24/12/09

«Porque é que que as pessoas gostam (ou não) da história do Menino Jesus»


O Natal remete-nos para a infância e para as memórias da infância.
Faz parte do nosso inconsciente colectivo vivido principalmente no seio da família ou das pessoas mais próximas da nossa família
Contra uma ideia que corre de que as pessoas são consumistas e, normalmente, quando fazemos esta afirmação ela é também uma atribuição porque consumistas são os outros, eu defendo que no Natal faz sentido que se consuma mais do que é habitual, obviamente dentro das possibilidades de cada um.
A essência do Natal passa pelos seus símbolos e o Natal está carregado de simbologia.
O símbolo é um processo mental que representa uma realidade externa por uma imagem.
O Natal é representado por vários símbolos, de que destaco, neste contexto de festa e felicidade: os presentes, a árvore de Natal e a culinária.
Não é possível pensar o Pai Natal ou o Menino Jesus sem pensar nos presentes.
E esta é a única maneira de compreender a situação de festa para as crianças.
Um presente é uma recompensa pelo bom comportamento da criança. Mas ela sabe que o Pai Natal não espera qualquer sentimento de gratidão ao contrário do que acontece com as outras pessoas.
Na árvore de Natal, é também o maravilhoso que está presente. A criança sabe que se trata de uma árvore real mas nenhuma árvore é semelhante àquela. A árvore que vê todos os dias no jardim de repente transforma-se numa árvore vinda do país das maravilhas.
A culinária: O jantar, a ceia de Natal, tem uma dupla componente de abundância e de comida e de reunião familiar em espírito de alegria e felicidade.
Sabemos que o medo das privações físicas e emocionais é algo que de forma inconsciente, corresponde às maiores ansiedades do homem.
A fome é a forma básica do abandono físico e a morte, e também, do abandono emocional.
A criança pequena não compreende a morte e não tem medo da sua morte, mas tem medo da morte dos pais, porque isso corresponde a um abandono permanente.
Um mesa farta combate a ansiedade da criança, tranquiliza-a, porque para além dos pais há muitos outros parentes que o podem cuidar.
O Natal é, assim, o tempo de recordações de felicidade.
João dos Santos fala-nos da recordação encobridora: “Um acontecimento cristalizado num bonito quadro. A árvore de Natal é prenhe de frutos radiosos, apetecíveis e em geral intocáveis, porque apenas celebram um nascimento e anunciam os presentes”
A ideia de recordação encobridora remonta às memórias esquecidas, que se originaram com o objectivo de deslocar ou substituir uma lembrança dolorosa por outra mais tolerável e feliz.
É esse o quadro captado pelos poetas, cheio de nostalgia de uma infância feliz ou talvez não, como nos relata Fernando Pessoa.


Natal

Natal…na província neva
Nos lares aconchegados,
Um sentimento conserva
Os sentimentos passados

Coração oposto ao mundo,
Como a família é verdade!
Meu pensamento é profundo,
Estou só e sonho saudade

E como é branca de graça
A paisagem que não sei,
Vista de trás da vidraça
Do lar que nunca terei !

Fernando Pessoa (Cancioneiro)



(Bettelheim, B. (1994), Bons Pais - o sucesso na educação dos filhos, 2ª Ed. Venda Nova: Bertrand Editora ; Piaget, J. (1975), A formação do símbolo na criança, 2ª Ed, Rio de Janeiro: Zahar Editores; Santos, J. «Porque é que as pessoas gostam (ou não) da história do Menino Jesus», Jornal da Educação).

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