24/03/23

Respeitar os idosos


O psicólogo Erik Erikson definiu oito estádios de desenvolvimento psico-social sendo o oitavo correspondente à velhice
A resolução das crises características desta idade passa pelo equilíbrio entre a integridade e o desespero. Quer dizer, reconhecer sucessos e fracassos vividos como parte de um todo que constitui a nossa vida, como um sentimento de realização ou de desespero de uma vida insatisfatória e que já não se pode alterar.

O envelhecimento da população vem questionar-nos sobre as respostas que a sociedade cria, desenvolve e regula para que estas pessoas possam viver sem grande ansiedade o resto da suas vidas.
Segundo os dados dos censos de 2021, a percentagem de população idosa (65 e mais anos) representava 23,4%, da população. 
Por outro lado, o que também está a aumentar é a violência contra idosos.
Segundo os dados da APAV, em 2021, 1594 pessoas idosas foram vítimas de crimes.
Embora sujeitos a episódios de violência extremamente graves, apenas 35% dos idosos denunciaram o crime e apresentaram queixa contra os agressores.

Sofrem também a violência institucional. Nas últimas semanas tivemos notícias sobre alguns lares de idosos a funcionarem em condições verdadeiramente infra-humanas. 
Tudo isto faz (re)pensar no respeito que devemos aos idosos e nas estruturas para apoio de que necessitam. 
Estas notícias certamente não nos deixam indiferentes: E se fosse comigo? Sim, se fosse eu que estivesse num destes lares o que faria?

Muitos idosos - nem velhos nem trapos ou mesmo que velhos nunca são trapos - de facto, hoje, são activos e, apesar da idade, continuam a ter autonomia suficiente para não dependerem de ninguém e até contribuírem para o desenvolvimento da sociedade e das comunidades em que estão inseridos.
Mas outros são velhos com alguma forma de necessidade (dependência) física, psicológica, social, espiritual. 
Ao depararmos com estas notícias sobre lares a funcionarem em condições desumanas o que poderemos pensar ?
Será que é a resposta adequada ou apenas uma solução a que se recorre porque não há alternativa?
Se houvesse alternativa alguém escolheria passar os seus últimos dias num lar?
A vontade dos idosos é tida em conta quando se trata de tomar a decisão de ser colocado num lar?
Como é possível o que acontece em alguns destes equipamentos sem condições para as pessoas internadas?

Como fazer o balanço de que Erikson fala quando o idoso vive em condições socio-culturais bem diferentes daquelas que alguma vez pensou e tudo é favorável ao desespero ? Como resolver o dilema entre a integridade e o desespero, quando se é posto perante condições infra-humanas: fome, falta de cuidados elementares, falta de carinho, longe da família, longe de tudo e de todos ? Onde ficam os laços de toda uma vida ? Qual o lugar dos afectos ?
Também aqui “o silêncio tem voz”. É preciso respeitar os idosos e os direitos dos idosos e se a educação de cada um não chega para o fazer, a sociedade tem que ter mecanismos que os façam respeitar.


Até para a semana.

_____________________



_____________________
 



1 comentário:

  1. Bem haja, Dr. Carlos, pelo artigo Respeitar os idosos. Concordo com tudo o
    que foi dito por si. Artigo muito bem feito. Muito obrigado por tudo o que escreveu.
    Um abraço.
    Raúl Folgado

    ResponderEliminar