17/01/18

"Como viver com 24 horas por dia"



É o drama das pessoas. Embora também possa haver uma minoria, certamente  cheia de sorte, que não tem qualquer dificuldade em viver com 24 horas por dia.
O que é facto é que se passa a vida a correr e não sabemos como viver de outro modo, mas mesmo essa correria não nos permite fazer tudo o que queríamos, e, cada vez mais, temos que deixar tarefas para o dia seguinte, procrastinar, porque não chega o tempo que temos, embora seja o tempo todo de que dispomos
Em geral, passamos oito horas no trabalho, oito horas a dormir e ainda sobram  oito horas.  Investir todas as horas  num  emprego de que não se gosta em que a rotina é levantar-se, ir trabalhar, voltar para casa, descontrair e ir para a cama, ou, como dizem os franceses  "métro, boulot, dodo", não parece ser o mais acertado. Como adultos, passar tantas horas a dormir também não. Quantas vezes chegamos ao fim do dia, ao fim de um programa de televisão, etc., e pensamos como foi possível ter desperdiçado este tempo.Vezes sem conta dizemos: se tivesse tempo estudava, dedicava-me a uma actividade cultural, escrevia um romance ou praticava desporto.
Como viver  verdadeiramente com esse capital de horas em vez de simplesmente existir?
Em 1910, Arnold Bennett escreveu “Como viver com 24 horas por dia", sobre como tirar o máximo partido do seu dia e como atingir o equilíbrio entre o trabalho e a vida.
Diz-se que tempo é dinheiro mas  é mais do que dinheiro.  O tempo é o nosso "bem mais precioso. Um bem extremamente singular que é oferecido de uma forma tão singular como o próprio bem! Note-se! Ninguém lho pode tirar. Não é passível de ser roubado. E ninguém recebe mais ou menos do que você recebe". "Falamos de uma democracia ideal! No reino do tempo não existe aristocracia pela riqueza, nem aristocracia intelectual."  (p.19-20)
Ainda não havia televisão nem se sonhava com a existência da internet, foi escrito há mais de 100 anos mas apresenta  uma das   preocupações da sociedade actual: a gestão do tempo.
Bennett alerta-nos que não há receitas gerais, cada caso é um caso: "Só posso tratar de um caso e esse não pode ser o caso típico, porque isso é coisa que não existe, tal como não existe o homem comum. Cada homem e cada caso é especial". (p. 41)
Bennett discorre sobre como aproveitar ao máximo o tempo que temos disponível. Ninguém é dono do tempo nem nós próprios, temos apenas 24 horas  e não posso acrescentar ou retirar uma hora, um minuto. Que fazer?
Controlar a mente é uma tarefa importante. "As pessoas dizem: «Não conseguimos evitar os pensamentos». Mas conseguimos." E como tudo se passa dentro do nosso cérebro temos de ser capazes de o controlar... “Sem capacidade de concentração - isto é, sem a capacidade de ditar ao cérebro a sua tarefa e garantir que ele obedece – a verdadeira vida é impossível. O controlo da mente é o primeiro elemento de uma existência plena“. (p. 65)
"É inútil ter uma mente obediente  a não ser que se aproveite ao máximo a sua obediência". Por isso, depois de controlar a mente devemos ter uma atitude reflexiva", ou seja, "o estudo do próprio eu." (p.73)
É importante perceber a causa e efeito das coisas; o interesse pelas artes, pela literatura. "Mas  nada é banal" ... Não precisa dedicar-se às artes, nem à literatura para viver plenamente.
Bennett, escreve sobre os perigos a evitar: tornar-se "a mais odiosa e mais insuportável das pessoas - um petulante. Um petulante é um tolo pomposo que saiu para um passeio cerimonial, e, sem dar por isso, perdeu uma parte da sua roupagem, especialmente, o sentido de humor.”(P.105)
Outros perigos:  ficarmos amarrados a um programa; criarmos uma política de pressa, estando cada vez mais obcecados pelo que temos de fazer a seguir.
"O último e principal perigo – o risco de um fracasso no início da tarefa". “O impulso não deve ser excessivo. Que o ritmo da primeira caminhada seja até absurdamente lento mas que seja tão regular quanto possível”..."E depois de decidir realizar uma certa tarefa termine-a ainda que o preço seja o tédio e o desgosto. O que ganha em autoconfiança por ter realizado uma tarefa cansativa é imenso." (p.108)


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