11/06/15

Partilha


Economia da Partilha em Portugal e no Mundo.

Creio que não se ensina nas Universidades nem dá Nobel da economia ou  daqueles doutoramentos honoris causa à duzia.
A diversidade de caminhos que se abrem ao ser humano aumenta a esperança de um mundo melhor.
As coisas vão acontecendo e mudando, como neste caso: banco de partilha social.

09/06/15

Felicidade

Felicidade foi tema do Prós e Contras. Painel de luxo. Ouvir estes profissionais extraordinários faz-nos bem. Talvez gente do governo e da oposição, principalmente aquela mais infeliz, aprendesse alguma coisa, se é que já não sabe tudo. Sem esquecer os comentadores especialistas em economia e finanças, crescimentistas mágicos e indignados com a crise.

Sobre a felicidade um bom exemplo a seguir: 
Dan Price, fundador da Gravity Payments, deixou loucos os funcionários da empresa quando lhes comunicou a alteração na política de pagamentos da empresa. Anunciou, numa reunião, que os trabalhadores vão receber, nos próximos 3 anos, um aumento de salário para um mínimo de 63 mil dólares anuais.
A iniciativa de Dan Price aconteceu depois de ter lido um estudo* que compara o ordenado que temos com a felicidade. O trabalho levanta a questão: “O dinheiro compra felicidade?”
Os resultados indicam que o bem-estar emocional aumenta substancialmente até aos 68 mil euros anuais. A partir daí, é verdade que o dinheiro compra satisfação na vida, mas não felicidade.

Por cá, também temos exemplos:
"Paga salários acima da média, ginásio e férias para ver trabalhadores felizes."
__________
* Daniel Kahneman and Angus Deaton, «High income improves evaluation of life but not emotional well-being»

03/06/15

Amizade e intimidade

Na adolescência, uma característica diferenciadora na interacção é a intimidade interpessoal, isto é, a sensibilidade pelo outro e a consciência do "nós" (Sullivan, referido por Isabel Soares, «O grupo de pares e a amizade», in Psicologia do desenvolvimento e educação de jovens, coord. B. Paiva Campos, vol. II Universidade aberta).
Esta relação vai para além da cooperação que é característica das interacções da escola primária, em dar e receber, em hábitos e ocupações comuns, competição e compromissos com objectivos materiais e concretos.
Esta nova interacção é o inicio de um envolvimento íntimo com o outro, algo muito semelhante ao amor, carregado de emoções, exclusividade e susceptibilidade.
O amigo desempenha o papel de suporte do EU e muitas vezes funciona como espelho que reenvia uma imagem que lhe dá segurança, fazendo aumentar a confiança em si próprio e favorecendo a coesão e a unidade da personalidade, que se procura através do outro.

 Para os adultos a amizade é apenas uma das formas de relacionamento íntimo: “Quando duas pessoas se envolvem numa relação mais íntima: interagem mais vezes e por maiores períodos de tempo e num mais amplo conjunto de contextos; tentam restabelecer a proximidade quando separadas e sentem-se confortáveis quando a proximidade é restabelecida; abrem-se uma à outra no sentido em que partilham pensamentos e sentimentos secretos; tornam-se menos inibidas, mais desejosas de partilhar experiências positivas e negativas elogios e criticas uma à outra; desenvolvem o seu próprio sistema de comunicação e tornam-se mais eficientes na sua utilização; aumentam a sua capacidade para coordenar e antecipar o ponto de vista do outro sobre a realidade social; começam a sincronizar os seus objectivos e comportamentos e desenvolvem padrões de interacção subtis" (Huston e Burgess, idem, pág. 114)

A amizade na infância pode ter algumas destas características mas é na adolescência que começam a assemelhar-se às características da amizade do adulto.
A amizade, na adolescência, assume agora outro significado interpessoal: é uma relação mais exigente, põe em jogo competência emocionais, cognitivas e comportamentais, exige competências novas, isto é, capacidade para entender o outro como entidade psicológica.
Passa por vários estádios no desenvolvimento das expectativas da amizade (Bigelow, idem, pag 118):
1. recompensa-custo (interacções momentâneas): amizade considerada como uma relação comportamental superficial baseada na proximidade espacial e na realização conjunta de actividades.
2. estádio-normativo (orientação egocêntrica): são valorizados os aspectos sociais e contratuais como fidelidade, ajuda mútua. É também identificada a dimensão de admiração de carácter.
3. psicológico-interno (interacções recíprocas): os valores dominantes são a empatia, compreensão e auto-revelação e as dimensões: aceitação, lealdade, comprometimento, sinceridade, interesses comuns e potencial de intimidade.
A intimidade vai tendo maior ênfase à medida que se desenvolve a adolescência.
A escola mantém uma grande influência na vida dos jovens e sabemos até que ponto as relações entre pares são influenciadas pela circunstância escolar e de que forma afecta a selecção das amizades e a organização dos grupos de jovens das mais variadas índoles. Ou então levam ao isolamento, ao sentimento de ninguém gostar de nós, da agressividade em relação aos colegas e aos outros…
Como numa velha canção de Françoise Hardy...
Mas o tempo extra escolar exerce um fascínio cada vez maior nos jovens. As crises, revoltas e fracturas da juventude (Yvonne Poncet-Bonissol, Adolescentes) também começam neste tempo de fazer amizades a sério. 
Então, também prevenir os problemas e dificuldades devia começar agora e não quando surgem mais tarde.


