É o drama das pessoas. Embora também possa haver uma minoria, certamente cheia de sorte, que não tem qualquer
dificuldade em viver com 24 horas por dia.
O que é facto é que se passa a vida a correr e não sabemos como viver de
outro modo, mas mesmo essa correria não nos permite fazer tudo o que queríamos, e,
cada vez mais, temos que deixar tarefas para o dia seguinte, procrastinar, porque não
chega o tempo que temos, embora seja o tempo todo de que dispomos
Em geral, passamos oito horas no trabalho, oito horas a dormir e ainda sobram oito horas.
Investir todas as horas num emprego de que não se gosta em que a rotina é
levantar-se, ir trabalhar, voltar para casa, descontrair e ir para a cama, ou, como
dizem os franceses "métro, boulot, dodo",
não parece ser o mais acertado. Como adultos, passar tantas horas a dormir também não. Quantas vezes chegamos ao fim do dia, ao fim de um programa de televisão, etc., e pensamos como foi possível ter desperdiçado este tempo.Vezes sem conta dizemos: se tivesse
tempo estudava, dedicava-me a uma actividade cultural, escrevia um romance ou praticava desporto.
Como viver verdadeiramente com esse capital de horas em vez de
simplesmente existir?
Em 1910, Arnold Bennett escreveu “Como viver com 24 horas por dia", sobre como
tirar o máximo partido do seu dia e como atingir o equilíbrio entre o trabalho
e a vida.
Diz-se que tempo é dinheiro mas é
mais do que dinheiro. O tempo é o nosso
"bem mais precioso. Um bem extremamente singular que é oferecido de uma
forma tão singular como o próprio bem! Note-se! Ninguém lho pode tirar. Não é passível de ser roubado. E ninguém recebe
mais ou menos do que você recebe". "Falamos de uma democracia
ideal! No reino do tempo não existe aristocracia pela riqueza, nem aristocracia intelectual." (p.19-20)
Ainda não havia televisão nem se sonhava com a existência da internet, foi escrito há
mais de 100 anos mas apresenta uma das preocupações da sociedade actual: a gestão do tempo.
Bennett alerta-nos que não há receitas gerais, cada caso é um caso: "Só posso tratar
de um caso e esse não pode ser o caso típico, porque isso é coisa que não existe,
tal como não existe o homem comum. Cada homem e cada caso é especial". (p. 41)
Bennett discorre sobre como aproveitar ao máximo o tempo que temos disponível.
Ninguém é dono do tempo nem nós próprios, temos apenas 24 horas e não posso acrescentar ou retirar uma hora, um
minuto. Que fazer?
Controlar a mente é uma tarefa
importante. "As pessoas dizem: «Não conseguimos evitar os pensamentos». Mas conseguimos." E como tudo se passa dentro do nosso cérebro temos de ser
capazes de o controlar... “Sem capacidade de concentração - isto é, sem a capacidade de ditar ao cérebro
a sua tarefa e garantir que ele obedece – a verdadeira vida é impossível. O
controlo da mente é o primeiro elemento de uma existência plena“. (p. 65)
"É inútil ter uma mente obediente a não
ser que se aproveite ao máximo a sua obediência". Por isso, depois de controlar a mente devemos
ter uma atitude reflexiva", ou seja, "o estudo do próprio eu." (p.73)
É importante perceber a causa e efeito das coisas; o interesse pelas artes, pela literatura. "Mas
nada é banal" ... Não precisa dedicar-se às artes, nem à literatura para
viver plenamente.
Bennett, escreve sobre os perigos a evitar: tornar-se "a mais odiosa e mais insuportável das pessoas
- um petulante. Um petulante é um tolo pomposo que saiu para um passeio
cerimonial, e, sem dar por isso, perdeu uma parte da sua roupagem, especialmente,
o sentido de humor.”(P.105)
Outros perigos: ficarmos amarrados a
um programa; criarmos uma política de pressa, estando cada vez mais obcecados
pelo que temos de fazer a seguir.
"O último e principal perigo – o risco de um fracasso no início da tarefa". “O
impulso não deve ser excessivo. Que o ritmo da primeira caminhada seja até
absurdamente lento mas que seja tão regular quanto possível”..."E depois de decidir realizar uma certa tarefa termine-a ainda que o preço seja o
tédio e o desgosto. O que ganha em autoconfiança por ter realizado uma tarefa
cansativa é imenso." (p.108)
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