______________________
20/02/25
Chorar
12/02/25
A cultura portuguesa - Os melhores dos melhores
Crítica feita sobretudo de humor. Rir das nossas virtudes e defeitos é um bom princípio para sabermos situar-nos no mundo em que vivemos, e não nos tornarmos insuportáveis para os que nos estão próximos...
Ser melhor significa também que se pode ser crítico com total liberdade, sem medo de ser incomodado pelos censores estatais ou informais ou pelos agentes do cancelamento...
Algumas das nossas “elites” não têm esta capacidade. Como, p.ex., o despautério de uma esquerda globalista que diz os maiores disparates, sem se rir, da cultura portuguesa.
Felizmente, temos outras vanguardas em que só os melhores têm esta capacidade crítica. De Gil Vicente a Eça de Queirós, de Eduardo Lourenço a Miguel Esteves Cardoso.
Um Alípio Abranhos do séc. XX pode passar pela Câmara Municipal, Governo ou Parlamento. Temos vindo a divertir-nos com episódios dos passantes por esses sítios de poder sem qualquer noção do sentido de estado ou do ridículo...
As “Aventuras” de Miguel Esteves Cardoso – (1ª parte - As minhas aventuras na República Portuguesa", Independente Demente) mostram como os portugueses têm humor suficiente para se verem ao espelho e serem capazes de sorrir de si próprios e em especial dos políticos que os governam.
Por exemplo, a “Aventura do sofrer” (p. 42): “Em Portugal sofre-se muito. Eu sofri muito. Tu já sofreste muito. Só Deus sabe o que ele já sofreu. De resto, sofre-se muito neste país. O próprio país sofre. Sofre só por si com ponto final. E sofre coisas exteriores a si. Sofre de dúvidas. Sofre quedas. De escadotes. De cabelos. Sofre alterações. Sofre cataclismo. Sofre de sucessivas. Sofre de chofre.
Esta afirmação sofre de contra-argumentação.”...
Até para a semana.

08/02/25
A cultura portuguesa
- O Português é sobretudo profundamente humano, sensível, amoroso e bondoso, sem ser fraco. Não gosta de fazer sofrer e evita conflitos, mas, ferido no seu orgulho pode ser violento e cruel.
- A capacidade de adaptação é uma das constantes de alguma portuguesa. “o português adapta-se a climas, profissões, a culturas, idiomas e a gente de maneira verdadeiramente excecional”...
- “Outra constante da cultura portuguesa é o profundo sentimento humano, que assenta no temperamento afectivo, amoroso e bondoso. Para o português o coração é a medida de todas as coisas.”
________________________________
(1) Reacção de uma eurodeputada, Ana Catarina Mendes (do PS), à posição do líder do seu partido, Pedro Nuno Santos, que, num momento de lucidez, referiu que deve haver adaptação dos imigrantes à cultura do país que os acolhe (aculturação).
(2) Para Vargas Llosa, a cultura estabeleceu sempre categorias sociais entre aqueles que a cultivavam e aqueles que a desprezavam ou ignoravam ou dela eram excluídas por razões sociais e económicas. Em todas as épocas havia pessoas cultas e incultas e entre os dois extremos pessoas mais ou menos cultas ou pessoas mais ou menos incultas. Mas no nosso tempo tudo isso mudou, toda a gente é culta, e há uma cultura para todos os disparates...
E isto já é outra coisa!
(3) Alguns trabalhos, mais eruditos ou mais populares, sobre a cultura portuguesa que têm passado nos media, como, por exemplo: "O Tempo e a Alma", com José Hermano Saraiva; "Visita Guiada", com Paula Moura Pinheiro; "Primeira Pessoa", com Fátima Campos Ferreira; "Terra Nossa", com César Mourão, "A nossa cultura" - Observador; "Portugal fenomenal", com Tiago Góes Ferreira... mostram algumas das várias vertentes de abordagem da cultura portuguesa.
