23/11/20

Popular ou populista

1. Até há pouco, uma das palavras mais ouvida na Comunicação social era neoliberalismo. No entanto, ultimamente, a palavra da moda parece ser populismo.

Procuremos então compreender um pouco melhor o que se entende por populismo.
Como já vimos na semana passada, geralmente, populismo é uma palavra aplicada à chamada direita política. Mas como também dissemos, o populismo não é de direita nem de esquerda ou se quisermos é tanto de direita como de esquerda.

Esta atribuição é uma generalização fácil.  Para Takis Pappas, trata-se de uma percepção simplista do populismo como uma política de “nós-contra-eles” que mistura populismo com política não democrática, especialmente de extrema direita. 
Ora tanto o comunismo, como outros regimes autoritários, baseia-se igualmente na divisão de "nós-contra-eles", a luta permanente de trabalhadores contra capitalistas. 
Podemos distinguir “democracia liberal”e "democracia populista".
A democracia liberal tem como caracteristicas principais:  a diferenciação entre vários grupos sociais, interesses como garantidos,  moderação e consenso, respeito pelo Estado de Direito e protecção das minorias. 
A “democracia populista” tem exactamente as características opostas: vê a sociedade dividida em apenas duas categorias sociais, governantes e governados e polarização social e adversidade política,  ao mesmo tempo, também não respeita o Estado de Direito.
Podia ser vista apenas como o oposto da democracia liberal, portanto, como iliberalismo democrático. *

2. Na minha perspectiva trata-se apenas de uma democracia formal como acontece em muitas democracias actuais.** 

3. O populista divide a sociedade em povo e anti-povo. ***  Ele diz que pertence ao povo, fala em nome do povo e, obviamente, o populista faz sempre tudo pelo bem do povo. Veja-se o que se passa com os diversos populistas da América latina...

4. Também o Papa Francisco, em Fratelli Tutti, critica o populismo que distingue dos líderes populares.
(159) "Existem líderes populares, capazes de interpretar o sentir dum povo, a sua dinâmica cultural e as grandes tendências duma sociedade. O serviço que prestam, congregando e guiando, pode ser a base para um projeto duradouro de transformação e crescimento, que implica também a capacidade de ceder o lugar a outros na busca do bem comum. Mas degenera num populismo insano, quando se transforma na habilidade de alguém atrair consensos a fim de instrumentalizar politicamente a cultura do povo, sob qualquer sinal ideológico, ao serviço do seu projeto pessoal e da sua permanência no poder. Outras vezes, procura aumentar a popularidade fomentando as inclinações mais baixas e egoístas dalguns setores da população. E o caso agrava-se quando se pretende, com formas rudes ou subtis, o servilismo das instituições e da legalidade.
(160) Os grupos populistas fechados deformam a palavra «povo», porque aquilo de que falam não é um verdadeiro povo. De facto, a categoria «povo» é aberta. Um povo vivo, dinâmico e com futuro é aquele que permanece constantemente aberto a novas sínteses assumindo em si o que é diverso. E fá-lo, não se negando a si mesmo, mas com a disposição de se deixar mover, interpelar, crescer, enriquecer por outros; e, assim, pode evoluir."

Podemos, assim, perceber melhor o que distingue um líder popular  de um populista ?



Até para a semana.


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Takis Pappas, (2018), "Explaining Populism to My Son’s Class. "It's not right-wing. It’s not left-wing. So what is it exactly?"
"Basta uma rápida análise à política do mundo real, continuei, para ver que combinar “extrema direita” e “populismo” é estar mal informadao. Em primeiro lugar, nem todos os partidos populistas estão na extrema direita. O populismo de esquerda é abundante e, de facto, alguns dos partidos populistas de esquerda são do tipo de extrema esquerda, como mostram os casos de Chávez e seu sucessor Maduro na Venezuela, ou o partido governante Syriza na minha Grécia natal. Em segundo lugar, nem todas as políticas de extrema direita são populistas. Algumas são simplesmente anti-UE e nativistas, outras são puramente nacionalistas (por ex. o actual governo polaco) e outras totalmente fascistas, como o partido Aurora Dourada na Grécia."

** No sentido em que até podem cumprir as regras formais de separação de poderes, sufrágio livre, igual, universal, directo e secreto mas, na sua prática, não respeita ou falha na participação dos cidadãos.
"A vontade popular não se exprime apenas no voto. Formas diversas, expressas pelas organizações locais, socio-profissionais ou culturais dizem, à sua maneira, as exigências da soberania que reside no povo, que reside em todos nós, em todos os cidadãos." M. Lourdes Pintasilgo, Dimensões da mudança, p.81











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