Foi publicado, em Abril de 2009, o livro de Daniel Pennac “Mágoas da escola”[1]
É um livro que relata a história de um mau aluno mas que acaba por se tornar professor.
É um livro que recomendo, se me permitem, a todos os pais e professores e que não sendo um tratado de pedagogia é sobre o essencial da pedagogia.
“Mágoas da escola” fala dos maus alunos, aqueles alunos em que ninguém acredita, que não vão ser nada nem ninguém na vida. São os alunos sem futuro.
Não é um livro sobre a escola como refere o autor, mas um livro”sobre cábulas, sobre a dor de não aprender”.(pag 22)
Revejo todos os anos que tenho dedicado ao trabalho com muitas destas crianças.
Revejo o sonho deste cábula:
“Tenho um sonho….
Estou sentado de pijama, na berma da minha cama. Grandes algarismos de plástico, como aqueles com que brincam as crianças muito pequenas, estão espalhados pelo tapete, à minha frente. Tenho de “ordenar aquele algarismos”.
É o enunciado. A operação parece-me fácil, estou feliz. Debruço-me e estendo os braços para os algarismos. Apercebo-me de que as minhas mãos desapareceram. Não há mãos dentro do pijama. As minhas mangas estão vazias. Não é o desaparecimento das mãos que me aterroriza, é não poder alcançar os algarismos para os ordenar. O que seria capaz de fazer.”
Já falámos do final do ano lectivo e dos problemas que vêm com a avaliação.
Os interventores da escola continuam a não compreender esta coisa tão simples que é haver alunos que não são capazes de adequar o seu trabalho às necessidades do currículo.
Os tratados de pedagogia esquecem-se muitas vezes apenas deste pormenor.
E depois, concordo, temos a atribuição da constituição de bandos aos fenómenos dos subúrbios, às questões económicas, às questões sociais, ao desemprego, aos excluídos, à economia paralela e aos tráficos de toda a ordem…
Mas esquecemo-nos da única coisa sobre a qual podemos agir: “a solidão e a vergonha do aluno que não compreende, perdido num mundo em que todos os outros compreendem”.
Mas é preciso mudar também as expectativas dos pais, que confrontados com o filho que tem dificuldades, às vezes, são os primeiros a discriminá-lo.
Pennac fala dos professores salvadores e dos professores que dão estes alunos como casos perdidos.
“Os professores que me salvaram - e que fizeram de mim um professor - não tinham recebido nenhuma formação para esse fim. Não se preocuparam com as origens da minha incapacidade escolar. Não perderam tempo a procurar as causas nem tampouco a ralhar comigo. Eram adultos confrontados com adolescentes em perigo Pensaram que era urgente. Mergulharam de cabeça. Não me apanharam. Mergulharam de novo, dia após dia, mais e mais…acabaram por me pescar. E muitos outros como eu repescaram-nos literalmente. Devemos-lhes a vida” ( pag. 36).
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[1] Pennac, Daniel (2009), Mágoas da escola, Porto: Porto Editora
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