10/07/22

Porque hoje é Domingo - a meditação

 

 

Meditar é chique. Meditar está na moda. E ainda bem. É mais ou menos consensual que a meditação é uma terapia possível e necessária no meio das vidas plenas de agitação, maldade, desgraças, guerras, pandemia, falhanços da política nacional e internacional, quando vamos ao fundo e ou quando precisamos de calma... Meditar é  uma prática na qual a pessoa utiliza técnicas e realiza exercícios tendo como finalidade focar a atenção num objeto, num pensamento ou actividade tendo em vista a redução da ansiedade e a melhoria das emoções. Meditar é uma autêntica benção para todos nós, assuma uma ou outra forma, mais próxima da ciência ou mais fora de tudo o que seja racional. Meditar faz bem à saúde do corpo e da mente. Desde que os mecanismos psicológicos da sugestão e da auto-sugestão funcionem quem pode dizer o contrário? Neste ponto só deixo um conselho: não se deixe manipular e não se deixe levar na conversa mole de quem nem de longe nem de perto está interessado na sua saúde mas apenas na sua carteira. Se quiser correr menos riscos convém saber quem é o seu terapeuta. Se não, fique por sua conta e risco e depois não se queixe.
De facto, podemos meditar de várias maneiras. Uma delas é rezar. Sim, rezar é uma forma de meditação. Como foi definido e descrevi em outros locais como o "Terço cantado" e as "Ladaínhas" em S. Miguel d' Acha, no tempo de Quaresma:

Uma vez por semana, uma das melhores formas de meditação é a eucaristia dominical que como o nome indica é reconhecimento e acção de graças.
Para muitas pessoas esta é uma forma de meditação importante ou pelo menos com momentos de meditação importantes. É, aliás, para essas pessoas a única forma possível de a fazer.

Escolha o lugar adequado, depois de se sentar, fique confortável, com as costas direitas  e as mãos em cima dos joelhos, se preferir e puder, pode fechar os olhos.
Enquanto esperamos, podemos experimentar, como refere J. Main, a palavra "Maranata". Pronuncie cada uma das sílabas com igual cadência – Ma-Ra-Na-Ta - escute a palavra à medida que a repete devagar, mas continuamente. Não pense nem imagine nada de espiritual ou de outra ordem. 
Durante a liturgia, as repetições de frases, Kyrie, Sanctus, Agus Dei, a oração extraordinária do Pai nosso - se forem cantados em gregoriano melhor - de cânticos repetitivos de gestos e rituais quase  automáticos, são imprescindíveis para fazer esta meditação. Às vezes basta ouvir o órgão de tubos para sair para outra dimensão. Ou então um cântico repetitivo de um coro bem afinado:

"Nada te perturbe 
nada te espante
quem a Deus tem
nada lhe falta.
Nada te perturbe 
nada te espante
só Deus basta."

Este texto de Sta Teresa de Ávila é dos meus preferidos para este momento de profunda meditação, é repetido várias vezes e quantas mais vezes se repetir mais pode concentrar-se no que está a cantar ou, simplesmente, a acompanhar mentalmente. Até deixar de pensar nisso.
É fácil sentirmo-nos totalmente focados naquilo que estamos a fazer abstraindo de tudo o que nos possa distrair.
A igreja é, aliás, um sítio onde somos solicitados por todo o tipo de pensamentos sobre a nossa vida, dos mais práticos  e importantes aos mais inúteis... por isso estamos em permanente esforço de concentração naquilo que é o foco da actividade em que participamos. É, de facto, o sítio mais inadequado para virem ter connosco todos os pensamentos comuns ou obsessivos e automáticos que encontram ali o local propício para fugirem do inconsciente...
Mas, sendo assim, com esforço conseguimos, calmamente, voltar ao centro da nossa atenção: é o local e o momento de nos encontrarmos connosco e de nos perdoarmos a nós próprios e aos outros.
Sai de certeza de lá muito mais calmo, com uma tranquilidade inexplicável...

Quando se está envolvido neste ambiente deixa de ter relevo compreender o mistério da transubstanciação porque nunca vai saber racionalmente do que se trata, coisa que Maria Filomena Mónica questiona e parece ser determinante para a decisão de ter fé ou ser católica. Não se deixa de ser guiado e defensor do espírito científico e racional porque, neste caso, basta saber que Jesus disse o que disse.
Podemos fazer este exercício em qualquer ponto da fé em que nos encontremos, como catecúmenos, como cheios de fé ou em vias de perdê-la. Podemos esquecer-nos de tudo isso e pura e simplesmente passarmos uma hora de meditação.
Podemos meditar na leitura de hoje: quem é o meu próximo? A resposta veio em jeito de parábola:

Naquele tempo, um mestre da Lei levantou-se  e, querendo pôr Jesus em dificuldade, perguntou: “Mestre, que devo fazer para receber em herança a vida eterna?”
Jesus disse-lhe: “O que está escrito na Lei? Como lês?” Ele então respondeu: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração e com toda a tua alma, com toda a tua força e com toda a tua inteligência; e ao teu próximo como a ti mesmo!”
Jesus  disse-lhe: “Tu respondeste correctamente. Faze isso e viverás”.
Ele, porém, querendo justificar-se, disse a Jesus: “E quem é o meu próximo?”
Jesus respondeu: “Certo homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu na mão de assaltantes. Estes arrancaram-lhe tudo, espancaram-no, e foram-se embora, deixando-o quase morto.
Por acaso, um sacerdote estava descendo por aquele caminho. Quando viu o homem, seguiu adiante, pelo outro lado.
O mesmo aconteceu com um levita: chegou ao lugar, viu o homem e seguiu adiante, pelo outro lado.
Mas um samaritano, que estava viajando, chegou perto dele, viu e sentiu compaixão. Aproximou-se dele e fez curativos, derramando óleo e vinho nas feridas. Depois colocou o homem em seu próprio animal e levou-o a uma pensão, onde cuidou dele. No dia seguinte, pegou duas moedas de prata e entregou-as ao dono da pensão, recomendando: ‘Toma conta dele! Quando eu voltar, vou pagar o que tiveres gasto a mais’”.
E Jesus perguntou: “Na tua opinião, qual dos três foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?” Ele respondeu: “Aquele que usou de misericórdia para com ele”. Então Jesus lhe disse: “Vai e faze a mesma coisa”.

É de facto inacreditável: um samaritano! É mais uma provocação de Jesus. que nos apela a construir um mundo de convivência entre todos e a melhorar as nossas emoções e sentimentos relativamente aos outros o que significa melhorarmos em relação a nós próprios.

Se ainda não sabia, e eu não sei muito bem porque sou apenas aprendiz, ficou a saber que não precisa de ir muito longe nem de gastar muito dinheiro para poder meditar. Não precisa pertencer a nenhum grupo organizado, nem fazer meditação expressamente com esse objectivo. Pode fazê-la sozinho num dos locais mais tranquilos que encontra no seu caminho.
Não funcionou consigo ? Não tem importância, tente de novo. 


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