“Eles” é o termo usado pelos cidadãos para se distinguirem do poder ou das pessoas que ocupam o poder e normalmente o usam e o abusam.
"Eles" é o termo usado pelos poetas e cantores como José Afonso que cantava "eles comem tudo…"
"Eles" são eventualmente a burguesia de outros tempos e os que não se consideram assim mas que estão nos mesmos lugares com designações mais subtis para mostrarem a sua distinção: gestor de topo, alta administração.
"Eles" são os que se acham sempre diferentes dos outros para melhor porque têm, e se não têm merecem ter, aquele estatuto quer levem as empresas ao sucesso quer as levem à falência.
"Eles" têm a dupla moral, colectiva e a individual, desde que os interesses pessoais se mantenham , a crise que seja paga por todos, com "equidade".
"Eles" estabelece a clivagem cada vez mais profunda entre o poder e o povo.
Fomos ouvindo falar, durante muitos anos, destes macroprocessos e microprocessos (P.Pereira). Macroprocessos que conhecemos pela comunicação social e alguns microprocessos que se passam na nossa vida laboral e de que nem sequer já nos admiramos.
Desta vez, dado o estado de necessidade do país e, pelo que disse P. Passos Coelho, seria desejável e aconselhável que fosse diferente.
A insensibilidade leva-os a justificar como coisa normal o que acontece. Justificam as escolhas, os perfis, os salários, os prémios, como se se pudesse justificar com trabalho dependente prémios de milhões de euros.
A alternativa não está no populismo. Os populistas aproveitam para fazer greves, manifestações, indignações e revoluções. É simples perda de tempo trocar uns pelos outros porque são sempre "eles". Não muda nada. Estão em qualquer quadrante político da esquerda à direita conforme muda o poder.
A elevação do debate anda à volta de saber quem fez/faz mais nomeações: mais dois aqui menos quatro acolá. E, apenas um exemplo, queixam-se...
Quantas mais explicações mais ficamos convencidos do contrário do que dizem. Algumas explicações acabam até por ser perturbadoras como a nomeação baseada no critério das caras mais conhecidas.
O problema é outro. É a rede da burocracia . Claro que são sempre os mesmos desde há trinta anos.
Como se faz um gestor de topo ?
Não é pois surpreendente verificar que os membros desse gabinetes têm características sociais sempre superiores às dos outros funcionários.
Tornam-se assim capazes de vigiar de muito perto o funcionamento dos principais órgãos administrativos colocados sob a direcção do ministro e quando necessário substituí-los na preparação e no pôr em prática das principais decisões. (Jaques Sallois e Michel Cretin, "O papel social dos altos funcionários", in Poulantzas, N. - A crise do estado, pag. 195)
Como já referia Alain (1868-1951),A partir de certo ponto cria-se uma cristalização quase impossível de ser dissolvida, tanto mais que o corpo oligárquico enamorado do poder escolhe os seus membros com cuidado cada vez maior. (V. Cunha Rego, "Os burocratas", Os dias de amanhã, pag 41)
esse é um dos defeitos de qualquer organização política. Com efeito uma organização política tem um carácter forçosamente oligárquico na democracia e a propensão dos seus dirigentes para ultrapassar os seus poderes.
E conclui que os cidadãos devem obedecer ao Estado mas sem o respeitar e sem ter admiração pelos seus dirigentes.
É nesse ponto que me encontro.
Como para António Gedeão, "eles" são os mesmos que não sabem nem sonham que o sonho comanda a vida.
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