15/04/10

O pai social – o nascimento da autoridade


A autoridade dos pais nasce das interacções que se estabelecem entre a mãe e o filho e do papel que o pai vai marcando nessa relação, ao longo do desenvolvimento.
A verdadeira autoridade dos pais numa família vem dessa relação que é apreendida pelos filhos, isto é, do modelo que os pais representam para os filhos.
Sabemos, desde há muito tempo, que “as crianças precisam mais de modelos do que de críticas” (Joubert, 1842, referido por Bettelheim, B.)  De facto, “a melhor e provavelmente a única maneira de nos tornarmos uma pessoa disciplinada é imitarmos alguém cujo exemplo admiramos”. (1)
A nossa experiência tem-nos também ensinado que para alguns jovens não há modelos dentro das famílias que eles possam seguir. É muito interessante verificarmos isso, no trabalho com os alunos do 9º ano, quando perguntamos “quem admira, se tem um modelo para a vida futura ou quem admira quando for mais crescido”.
Aparece algumas vezes a resposta da "admiração pelos pais" mas, geralmente, os adolescentes não têm qualquer referência neste campo.
Quando as crianças vão crescendo interessam-se sempre por saber onde os pais trabalham, qual a sua profissão. Devem saber do que vivem e o que lhes interessa. Quando os filhos não perguntam devem ser os pais a iniciar esse diálogo.
Encontramos na nossa experiência crianças que pouco sabem dos pais e poucas são as referências a seu respeito.
O trabalho parental deve consistir, assim, em dois aspectos fundamentais:
Apresentar-se como modelo às crianças interessando-se pela sua vida: saber os seus interesses, os seus gostos, os seus amigos, os seus jogos e com quem joga, o que lê e os seus programas preferidos e como assimila isso tudo, qual a sua atitude e comportamento face à escola e aos professores, quais são as suas dificuldades.
E isto faz-se sem interrogatórios e sem espionagem, do tipo bisbilhotar o diário, ler a correspondência e outras formas de intrusão…
É necessário o diálogo entre os elementos da família. Neste diálogo pode surgir a necessidade de ajuda para saber como se comportar. Quando esta ajuda não é pedida pelos filhos, é necessário ir ao seu encontro.
Às vezes os filhos apenas estão à espera de uma opinião, fazer um jogo com o pai ou a mãe ou até à espera de uma ordem.
Em segundo lugar, a ajuda não deve substituir a acção da criança: É necessário que a criança às vezes resolva os seus problemas sozinha e se habitue a ultrapassar as dificuldades.
A criança deve saber que será sempre apoiada, principalmente nas dificuldades que a ultrapassam, ao mesmo tempo que se exige que assuma as suas responsabilidades.
A autoridade do professor na escola será então vista pela criança de outra forma, com autonomia mas com confiança.
Quando a criança entra para a escola, os dados da personalidade da criança não estão definitivamente lançados, mas muito trabalho, bem ou mal feito, já faz parte da sua vida.
Se este trabalho foi bem feito, então não é necessário falar de bullying, nem de sexting, nem de outras formas de falta de autoridade parental... porque a falta de autoridade da escola, do professor, é falta de autoridade parental.
Fica a pergunta: se fosse perguntado ao seu filho “quem admira?”, acha que ele ia responder: admiro o meu pai ou admiro a minha mãe ?

(1) Bettelheim, B. (1994), Bons Pais - O sucesso na educação dos filhos, Venda Nova: Bertrand Editora, pag. 177.
     

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