28/08/09

As listas

  
Junho de 1871.
“Lentamente a lista da maioria vai-se formando em Lisboa: os pretendentes são numerosos, intriga-se, pede-se, alcançam-se cartas, mente-se, lisonjeia-se, adula-se. Os amigos íntimos agitam-se em volta do ministro, como um bando de pardais em torno de um saco de espigas. Um tem um primo que casou; outro sabe de um folhetinista que tem talento e a língua fácil; outro quer um cunhado; outro tinha um homem a que deve uns centos de mil reis, mas dispensa a candidatura para esse ladrão se o ministro fizer esse ladrão recebedor de comarca. Depois os círculos não são prometidos fixamente: os candidatos são mudados como figuras de um jogo de xadrez. A um a que se prometeu o círculo A, dá-se o governo civil de B – como indemnização. Tira-se a C a candidatura prometida porque se descobre que C é um traidor, pertence à oposição. Mas dá-se a E que foi quem denunciou C. Às vezes é um influente pelo círculo X, que, em paga da sua influência, pede que seu genro venha pelo círculo Z, onde é proprietário.
- Mas o círculo Z está prometido a Fulano, que é um professor distinto, um publicista. Seu genro tem pelo menos algum curso ?
- Meu genro não tem curso nenhum - mas eu tenho influência. O jornal da localidade já provou que ele era um animal – meu genro espancou a direcção. “

Eça de Queiroz, Ramalho Ortigão, (2004), As Farpas – Crónica mensal da política, das letras e dos costumes, PRINCIPIA, Publicações Universitárias e Científicas, pag. 58.

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