                    
Todos os rapazes e raparigas da minha idade 
Passeiam nas ruas dois a dois
Todos os rapazes e raparigas da minha idade
Sabem muito bem o que é ser feliz
E os olhos nos olhos e a mão na mão
vão apaixonados sem medo do dia seguinte
sim mas eu vou sozinha pelas ruas, a alma sofrendo
sim mas eu vou sozinha, porque ninguém me ama.



 Talvez aqui!





Amizade

Sagres: Gaivota 3

«Pode a distância separar-te
dos teus amigos?
Se queres estar junto
de alguém que amas,
não te parece que
já lá estarás?»
...
«Voa, livre e feliz, para além dos aniversários,
através da eternidade e encontrar-nos-emos
de vez em quando, sempre que quisermos,
no meio da única festa que nunca poderá terminar.»

Richard Bach, Não há longe nem distância.

30/05/15

"Os amigos nunca são para as ocasiões"


Uma das melhores definições de amizade encontra-se no poema de Eugénio de Andrade (Poesia em verso e prosa): Os amigos
Os amigos amei
despido de ternura
fatigada;
uns iam, outros vinham,
a nenhum perguntava
porque partia,
porque ficava;
era pouco o que tinha,
pouco o que dava,
mas também só queria
partilhar
a sede de alegria –
por mais amarga.
Ou, talvez, a melhor definição de amizade seja a de Miguel Esteves Cardoso (Explicações de Português):
Os amigos nunca são para as ocasiões. São para sempre. A ideia utilitária da amizade, como entreajuda, pronto-socorro mútuo, troca de favores, depósito de confiança, sociedade de desabafos, mete nojo. A amizade é puro prazer. Não se pode contaminar com favores e ajudas, leia-se dívidas. Pede-se, dá-se, recebe-se, esquece-se e não se fala mais nisso.
A decadência da amizade entre nós deve-se à instrumentalização que tem vindo a sofrer. Transformou-se numa espécie de maçonaria, uma central de cunhas, palavrinhas, cumplicidades e compadrios. É por isso que as amizades se fazem e desfazem como se fossem laços políticos ou comerciais. Se alguém «falta» ou «não corresponde», se não cumpre as obrigações contratuais, é logo condenado como «mau» amigo e sumariamente proscrito. Está tudo doido. Só uma miséria destas obriga a dizer o óbvio: os amigos são as pessoas de que nós gostamos e com quem estamos de vez em quando. Podemos nem sequer darmo-nos muito, ou bem, com elas. Ou gostar mais delas do que elas de nós. Não interessa. A amizade é um gosto egoísta, ou inevitabilidade, o caminho de um coração em roda-livre.
Os amigos têm de ser inúteis. Isto é, bastarem só por existir e, maravilhosamente, sobrarem-nos na alma só por quem e como são. O porquê, o onde e o quando não interessam. A amizade não tem ponto de partida, nem percurso, nem objectivo. É impossível lembrarmo-nos de como é que nos tornámos amigos de alguém ou pensarmos no futuro que vamos ter.
A glória da amizade é ser apenas presente. É por isso que dura para sempre; porque não contém expectativas nem planos nem ansiedade.
A amizade é uma estrada de dois sentidos - exige escolha mútua e reciprocidade de afecto e comportamento (Garbarino). Por isso é diferente de popularidade (que pode ser unilateral). 
A amizade do facebook e de outras redes sociais, embora aceite, é baseada na popularidade e na quantidade de amigos. Não há nada de mais falso no campo da amizade. A amizade não é popular. Pode até ser incompreendida aos olhos da família, da maioria, de outros amigos... 
Todos sabemos, e os educadores, em particular, devem ter consciência disso, que a amizade muda com o passar dos anos e faz parte do desenvolvimento do ser humano.

