16/11/20

Populismo - Memória e verdade


Há políticos que acham que podem definir quem é e não é democrático, quem é e não é populista.* Por tudo e por nada se fala de populismo. E quem fala assim, geralmente, refere-se à direita e/ou à extrema direita. Depois basta associar-se este discurso a líderes que  consideram populistas, como Trump, Bolsonaro ou líderes de partidos de direita europeus...

Ter memória e não a usar, ou usá-la selectivamente, não devia fazer parte do código de conduta de um político. Não é difícil constatar o esquecimento que existe, desde há muito, em relação a líderes de extrema esquerda, porque a sua vocação é ficarem no poder para sempre, em países da America latina ou nos governos-geringonça, em Portugal e Espanha, que fazem acordos com a esquerda e extrema esquerda. A extrema esquerda é, assim,  genericamente tolerada e até elogiada...

O populismo de esquerda existe e é tão pernicoso como o de direita.** "O populismo de esquerda é uma ideologia política que combina a retórica e os temas da esquerda e do populismo. Normalmente concentra sentimentos anti-elitistas, oposição ao sistema e afirma falar em nome do 'povo'.” Temas recorrentes do populismo de esquerda incluem o anticapitalismo, justiça social, igualitarismo, pacifismo e antiglobalização...  Como os populistas de direita também são nacionalistas, contra a imigração,  e estão em todos os movimentos e ideologias que chamam de fracturantes... normalmente tudo isto ligada a um sentimento antiamericano (Wikipedia)

O Papa Francisco, em Fratelli Tutti, diz uma coisa muito bonita. Diz que devemos "Recomeçar a partir da verdade":
(226) "Novo encontro não significa voltar ao período anterior aos conflitos. Com o tempo, todos mudamos. A tribulação e os confrontos transformaram-nos. Além disso, já não há espaço para diplomacias vazias, dissimulações, discursos com duplo sentido, ocultamentos, bons modos que escondem a realidade. Os que se defrontaram duramente falam a partir da verdade, nua e crua. Precisam de aprender a cultivar uma memória penitencial, capaz de assumir o passado para libertar o futuro das próprias insatisfações, confusões ou projeções. Só da verdade histórica dos factos poderá nascer o esforço perseverante e duradouro para se compreenderem mutuamente e tentar uma nova síntese para o bem de todos. De facto, «o processo de paz é um empenho que se prolonga no tempo. É um trabalho paciente de busca da verdade e da justiça, que honra a memória das vítimas e abre, passo a passo, para uma esperança comum, mais forte que a vingança»."

(227) "«... A verdade é contar às famílias dilaceradas pela dor o que aconteceu aos seus parentes desaparecidos. A verdade é confessar o que aconteceu aos menores recrutados pelos agentes de violência. A verdade é reconhecer o sofrimento das mulheres vítimas de violência e de abusos. (...) Cada ato de violência cometido contra um ser humano é uma ferida na carne da humanidade; cada morte violenta “diminui-nos” como pessoas. (...) A violência gera mais violência, o ódio gera mais ódio, e a morte mais morte. Temos de quebrar esta corrente que aparece como inelutável»."
Ou, como diz a psicologia: comportamento gera comportamento, ou seja, se for amor, gera amor.


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* A. Costa: "O PSD ultrapassou uma linha vermelha" (apoio parlamentar do Chega a um governo regional dos Açores composto por PSD/CDS/PPM).

** Carlos Moedas: "... o populismo de esquerda e de direita são igualmente maus", como no caso da Grécia de Tsipras/Varoufakis, ou, como na América Latina (Gloria Álvarez, por ex., aqui).






https://www.mixcloud.com/RACAB/crónica-de-opinião-de-carlos-teixeira-12-11-2020/




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