A vida actual, em que estamos sempre online, leva as pessoas ao isolamento social e afectivo, por mais paradoxal que isso seja. As novas tecnologias, designadamente o telemóvel, a possibilidade de fazer quase tudo online: encomendar o almoço no restaurante, as compras no supermercado, fazer pagamentos, meter combustível ou levantar dinheiro... As reuniões e o trabalho online, a automação e o crescimento do número de pessoas que vivem sós, leva a que os contactos pessoais sejam cada vez mais reduzidos.
Ora sabemos, há muito tempo, que a criação de vínculos sociais e afectivos e o relacionamento face a face são importantes para a saúde mental e para uma vida mais feliz.
Num estudo (1) que é feito desde 1938, época da Grande Depressão, até à actualidade, procurou-se compreender as relações entre saúde física e mental, entre saúde e felicidade.
As conclusões têm mostrado que os relacionamentos íntimos, mais do que a fama ou dinheiro, são a fonte da felicidade ao longo da vida. Estes laços protegem as pessoas das frustrações, ajudam a retardar doenças físicas e mentais e são parâmetros mais eficientes na análise da longevidade – mais do que classe social, QI ou até mesmo a genética.
Para o psiquiatra Robert Waldinger, o nível de satisfação com os relacionamentos, na idade de 50 anos, foi mais importante para avaliar a saúde física do que níveis de colesterol por exemplo... As pessoas mais satisfeitas aos 50 anos eram os mais saudáveis aos 80.
As pessoas que mantêm relacionamentos calorosos vivem mais e com mais felicidade e aquelas que se sentem solitárias morrem mais cedo.
Por tudo isto, os amigos são muito importantes.
Podemos falar três níveis de amizade (2) (Arthur Brooks): O primeiro é o dos amigos com base na utilidade, que nos ajudam a conseguir determinadas coisas, com os quais trocamos favores, que estão sempre disponíveis e para quem o estamos também.
O segundo é o dos amigos com base no prazer, que nos ajudam a descansar, porque partilhamos gostos, saídas, distrações; são amigos com quem não temos conversas demasiado profundas e, como os nossos gostos e entretenimentos vão variando, pessoas que entram e saem com facilidade da nossa vida.
Por último, há os amigos “inúteis”, que são aqueles dos quais não queremos nada de especial: queremo-los a eles; trocamos favores com eles, evidentemente, e talvez partilhemos gostos e interesses, mas a amizade está radicada a um nível mais profundo...
São estes amigos a quem podemos telefonar a meio da noite quando estamos doentes ou assustados...
A psicóloga Susan Pinker (3) mostrou que o contacto e a integração sociais são muito mais importantes para a longevidade e o bem-estar do que fatores como dietas e exercícios físicos.
Fala do “efeito aldeia” ou seja da necessidade de contactos pessoais e presenciais que superam, sem dúvida, os contactos online.
Até para a semana
(3) "Susan Pinker destaca o valor das relações presenciais para a longevidade"