11/06/25
06/06/25
Activismo e manipulação
01/06/25
Os anjos vão dormir...
Os anjos vão dormir...Os anjos vão dormir: a noite caimas libertam os astros para desvendaremo que apaixona os homens sobre a terra,que gritos soltam estes, como fazem guerrase criam desencontros de hora a horae se atropelam sem real razão.Pena que a escuridão seja tão longa,que o reinado de estrelas não dissipeo negro tenebroso da maldade:o breu a consumir cabal alívioou confiança no florescimento.Como saber se os anjos quand' auroravirão, calmos de sono, despertar-nos ?
António Salvado, Repor a luz
29/05/25
Vitórias e derrotas
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Psychologies |
23/05/25
Vínculo vital
Amar é uma tarefa da vida inteira. Aprender a amar também. Temos assim a possibilidade de experimentar desafios que ao longo do tempo vamos tentando superar; isto quer dizer que a nossa vida é também um processo terapêutico em que nos adaptamos e tornamos melhores pessoas.
“Aprender mais sobre o que é o verdadeiro amor é essencial para superar a confusão mental, permitindo-nos detetar a sua ausência na forma como nos tratamos e começar a nutrir e honrar a sua presença naqueles de quem decidimos aproximar-nos”. (Alain de Botton, Uma viagem terapêutica, p.131)
Para Alain de Botton, temos uma ideia fundamentalmente romântica e pouco útil do amor segundo a qual o amor é a recompensa que alguém recebe pelos seus pontos fortes: ser rico, popular, carismático...
Porém, existe uma outra concepção de amor, não como recompensa pelos pontos fortes mas como simpatia e compromisso com a fraqueza: “Amor é o que sentimos quando vemos um bebé recém-nascido, indefeso perante o mundo, a tentar agarrar o nosso dedo, apertando-o com força e esboçando um sorriso frágil e agradecido.”...
As pessoas em quem devemos acreditar “são aquelas que se comovem com as nossas crises que estão por perto nas horas mais sombrias que estarão ao nosso lado quando o resto do mundo estiver a fazer troça.” (idem)
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Sob o signo do afecto (da capa), de B. Cyrulnik |
Na encíclica Fratelli Tutti, o Papa Francisco, definiu o vínculo amoroso como o vínculo da vida: “ninguém pode experimentar o valor de viver, sem rostos concretos a quem amar” (nº 87), ou seja, com as suas potencialidades mas também fragilidades.
Este vínculo vital exige rostos concretos a quem amar. São pessoas que têm as suas características mesmo que não sejam aquelas que mais apreciamos.
Ou seja, a nossa viagem humana é constituída pelas nossas potencialidades mas também pelas vulnerabilidades: “as fraquezas, carências, medos, imaturidades, incompetências ou simples esquisitices”. (idem) No fundo, características humanas. Tanto umas como outras podem ter aspectos importantes nessa viagem. Podemos aprender a amar e esta aprendizagem implica podermos ser vulneráveis.
No “decurso da vida” que inicia com a infância pode acontecer que as vulnerabilidades, como as perturbações psíquicas, provoquem rupturas no equilíbrio da nossa personalidade.
Vão com certeza acontecer crises previsíveis mas também imprevisíveis, algumas dessas crises podem transformar-se em factores de risco e, em alguns casos, factores de perigo, que seja necessário controlar ou resolver.
E é da interacção de potencialidades, como factores de protecção, e vulnerabilidades, como factores de risco, que pode surgir o equilíbrio na nossa vida e na nossa vida mental.
Os psicólogos têm vindo a adoptar sistemas compreensivos desta realidade. Assim, do jogo entre potencialidades e fragilidades resultantes do processo de socialização, das condições sócio-culturais e biopsicológicas do indivíduo (como, por ex., a adaptação cognitiva resultante do processo de assimilação e de acomodação) pode resultar a adaptação ou desadaptação; e este é um processo de equilíbrios sucessivos (ou equilibração) em que as estruturas mentais vão mudando.
Para Alain de Botton, os paradigmas da psicoterapia podem aplicar-se às relações amorosas, mesmo quando as relações são difíceis, como a escuta activa, suavizar a linguagem...
Até para a semana.
16/05/25
A cultura do cuidado
Vivemos num mundo de direitos, os direitos humanos, os direitos das crianças. Mas de que direitos se trata quando há milhões de crianças que não têm garantido sequer o direito à vida?
Em vez de os líderes deste mundo adoptarem a cultura do cuidado como um imperativo, o que temos são guerras entre vizinhos, as guerras mais destrutivas, com os meios sofisticadamente selváticos, as mais violentas.
Dizia o Dr. Armando Leandro: “Não há desenvolvimento ético, cultural, social e económico de qualidade sem qualidade humana e esta é subsidiária em alto grau da qualidade da infância.
