decorrer de sua vida.
A criança aprende, assim, a cultura dos valores, necessária ao desenvolvimento do ser humano.
De outro modo, diz Montessori, para que servirá a cultura se ela não consegue tornar o homem melhor para si próprio e para os outros ?
Para que servirão as forças do progresso se o ser humano não progride, como podemos comprovar todos os dias pela comunicação social e pela nossa experiência, com o regresso à barbárie da violência hard ou soft (Lipovetsky).
Vale a pena o progresso quando um povo fica poderoso para poder submeter outro povo mais fraco ?
“Hoje a humanidade está vencida e escravizada pelo seu próprio ambiente, permanecendo fraca (Montessori, Formação do homem, pág. 16).
Montessori já tinha descoberto que as forças do progresso, afinal, servem para nos tornar escravos. Não foi aqui que chegámos ?
Não é apenas desta geração, infelizmente, aquilo que uma canção toca por aí (Deolinda):
Que parva que eu sou!
E fico a pensar,
que mundo tão parvo
onde para ser escravo é preciso estudar.
O que falta então? O importante é desenvolver a totalidade da personalidade da criança e não somente as
suas capacidades intelectuais.
A educação deve preocupar-se também com a capacidade de iniciativa, de decisão e de escolha independente e com as capacidades emocionais.
A educação deve exigir do professor e do aluno a capacidade de auto-avaliação que o leve a renunciar à tirania. Deve tirar do coração a ira e o orgulho e em seu lugar colocar a bondade e o perdão.
Nesse caso, vale a pena estudar porque torna os homens livres.

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