03/11/19

Muros de silêncio

The sound of silence - Paul Simon


... And in the naked light I saw
Ten thousand people, maybe more
People talking without speaking
People hearing without listening
People writing songs that voices never share
And no one dare
Disturb the sound of silence
"Fools" said I, "You do not know
Silence like a cancer grows
Hear my words that I might teach you
Take my arms that I might reach you"
But my words like silent raindrops fell
And echoed
In the wells of silence...

O silêncio é de ouro mas o silenciamento não. Nesse caso "é como um cancro que cresce".
David Draiman dos Disturbed, na sua versão de "The sound of silence", dá bem a ideia do dramatismo do silenciamento, talvez mais do que a versão original de Paul Simon.
Dá também Uma resposta ao silenciamento de Roger Waters sobre as ditaduras mais ferozes que têm grassado por este mundo.
A questão, afinal, não é "nós não precisamos de educação" mas, sim, precisamos de uma educação decente, nós precisamos de uma educação livre, crítica, sem os muros (quem diria!) de silêncio que Roger Waters quer impor aos outros, os muros da palavra, simbólicos, da liberdade, de poder cantar seja onde for para quem quiser ouvir.
As sociedades democráticas estão carregadas de defeitos, alguns dos líderes democráticos não são do nosso agrado, merecem todas as críticas porque e quando se põem a jeito, mas, e esta diferença é determinante, sabemos que serão substituídos pelos eleitores em próximas eleições.
Já não podemos dizer o mesmo dos pulhas que se mantêm no poder anos intermináveis, sem eleições democráticas, até caírem da tripeça, deixando os respectivos países ainda mais miseráveis.

Onde estão os que não se calam, os que não são corruptos, os corajosos, os que não são calculistas, os que não são hipócritas, os que não são habilidosos  e videirinhos... Onde estão ?
Onde está a comunicação social livre  e independente que dá voz aos que a não têm, que não vai atrás de modas de share ou lá o que é, mas que não passa da voz do dono ?
Onde estão os que não calam os criminosos, onde estão os procuradores e os juízes que devem fazer justiça ?

Há quantos anos vivemos com a extrema-esquerda no parlamento e na rua,  neste país e por todo o lado, e silenciamos  a sua filiação à mais profunda das desgraças, violências, que reinaram nos países, arruinaram povos, dizimaram etnias... que tiveram a infelicidade de saber o que ela é ?
Onde está a comunicação social - que tem nesta matéria uma responsabilidade particular - e os jornalistas independentes ?
intelligentsia parece esquecida destas realidades quando defende  não a "liberdade" mas o eufemismo das "mais amplas liberdades"? Foi assim em Portugal, é assim nos países onde a extrema-esquerda é quem mais ordena.
Onde estava Bernard Shaw quando os opositores de Estaline eram dizimados ?
Onde está Noam Chomsky quando ignora o "Arquipélago de Gulag"  e defende todas as ditaduras de esquerda ?

O silêncio não é de ouro quando é silêncio que fala alto através da linguagem das armas mas também de outras formas simbólicas ensinadas não apenas nos quartéis mas nas escolas e universidades. 
Paradoxalmente, assistimos a estas lutas interculturais  e  intraculturais, à violência mais feroz que fica dentro de fronteiras, dentro de casa, da luta de classes às guerras civis.

"Porque os outros se calam mas tu não", escrevia Sophia e Fanhais cantava (Porque). 
Entretanto, ninguém perturba o som do silêncio ...  trinta anos depois do muro de Berlim.


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