O desenvolvimento dessa cultura da infância, ao nível da prevenção e da intervenção reparadora e superadora do perigo, compete a todos.”
Como estava certo: Pelo tratamento dado aos mais frágeis podemos avaliar a sociedade.
Os maus tratos às crianças são apenas o sintoma de um sociedade que não está bem e que acaba por se magoar a si própria.
Leão XIV, na alocução inicial do seu pontificado, falou da necessidade de uma paz que seja desarmada e desarmante, construída através do diálogo e da criação de pontes.
Um coro universal das vítimas da insensibilidade, devia todos os dias soar aos ouvidos dos líderes mundiais, reclamando justiça e paz. Até que entendessem que os resultados das guerras são sempre o sofrimento de todos, dos perdedores mas também dos vencedores.
Uma cultura do cuidado, como o do samaritano que ajudou o estranho que encontrou doente no caminho é o sentimento que faz falta.
A cultura do cuidado é fundamental para vivermos como pessoas como seres humanos que existem com os outros e em que os narcisismos não são determinantes.
Uma cultura do cuidado é uma cultura da interdependência onde ninguém é descartável.
“... quando chegamos a este planeta, somos desde o início da vida rodeados de cuidados diversos que se prolongam no tempo; chega depois a altura em que devemos cuidar de outras pessoas e passaremos por momentos em que teremos de permitir que outros cuidem de nós, inclusive quando ainda esteja longe o fim da nossa vida.
Estaremos preparados para assumir a interdependência que exige a nossa própria vulnerabilidade? Teremos consciência de que devemos cuidar de nós próprios, dos nossos entes queridos, do conjunto da sociedade e do mundo em que vivemos?
Uma sociedade em que o bem-estar individual e o bem-estar coletivo andam de mãos dadas é mais humana, mais forte e muito mais comprometida.” (Isabel Sánchez, Cultura do cuidado )
Até para a semana.
04/05/25
Para todas as mães
Não, pessoal, vocês não têm!
...
24/04/25
Um caminho a continuar

A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) decidiu criar a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica em Portugal, na Assembleia Plenária de novembro de 2021. A Comissão Independente apresentou em 13-2-2023, o Relatório da investigação efectuada.
Em 5-2-2022, as Comissões Diocesanas, reunidas em Fátima, tomaram a decisão de criar a Equipa de Coordenação Nacional (ECN), integrando representantes das províncias eclesiásticas de Braga, de Lisboa e de Évora.
A CEP, na Assembleia Plenária de 25-28 de Abril de 2023, criou o Grupo VITA, apresentando-se como um organismo “isento e autónomo que visa acolher, escutar, acompanhar e prevenir as situações de violência sexual de crianças, jovens e adultos vulneráveis no contexto da Igreja Católica em Portugal, numa lógica de intervenção sistémica”. Entrou em funcionamento em 22-5-2023 e tem vindo a apresentar Relatórios de Actividades semestralmente.
Tendo em vista uniformizar procedimentos e garantir a adequada articulação entre VITA, ECN, Comissões diocesanas, Procuradoria-Geral da República, assim como a actuação no apoio psicológico, psiquiátrico e espiritual das vítimas e agressores, em 16-11-2023, a CEP aprovou o “Guia de Boas Práticas” para o tratamento de casos de abuso sexual de menores e adultos vulneráveis, no contexto da Igreja Católica.
Em 25-7-2024, a CEP divulgou o Regulamento para atribuição de compensações financeiras às vítimas de abusos sexuais, que prevê a criação de duas comissões, a Comissão de instrução e a Comissão de fixação da compensação. Estão em curso estes procedimentos.
A CEP, na Assembleia Plenária de Novembro, aprovou uma Adenda com algumas clarificações ao processo das compensações financeiras, e também o alargamento do prazo de apresentação dos pedidos até 31-3-2025.
Em todo o país têm vindo a ser tomadas medidas de prevenção primária, tais como Ações de Formação para os diversos Agentes pastorais e a criação de mapas de risco e de códigos de conduta nos diversos sectores de intervenção da Igreja.
Esta breve nota histórica sobre a prevenção e protecção de menores e adultos vulneráveis no seio da Igreja Católica releva, no contexto atual de funcionamento das Comissões Diocesanas, a necessidade de articulação e cooperação entre as várias entidades com responsabilidades nesta área: as Comissões diocesanas, o Grupo VITA, a ECN, a CEP e as Dioceses.
Manifesta também o caminho percorrido e a percorrer na prestação de um serviço que deve dar confiança, segurança e cuidado a todas as vítimas de abuso dentro da Igreja. Pode ainda ser sugestivo daquilo que é necessário fazer na sociedade.