30/01/25
Pais heróis
Nos tempos actuais decidir ter filhos (1) é também escolher um percurso de vida difícil. Mas o que é interessante nessa escolha é que mesmo sabendo que esse caminho tem momentos difíceis, há gente que arrisca ser pai e ser mãe.
Estes pais sabem como vão ser os seus dias, todos os dias. Mesmo sem livro de instruções, muitos pais sabem que o desenvolvimento passa por fases mais calmas ou mais agitadas mas sempre complexas.
Não há dias de trabalho e dias de descanso, que os filhos não querem saber se é uma coisa ou outra. Também não há fins de semana com escapadinhas românticas mas carregados de actividades desportivas e artísticas...
Todos os dias começam muito cedo e por isso é necessário acordar muito cedo e obrigam a impressionante azáfama de toda a família para cumprir todas as tarefas matinais.
As tarefas para hoje começaram ontem ou até na semana passada. Ontem à noite já foi preciso dar o banho, fazer os TPC, quando há, e há muitas vezes, preparar a mochila com os materiais necessários .
De manhã, fazer a higiene, pequeno almoço, preparar o lanche, verificar a pasta, vestir ,"correr" para apanhar o autocarro, ou esperar pela carrinha do colégio, esperar... sempre esperar...
Um beijo e um adeus e de imediato começam as preocupações: será que vai tudo correr bem na escola ?
À tarde, depois do trabalho, o dia ainda está para durar. Explicações, actividades: futebol, natação, música, ...
Quando chegam ao fim do dia, o corpo já só pede um pouco de descanso mas sabem que o não vão ter, pelo contrário, pode começar aí a parte mais difícil do dia: a noite...
Depois de nascer um filho, nada fica igual. O planeamento da vida e da vida profissional é feito em função dos filhos, da escola e ou do colégio que frequentam, os horários são feitos a partir do horário escolar, as férias são marcadas em função das férias escolares, tudo tem que se fazer em função do calendário e horário escolar.
Com um filho, já é difícil, Com mais filhos mais difícil se torna. A dificuldade é sempre crescente porque vão ter turmas diferentes e por vezes escolas diferentes.
Pede-se aos pais toda a disponibilidade, todo o tempo, compreensão, calma e bom senso...
O actual ME tem vindo a manifestar preocupação em harmonizar a vida das famílias com a vida escolar. Nesse sentido foi definido um calendário escolar plurianual até 2027-28. (2)
Também permite que os estabelecimentos de ensino funcionem por semestres (3) em vez dos tradicionais períodos ou trimestres. E já há escolas a funcionar neste regime.
É de saudar qualquer medida para tentar melhorar a vida das famílias.
No entanto, quando os pais têm filhos nos dois regimes, por trimestres e por semestres, pode resultar uma dificuldade acrescida na gestão da vida familiar...
Em meu entender, no caso do calendário escolar, a generalização e uniformização do funcionamento por semestres, tornava mais fácil a vida dos pais.
Até para a semana.
_________________________
(1) A Fundação F. Manuel dos Santos que tem vindo a analisar a natalidade em Portugal refere alguns dados preocupantes:
- “Em seis décadas, o número de nascimentos em Portugal caiu para menos de metade.
- No início dos anos de sessenta, havia mais de 200 mil nascimentos por ano no país. Atualmente, esse número é inferior a 86 mil...
- Em 1982, o número médio de filhos por mulher caiu abaixo de 2,1, considerado o limite da substituição de gerações. Na década seguinte, em 1994, esse indicador ficou, pela primeira vez, abaixo de 1,5 filhos por mulher, valor que é considerado crítico para a sustentabilidade de qualquer população, inviabilizando uma recuperação das gerações no futuro se tal nível se mantiver durante um longo período.
