Foi há 50 anos. Como disse M. João Avillez no Expresso da meia noite (SIC), com o general Tomé Pinto, o 25 de Novembro foi uma guinada para meter o carro, novamente, na auto-estrada da democracia. Quem é pelo 25 de Abril é pelo 25 de Novembro. E quem é pelo 25 de Novembro é pelo 25 de Abril. São dias "inteiros e limpos", por mais que inventemos divergências inultrapassáveis.
A democracia é o regime que permite análises e interpretações diferentes da realidade social, política, etc. Porém, até onde pode a realidade ser vista com tantas diferenças?
O Presidente da Assembleia da República José Pedro Aguiar-Branco refere que, cinco décadas volvidas, ainda "é estranho ouvir dizer que o 25 de Novembro é uma data que "divide" em vez de "agregar”. E acrescenta: "Sou de Abril, sou de Novembro. Sou hoje e sempre pela democracia representativa, porque Abril abriu a porta da liberdade e Novembro permitiu que houvesse chão firme para continuar".
As tentativas para alguém impor a sua visão dos acontecimentos é uma forma de manipulação.
“Alguém que vive uma vida de mentiras tenta manipular a realidade através da percepção, do pensamento e da acção de modo a que apenas um resultado desejado, e predefinido, possa existir.” (J. Peterson, 12 Regras para a vida, "Regra 8 - "Diga a verdade - ou pelo menos não minta", p. 270)
Querem que exista apenas uma verdade: a sua. Como refere J Peterson “Já vi pessoas definirem a sua utopia e depois transformarem a realidade”. (p. 271)
Ser jovem, e sonhar com radicalismo, não era, e pelos vistos não é, tão inusual, porém não faz muito sentido ouvir pessoas da dita esquerda usando a velha versão do tempo em que eram jovens na faculdade e, cheios de ressentimento, não são capazes de ver o que foi o PREC, o COPCON, a 5ª Divisão... ou uma sociedade totalitária e com liberdade condicionada.
Há duas maneiras de ver a realidade. “Aquilo que queria, aconteceu? Não. Então o meu objetivo, os meus métodos estavam errados. Ainda tenho algo para aprender. Essa é a voz da autenticidade.
Aquilo que queria aconteceu? Não. O mundo é injusto. As pessoas têm inveja e são demasiado estúpidas para entender. A culpa é dos outros. Essa é a voz da inautenticidade, que não se diferencia muito de “os outros devem ser detidos”, ou “os outros devem ser castigados, ou, “os outros devem ser destruídos”. Sempre que houve algo incompreensivelmente brutal, é esse tipo de ideias que se manifesta” (p. 276)
Foi particularmente interessante o que disse o Presidente Marcelo na Assembleia da República, em relação a uma visão de sociedade aberta, democrática e livre onde prevalece a temperança.
Para o psicólogo M. Seligman, a temperança manifesta-se através de forças de caráter como perdão, humildade, prudência e autorregulação, ajudando as pessoas a gerir paixões, desejos e impulsos para tomar decisões conscientes e construir um bem-estar duradouro.
A temperança é o equilíbrio, moderação e autocontrole que nos permite ver o que está ou esteve errado, o que não deu certo, o que é voltar aos tempos indesejados, de antes do 25 de abril, de ditadura, de pobreza e de falta de liberdade, ou voltar aos tempos igualmente indesejados que sucederam ao 25 de Abril.
Até para a semana.
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