02/07/14

A sede de poder




Há pessoas que vivem para obter o poder e uma vez obtido guardam-no a qualquer preço; muitas vezes fazem-no em forma de sucessão mesmo quando se dizem republicanas.
Numa perspectiva psicanalítica há aqueles que aspiram desde crianças a ser dirigentes e os que não tem consciência desta aspiração. 
Desde muito cedo se faz esta distinção. O recém-nascido é naturalmente narcisista e megalómano, sente-se o centro do mundo. Enfrenta a vida pelo choro e gritos que é o meio de se fazer ouvir mas à medida que cresce, vai, sob pressão da realidade, aprender a recalcar estes desejos todos poderosos e aprender a aceitar obedecer.
No entanto, alguns indivíduos não chegam a este princípio da realidade. Não crescem.
Durante a sua educação na infância, encontram o motor da sua corrida ao poder: da relação com a mãe aprendem uma confiança e segurança que engrandece o seu narcisismo e da relação com o pai uma vontade megalomaníaca de provar do que são capazes.
Jean-Pierre Friedman diz que as pessoas do poder apresenta um certo número de pontos comuns durante a infância: uma figura maternal protectora, adorável, uma figura paterna muito distante ou ausente. 
Tornam-se adolescentes e adultos muitas vezes brilhantes que vão canalizar toda a sua inteligência e energia apenas para um objectivo: dominar, ter uma parcela de poder, ou, simplesmente, todo o poder.
Esta sede de poder pode ocupar toda a vida mesmo que seja necessário sacrificar muito para se aproximar ou chegar a este objectivo. É colocar a mão numa espécie de engrenagem na qual o poder age como uma droga: quanto mais se gosta mais se quer.
Até ao ponto de não se poder passar sem ele.
É o caso de políticos que acumulando derrotas e travessias do deserto persistem no seu « poder de sofá » e nunca se reformam. Porque para eles o poder simboliza a longevidade da vida, brilha como um símbolo da eternidade. Acabam por confundir a sua existência com a sua função.
Não vale a pena pensar que isto acontece só aos outros.
Há pessoas que por acaso da vida podem ver-se investidas de poder porque estes desejos arcaicos não desapareceram totalmente. E ninguém está ao abrigo de possíveis derivas que emanam do exercício do poder.
Uma segunda característica dos detentores de poder é que eles identificam o poder com a vida. O poder é um símbolo de eternidade. É isto que querem manter a qualquer preço: não podem aceitar a ideia de morte nem a ideia de que o mundo lhes sobreviva. 
Agem como crianças persuadidos de que o mundo lhes obedece. A visão do poder destas pessoas é antes de tudo uma prova de imaturidade.
No entanto, os candidatos ao poder fazem fila para poderem vir a conquistar o poder. É que a conquista do poder em período eleitoral é uma ocasião extraordinária de viverem o seu narcisismo. Durante alguns meses vai-se falar deles.
Mas apenas têm uma convicção: chegar ao poder. Para ficarem com boa consciência escolhem causas. 
E acabam por se identificar com as causas que escolhem. Certamente escolhem as causas em que acreditam mas à medida que progridem nas suas conquistas do poder, as suas convicções passam para segundo plano. No final, não é a convicção que conta mas a vitória.
Pode haver homens de poder ideais se, por um processo de sublimação, pudessem saciar o seu narcisismo e a sua megalomania para o bem da humanidade. Só que a história mostra que há raras excepções e que o poder leva forçosamente ao desejo de abusar.
Donde a superioridade do regime democrático fundado sobre o desafio de limitar o poder.
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Condensado e adaptado das entrevistas a Jean-Pierre Friedman, realizadas por Anne-Laure Gannac e Laurence Ravier (Psychologies)

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