- mães e pais têm filhos cada vez mais tarde. as mulheres têm, em média, o primeiro filho aos 31 anos”
As motivações para não ter filhos devem-se a:
- Os custos financeiros associados às crianças são a causa mais importante, apontada por cerca de 67% das pessoas.
- a dificuldade em conseguir um emprego. Esta causa é mais relevante para os homens (59%) do que para as mulheres (48%).
- não querer ter a responsabilidade de ter filhos e o facto de sobrar menos tempo para outras coisas importantes na vida.
(2) Despacho 8368/2024, de 6 de Julho, do MECI Fernando
(3) Uma medida que, há várias décadas, já era proposta pelo Prof. Manuel Viegas de Abreu.
22/01/25
Percepção e Realidade
15/01/25
Ideias que curam
Procuramos a felicidade. Tudo o que fazemos na nossa vida são meios para atingir a felicidade e o bem-estar.
No entanto, a experiência da tristeza e de outras emoções negativas fazem parte desta procura. Ela é mais marcante em datas e momentos especiais em que tudo o que acontece merece uma maior valorização: as festas, as datas comemorativas, os dias de aniversário são acompanhados de tristeza, exactamente porque neles nos recordamos dos ausentes. (Reacções de aniversário)
Há momentos, como o Natal, tempo de amor e de paz, em que essas memórias são particularmente dolorosas, como as expectativas não concretizadas de uma reunião familiar, como foi o caso este ano, devido às guerras, à falta de saúde, à gripe e outros vírus, à solidão da velhice e tantas ausências que nos fazem sentir ainda mais a fragilidade do nosso bem-estar.
Para além dos comprimidos e xaropes prescritos para contrariar a maldita gripe, se houver vontade, que falta muito quando estamos doentes, podemos encontrar lenitivo na prática que ajuda a superar pensamentos, sentimentos e emoções negativas e desajustadas.
O filósofo William B. Irvine (referido por Marianna Pogosyan, "5 Ancient Ideas That Can Help You Flourish Today", Psychology Today ) recorda-nos algumas “ideias antigas” que podem ajudar o nosso bem-estar.
1. Visualização negativa de gratidão.
Face ao sofrimento, por mais sombrio que possa parecer, podemos usar a “visualização negativa para despertar um profundo apreço pela vida”, como faziam os filósofos estóicos.
Afinal, há tantas pessoas em situações piores do que as nossas que, só por isso, já vale a pena estarmos felizes.
2. Enquadramento para reduzir emoções negativas.
Como nas molduras das pinturas ou fotografias, “as molduras psicológicas que pomos à volta dos acontecimentos da vida podem influenciar as nossas reações emocionais .” Ou seja, o sofrimento devido a algo externo não se deve “ à coisa em si, mas à avaliação que fazemos dela; e isso podemos terminar a qualquer momento.” Podemos experimentar diferentes molduras para vermos perspectivas diferentes, podemos até reagir com humor...
3. A meditação da “última vez”.
Haverá sempre uma última vez para tudo o que fazemos. Pode ser apenas um momento de recordar como fomos felizes ou pensar que a felicidade está a acontecer agora e aproveitar o tempo para amarmos ainda mais quem merece o nosso amor. E, afinal, ainda podemos ir além do que estava previsto (última vez+1).
4. Conhecer tudo para cultivar o prazer.
Podemos tornar-nos conhecedores de arte, música, natureza, culinária... Porque ao sermos conhecedores do mundo em que vivemos, podemos aproveitar plenamente as nossas vidas e perceber que vivemos num “jardim prazeroso”.
5. Meditação antes de dormir.
Na hora de dormir podemos avaliar os nossos comportamentos e atitudes durante o dia para termos mais autoconsciência: se fui gentil, fui curioso, fiquei chateado por algo insignificante, se fui capaz de manter a calma face aos contratempos, ou se experimentei alegria e prazer.
Em resumo, perante as adversidades e contrariedades da vida, falhas de expectativas e mudanças de planos, temos várias prescrições de terapias, a nível da saúde e também a nível psico-social, que nos podem ajudar a remover essas pedras indesejadas do nosso caminho de bem-estar.
