07/12/22

Livros


A época de Natal é também, no calendário anual de eventos de consumo, um tempo privilegiado de que fazem parte os livros. Por esta altura, costumamos oferecer livros de presente, aos amigos e em particular às crianças.  Fui sempre apaixonado por livros e desde muito cedo me interesso pelo saber, conhecimento, novidade, emoção, cultura e tudo o que eles nos transmitem.


Montaigne (1533-1592) dedica um dos seus Ensaios - “Dos livros” - ao assunto. A esta distância temporal, mais de 4 séculos, escreve aquilo que todos nós continuamos a fazer em relação aos livros. Gostamos de uns e não de outros, alguns pomos de lado, por não corresponderem às nossas expectativas, outros, quando chegamos ao fim, achamos que foi tempo perdido... Mas é esta liberdade que importa: podermos escolher e ler o que queremos. Não estarmos sujeitos a qualquer index (1).  Podermos criticar, ler ou deixar de ler...

Escreve Montaigne: “Se quando leio, encontro dificuldades não roo as unhas por isso: após duas ou três investidas deixo-as onde estão...

“Se um livro me aborrece, pego no outro, e só volto a ele nos momentos em que o fastio de nada fazer começa a apoderar-se de mim.”

 

Eça de Queirós (1845-1900), em Cartas de Inglaterra, escreve sobre livrosum capítulo  “Acerca de Livros" e outro sobre “Literatura de Natal”.

Eça escreve que em Inglaterra há uma época (season) para tudo... Como seria de esperar, havia uma book-season, a época do livros. Já nessa altura, Eça se admirava com a quantidade de livros que se publicavam sobre tudo e nada: "Aos romances nem aludo: montes, montanhas - e monturos!"  (p.22) 

Sobre literatura para crianças, escrevia Eça: "Uma das coisas encantadoras que nos traz o Natal, são esses lindos livros para crianças, que constituem a literatura de Natal." (2) 

Os livros mudam as pessoas? Há livros que me mudaram? Em suma, os livros mudam o mundo?  

Dietrich Schwarnitz (1940-2004) em Cultura - inteligência, talento e criatividade, vol. 6, elaborou uma lista de “livros que mudaram o mundo”. Li uma ínfima parte desta lista de livros. Mas li outros. Cada pessoa tem que encontrar a sua lista; são listas subjectivas, como não podia deixar de ser.

É curioso que também apresenta uma lista de “livros para ir lendo” o que faz lembrar a antibiblioteca de que fala Umberto Eco.

Para além da leitura, só por si  terapêutica (biblioterapia), há livros que têm como objectivo a auto-ajuda e nos permitem compreender e mudar o nosso comportamento.

Quando compro livros ando à procura de respostas para o que me preocupa nesse momento. Tenho sempre grande expectativa em ver até que ponto essa preocupação é resolvida ou se aprofunda e debato-me com os caminhos abertos por esse aprofundamento.

 

Claro que hoje há recursos que não havia no tempo de Montaigne ou de Eça de Queiroz. Hoje podemos ver no cinema ou na TV grandes obras de grandes autores que também lemos nos livros como “Doutor Jivago” ou “E tudo o vento levou”, ou um documentário sobre Freud,  o filme do Rei Leão ou a série Spidey e a sua Superequipa...

Mas isto já é outra conversa.

 

 

Até para a semana.

 

 

 

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(1) O Index Librorum Prohibitorum, de 1559, é  considerado por Schwanitz como um dos “livros que mudaram o mundo”; manteve-se em vigor até 1966.

O controle do pensamento não terminou nessa altura, vem até aos dias de hoje. A censura de livros não é apenas do tempo do Index...  é de hoje através do wokismo e do politicamente correcto, da reescrita da história e das estórias, da censura nas redes sociais, Facebook, Twitter,... como se tem visto e que leva o nome de cancelamento.

 

(2) Eça de Queirós tem uma visão desenvolvimentista das crianças e jovens  e, justamente, os livros devem ser adequados aos diversos grupos etários, acessíveis a todos. É o que se passava em Inglaterra:

"Aqui, apenas o bebé começa a soletrar, possui logo os seus livros especiais: são obras adoráveis que não contêm mais de dez ou doze páginas, intercaladas de estampas, impressas em tipo enorme, e de um raro gosto de edição... 

Depois, quando o bebé chega aos seus oito ou nove anos proporciona-se-lhe outra literatura. Os sábios, a barrica, os trambolhões, já o não interessariam; vêm então as histórias de viagens, de caçadas, de naufrágios, de destinos fortes, a salutar crónica do triunfo, do esforço humano sobre a resistência da natureza. 

Tudo isto é contado numa linguagem simples, pura, clara - e provando sempre que na vida o êxito  pertence àqueles que têm energia, disciplina, sangue-frio e bondade...

Depois vêm ainda outros livros para os leitores de doze  a quinze anos: popularizações de ciências; descrições dramáticas do universo; estudos cativantes do mundo das plantas, do mar, das aves; viagens e descobertas; a história; e, enfim, em livros de imaginação, a vida social apresentada de modo que nem uma realidade muito crua ponha no espírito tenro securas de misantropia, nem uma falsa idealização produza uma sentimentalidade mórbida." (p.34-35)


 










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