As neurociências têm sido fundamentais para compreendermos
o processo de ensino-aprendizagem. O interesse de educadores e psicólogos pelas
neurociências vem do facto de funções
como a atenção, senso-percepção, memória, orientação, consciência, pensamento, linguagem,
inteligência, comportamento, etc., serem fundamentais nesse processo.
No entanto, embora até possam parecer “teorias” simpáticas,
o lado negativo vem das crenças erróneas (1) que surgem
com alguma facilidade nas neurociências, se propagam à educação e se perpetuam no tempo, quando não há provas
que as fundamentem.
Em cada aluno que aprende, há um cérebro que
aprende. Um cérebro, dada a sua complexidade, como cada corpo ou cada
personalidade, é diferente de todos os outros pelo que seria de espantar a
uniformidade destes processos.
Se se criam, facilmente, ideias erróneas sobre
determinadas características do cérebro e da sua influência na nossa vida,
também as ciências do cérebro desafiam o senso comum (ideias contra-intuitivas) a propósito do ensino e da
aprendizagem:
- “O cérebro pode trabalhar nas suas costas”, isto
é, “pode adquirir informações mesmo quando não lhes está a prestar atenção e
não se apercebe disso”.
- O cérebro envelhecido pode aprender. Pensava-se
até há pouco tempo que a partir de determinada idade o cérebro “estava equipado
com todas as células que sempre teria e a idade adulta representava uma espiral
descendente de perda de células e de deterioração da aprendizagem, da memória e
do desempenho geral. No entanto, os trabalhos de investigação mais recentes
começam a mostrar que esta visão do cérebro é exageradamente pessimista: o
cérebro adulto é flexível, permite o crescimento de células novas e o aparecimento
de novas conexões pelo menos em algumas regiões como o hipocampo. Embora a aquisição
de novos conhecimentos se torne menos eficiente com a idade, não há nenhum limite
de idade para apender” (O cérebro que aprende, p. 21)
- Pode-se sempre melhorar o cérebro. A
ideia de comparar um educador/professor a um jardineiro é ajustada na medida em
que significa que o educador pode sempre melhorar o que já está no aluno.
Hoje não é possível ignorar, a escola e os
educadores não podem ignorar, a investigação realizada pelas neurociências em
problemas de desenvolvimento como o autismo, a dislexia e a perturbação de
hiperactividade com défice de atenção (PHDA). (p 18)
Sobre os mitos e crenças erróneas (2) das neurociências, “um estudo americano recente veio mostrar que as crenças e os mitos sobre o cérebro continuam largamente difundidos… mesmo entre os indivíduos que têm estudos em neurociências” ( le cercle psy, nº27, p.10) (3)
Talvez a
crença mais divulgada seja a de que só utilizamos 10% do cérebro. É uma crença completamente
falsa.
Isto não significa que não possamos melhorar
muito o que fazemos na sala de aula com o potencial dos alunos ainda desconhecido.
Uma coisa é a possibilidade de melhoria das
aprendizagens e dos comportamentos outra a de haver uma percentagem de cérebro que
é utilizada.
Outra crença muito divulgada é a de que
o hemisfério esquerdo é lógico e
analítico e o hemisfério
direito criativo.
Esta crença daria origem a dois tipos de
personalidade distintos: pessoas que pensam que são mais racionais
e objectivas e outras mais intuitivas e criativas.
Outra crença refere que os alunos têm formas de
aprender visuais, auditivas o cinestéticas.
Assim seriam melhores alunos se fossem ensinados
conforme o seu estilo. O que acontece é que a aprendizagem é mais forte quando
resulta da utilização de vários sentidos.
Em educação, é necessário que se utilize a informação de forma crítica. Os dados fundamentados das neurociências não podem ser ignorados mas a discussão sobre a educação é necessária, contra as crenças ou os formatos supostamente educativos das televisões.
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(1) "Neuromito" (Alan Crockard) (2) Nueve falsos mitos sobre el cerebro
(3) Kelly Macdonald et al., "Dispelling the Myth: Training in Education or Neuroscience Decreases but Does Not Eliminate Beliefs in Neuromyths"
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