Até para a semana.
08/01/25
Eça e Offenbach
"Sim, Offenbach, com a tua mão espirituosa deste nesta burguesia oficial — uma bofetada? Não! Uma palmada na pança, ao alegre compasso dos cancans, numa gargalhada europeia.
Offenbach é uma filosofia cantada."
11/12/24
Um hino à alegria
_______________________________________
07/12/24
Natal – tempo de afectos
Vivemos mais um tempo de Natal, tempo mágico em que a luz, a árvore, a música e tantos outros símbolos, que estão um pouco por todo o lado, nos apelam para a renovação e transformação da nossa vida e nos reconfortam com expectativas de emoções e sentimentos mais conformes às necessidades de equilíbrio e homeostasia na nossa vida.
Os nossos sentimentos estão associados às vivências sociais e à cultura deste tempo: Paz, união, amor, saúde, perdão, gratidão, felicidade, prosperidade, solidariedade e fé, são algumas palavras que usamos para os expressar.
A nossa vida seria impensável sem estes sentimentos. Como refere António Damásio: sem sentimentos “seria impossível classificar quaisquer imagens como belas ou feias, agradáveis ou dolorosas, de bom gosto ou vulgares, espirituais ou terrenas.” Diz ainda A. Damásio que “são os sentimentos que nos guiam, que servem de bússola ao nosso comportamento.” (Entrevista de J-F Marmion a A. Damásio "Les raciones biologiques de la Culture", Le cercle psi, p.67)
A nossa vida tem na base um funcionamento homeostático de cujo mecanismo fazem parte os sentimentos que nos ajudam a compreender a nossa vida social e cultural.
Se a nossa vida for comparada a uma árvore temos na parte inferior a regulação metabólica, os reflexos básicos, as respostas imunitárias.
Nos ramos maiores, os comportamentos de dor e prazer e, nos ramos mais finos, as pulsões, motivações e emoções e, finalmente, os sentimentos.
Para A. Damásio, “a homeostasia (esse conceito da biologia definido como um processo de regulação pelo qual um organismo consegue a constância do seu equilíbrio) aplica-se à expressão do nosso sentimento pessoal, e estende-se facilmente à família e à tribo mais próxima. O problema é quando esse estado tem de se alargar a milhares de pessoas. Aí conseguir o equilíbrio é muito mais difícil. Isso explica por exemplo o recrudescimento dos extremismos na Europa. A única solução, insisto, é educar. Para que o nosso sentimento seja o de aceitar o outro.” (Teresa Campos, Uma aula com António Damásio, Visão, 31.10.2017)
Apenas um pequeno grupo dos sentimentos funcionam negativamente. É, por isso, chocante que vivências negativas como é o caso da guerra, da violência, da dor e do sofrimento, em especial daquele que atinge os mais desprotegidos, como as crianças, estejam tão presentes na nossa historia recente.
Os desequilíbrios não têm fim, e há quem continue apostado num caminho desequilibrado, em que os sentimentos negativos se vão prolongar nefastamente por várias gerações, dificultando, não só a nível físico, a reparação das infraestruturas destruídas mas, mais profundamente, a reparação das estruturas mentais como os sentimentos de cada vítima da guerra...
O problema é, então, como ultrapassar os sentimentos negativos: a raiva, a vingança, a desconfiança: quando volta a acontecer, quando surge outro ditador, quando teremos, finalmente, Paz.
Dito de outra maneira, como e quando será reposta a homeostasia, essa capacidade de a vida se manter e se desenvolver porque o nosso fito é continuar vivos e pensar no futuro ? (TC, idem)
Os sentimentos que nos vêm da luz, do brilho, da presença, dos abraços deste tempo são o desejo de felicidade para o Natal e de prosperidade para o próximo Ano!
Até para a semana.