Exerce um papel importante no processo de socialização das crianças. Os primeiros contactos com o mundo fora do círculo familiar são importantes para as crianças aprenderem a tomar decisões, estabelecer regras, aceitar as diferenças, conviver em grupos, aprender a solidariedade. 
Os amigos contribuem para o desenvolvimento psicológico saudável, dão às crianças um sentimento de bem-estar e melhoram a autoestima/autoconfiança, ajudam o desenvolvimento intelectual e afectivo do indivíduo (Piaget), são factor de protecção social.
O processo de construção das amizades é também factor de preocupação, ansiedade e origina conflitos difíceis de ultrapassar. 
Como veremos, na adolescência, a amizade vai ser um dos aspectos fulcrais do desenvolvimento. 




22/05/15

Paradoxo



"Este programa tem aumento de despesa, mas também tem redução de despesa. Tem diminuição de receita, mas também tem aumento de receita", respondeu o líder socialista.

Já tinha percebido, isto é, não tinha percebido. Qualquer coisa serve. Não se pode rir, ou melhor, também se pode rir. Como aqui.
É o chamado paradoxo Costa.

(11-1-2016)
Costa perdeu as eleições mas também as ganhou !

20/05/15

Jovens adultos

Em 2012, o presidente Cavaco Silva lançou a iniciativa “Roteiros do futuro” tendo como preocupação pensar nas novas gerações e prepará-las para o futuro.
Os roteiros do futuro focalizam preocupações e problemas actuais do país: "Nascer em Portugal" sobre demografia, fecundidade e natalidade;  “Portugal na Balança da Europa e do Mundo”;  Para uma "Economia Dinâmica". O 4º roteiro, extremamente actual, sobre "Portugal e os Jovens - Novos Rumos, Outra Esperança", explorou os temas sobre participação política, emprego, lazer e cultura e mobilidade. 

A base da reflexão foi um estudo sobre jovens portugueses, num total de 1612 entrevistas a indivíduos com 15 anos e mais. 
Vou referir apenas algumas das conclusões principais do Relatório no que se refere à população jovem:
- As taxas de desemprego atingiram cerca de 1/3 da população jovem entre 15-24 anos, situação que arrisca tornar-se estrutural, considerando que mais de 50% dos jovens adultos desempregados entre 25-34 anos já se encontra nessa situação há mais de um ano.
- A maioria dos portugueses considera que a principal causa do desemprego juvenil é haver “cada vez menos empregos para quem está a entrar no mercado de trabalho”. 
- O valor da “estabilidade” e “segurança” no domínio do trabalho continuam a ser as orientações dominantes entre os mais jovens. 
Sobre a mobilidade estudantil e laboral, as novas gerações mais escolarizadas apresentam valores mais elevados de mobilidade estudantil internacional a nível do ensino superior. 
Atitudes perante a política: Os jovens estão acima da média nacional no que diz respeito à satisfação com a democracia, mas também são aqueles que menos procuram notícias sobre política, menos pertencem a partidos, participam pouco em associações cívicas (com excepção de grupos desportivos e associações juvenis e estudantis), e envolvem-se pouco em actividades cívicas e políticas. Quanto à identificação partidária, menos de um terço dos jovens afirma ter simpatia por um partido. 
- As actividades culturais e de lazer são mais praticadas pelos jovens... 
- A prática de actividades culturais e de lazer é em larga medida definida pelas condições culturais e socioeconómicas dos indivíduos. 

Estes indicadores não nos deixam descansados e Cavaco Silva considera: 
. os jovens precisam de “respostas concretas” e não de “meras palavras” para resolver os seus problemas;
.“Portugal não pode desperdiçar o imenso capital humano dos seus jovens”, e que “É essencial criarmos condições para atrair aqueles que, por diversos motivos, optaram por fixar-se no estrangeiro”;
. “é agora, em que os laços com o seu país ainda se mantêm vivos, que devemos fazer um esforço acrescido” para que regressem;
. se nada for feito, “o país perderá duplamente: por um lado, perde o investimento feito na formação de uma geração de excelência; por outro lado, perde o contributo desses jovens para, com o seu talento e a sua iniciativa, ajudarem Portugal a regressar a uma trajectória sustentável de crescimento económico e de criação de emprego e riqueza”;
. apesar de ser a geração “mais qualificada” de sempre, é também aquela que enfrenta os “grandes desafios": “Os jovens do nosso tempo terão de lidar com a incerteza de uma forma que não conhecemos no passado;
. mostrou-se ainda preocupado com “o actual estado de afastamento da juventude portuguesa em relação à vida colectiva do seu país”;

Os avisos estão feitos. Por isso não vale a pena fingir que não há interveção presidencial. Só por distracção, má vontade ou má fé.
É urgente tomar medidas em relação ao emprego dos jovens mas em particular merece cuidado especial o grupo dos jovens adultos, dos 25 aos 34 anos.