21/04/25
O vínculo do Amor
87. O ser humano está feito de tal maneira que não se realiza, não se desenvolve, nem pode encontrar a sua plenitude «a não ser no sincero dom de si mesmo» aos outros. E não chega a reconhecer completamente a sua própria verdade, senão no encontro com os outros: «Só comunico realmente comigo mesmo, na medida em que me comunico com o outro». Isso explica por que ninguém pode experimentar o valor de viver, sem rostos concretos a quem amar. Aqui está um segredo da existência humana autêntica, já que «a vida subsiste onde há vínculo, comunhão, fraternidade; e é uma vida mais forte do que a morte, quando se constrói sobre verdadeiras relações e vínculos de fidelidade. Pelo contrário, não há vida quando se tem a pretensão de pertencer apenas a si mesmo e de viver como ilhas: nestas atitudes prevalece a morte».
02/04/25
Histórico e ressentimento
24/03/25
Chuva... Chuva...
R. Strauss - Sinfonia Alpina
Preludio - Gota d´água - Chopin
Young People's Chorus of New York City/USA: Três Cantos Nativos dos Índios Kraó, EJCF Basel 2014
21/03/25
Por que os idosos não querem ir para um lar ?
17/03/25
O bom da partida é o regresso
Io mi sento morire
Partir vorrei ogn' hor, ogni momento:
Tant' il piacer ch'io sento
De la vita ch'acquisto nel ritorno:
Et cosi mill' e mille volt' il giorno
Partir da voi vorrei:
Tanto son dolci gli ritorni miei
16/03/25
Camilo - 200 anos do nascimento
12/03/25
Ideias que curam 2
No meio da grande confusão que vai pelo mundo, e mesmo no nosso pequeno mundo nacional, é preciso que consigamos alguma tranquilidade, sensatez, racionalidade.
É penoso, e talvez para algumas pessoas, perturbador, assistir a tantos desentendimentos, afastamentos, polarizações.
Os dias passam e acrescentam mais ódios e relações cada vez mais clivadas.
Talvez tudo tenha mudado em 11 de Setembro de 2001, quando as torres gémeas foram deitadas abaixo: “O dia que fez abalar o mundo”. (Amaral Dias, Um Psicanalista no Expresso do Ocidente)
Nunca foi fácil para cada pessoa encontrar o equilíbrio na vida e também não o é actualmente. Podemos dizer, no entanto, que é sempre possível “converter qualquer obstáculo num meio para atingir os fins”. Neste caso, atingir o equilíbrio.
Sem dúvida, que tem um papel muito importante tudo o que possamos fazer para nos ajudarmos a nós próprios.
Sei que, também nesta área da auto-ajuda, é necessário ser selectivo porque há muitos caminhos que podem servir outros propósitos que não sejam os que interessam.
Já aqui tenho escrito e falado (RACAB) em vários procedimentos terapêuticos que podemos usar na gestão do equilíbrio que procuramos para a nossa vida: a terapia da natureza, a hortiterapia, a biblioterapia, a filosofia, a leitura e prática do estoicismo, as práticas da meditação que vão da terapia mindfulness até à prática da oração...
Por estes dias de incerteza, leio Séneca, Sobre a brevidade da vida, que pode ser um bom começo para fundamentar esta perspectiva....
Tudo o que está à nossa volta nos preocupa. Vivemos preocupados, ou seja, há todas as condições, políticas, sociais e familiares para que assim seja...
“Mas (diz Séneca) há quem viva preocupado mesmo quando em repouso: Em casas de campo, no leito, no meio da solidão. Mesmo quando totalmente sozinhos, são a pior companhia que podem ter. Não vivem descansados, mas com preocupações persistentes.”(p. 22)
Provavelmente, estamos nesta categoria e se calhar temos justificadas razões para isso: somos daqueles que trabalham ate à exaustão, até ficarmos doentes (burnout), workaholics inveterados, regressamos cansados de férias, ficamos cansados de ver tv ou das redes sociais...
Outra das minhas leituras é Estoico todos os dias, de Ryan Holiday e Stephen Hanselman, que propõe um pensamento para cada dia do ano, principalmente a partir dos textos de Séneca, Epicteto, Marco Aurélio. Uma proposta de leitura para cada dia do ano, mas mais do que isso de meditação.A leitura para o dia 11 de Março parte de uma frase de Epicteto: “O homem sem impedimentos, que tem à mão as coisas como quer, é livre. Mas aquele que possa ser impedido, coagido ou empurrado para fazer qualquer coisa contra a sua vontade, é um escravo.”(p.103)
As pessoas perdem a liberdade em troca do que supõem ser o êxito, o poder, a riqueza e a fama, são “prisioneiras nas cadeias que elas próprias construíram”.
Se pensarmos bem, há 50 anos, aconteceu o 11 de Março de 1975, com todos os desmandos e violência que se seguiram e que só viriam a terminar com o 25 de Novembro desse ano.
Não podemos dizer que a crise actual é pior.
Até para a semana.