23/02/24

Eleições, internet e mentiras


A mentira parece estar na ordem do dia. Daí a necessidade de polígrafos e de programas de fact-checking, em que "caiu" a comunicação social que após uma qualquer informação, vem imediatamente repor a sua verdade à sua audiência... 
Ninguém confia em ninguém. E o que é mais estranho ainda, é que nem sequer podemos confiar em nós porque mentimos a nós próprios e é sempre mais difícil aceitar a verdade quando nos envolve a nós ou a pessoas da nossa família.
Gostamos até de ser enganados pelos mágicos que nos deixam estupefactos quando tiram o coelho da cartola.

Contamos mentiras o tempo todo. Um estudo de 2002 realizado pelo psicólogo Robert Feldman, descobriu que 60% das pessoas mentiram pelo menos uma vez durante uma conversa de 10 minutos, contando em média duas a três mentiras. 

A tendência para mentir está profundamente enraizada na nossa história evolutiva, como acontece com outros primatas.

As crianças adquirem esse comportamento de prever o pensamento da outra pessoa entre as idades de dois e cinco anos, e isso é visto como um marco no desenvolvimento cognitivo (teoria da mente).

 

Muitas mentiras são triviais e cordiais. As mentiras do quotidiano ou pelo menos as falsidades fazem parte da conversa consumatória que todos usamos e das quais não vem grande mal ao mundo por causa disso, desde mentiras gentis (“estás mais magra!” ou “estás com óptimo aspecto!" ou  "tens um cabelo bonito”) a algumas mentiras que fazem parte das nossas rotinas e na sua maioria são de autoprotecção e inconsequentes (“estou a caminho”, “estou quase a chegar”, “havia um acidente  na estrada”)...

 

Mas há mentiras  sinistras, como acusar falsamente alguém de um crime ou mentir aos investidores, que podem ter consequências devastadoras. 

Acontece também, por exemplo, com a mentira manipuladora na violência doméstica (gaslight)

 Acontece com golpistas e trafulhas da Internet: com o “Olá mãe, olá pai “ ou que vasculham as contas dos outros ou os roubos de identidade...
A mentira às vezes envolve um currículo inteiro em que se inventam factos que nunca aconteceram ou que não aconteceram com aquela pessoa.

Outras vezes é a omissão de dados e factos nos documentos que se apresentam nas instâncias que controlam e regulam o funcionamento dos políticos nas democracias.


Num tempo como este de eleições nas democracias (1) podemos estar cientes de que circulam (propaganda) todo o tipo de mentiras.
A começar nas promessas enganosas que praticamente todos os candidatos fazem.
E de desmentidos. Aquilo que não era possível fazer antes, passa miraculosamente a fazer parte das obras realizáveis. Não importa onde se vai buscar o dinheiro. A “finite pie” parece ser infinita e tudo é realizável ou passa a ser. Quanto maiores as promessas maior a entropia das explicações.

Mas... o ser humano reage fortemente à desonestidade. A desonestidade coloca o cérebro em estado de alerta intensificado, e esse stress aumenta com a magnitude da mentira. (2)
Por isso, a prazo, a mentira nunca compensa....


Até para a semana.
 

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(1) Já que nas ditaduras  a mentira é a verdade.


(2) Mentir provoca alterações psicofisiológicas: na respiração, nos batimentos cardíacos, começar a suar, a boca fica seca e a voz pode alterar. Alguns desses efeitos são registados no clássico teste do detector de mentiras (polígrafo, máquina da verdade). Ainda assim, pode haver quem minta ao detector de mentiras.





Rádio Castelo Branco





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