21/09/20

O segundo passo

Bem-vindos a mais um ano em que espero estar convosco aqui nesta rádio (RACAB), à quinta-feira, com a minha opinião sobre os acontecimentos do quotidiano que tento compreender principalmente do ponto de vista psicológico.

 

Estamos em tempo de grandes mudanças como de resto aconteceu em outras épocas. A vida é feita de mudança e a sobrevivência depende da nossa capacidade de adaptação.

A pandemia veio destapar aquilo que já se sabia como resultado principalmente da política de cativações dos governos Costa /Centeno.

Já todos sabíamos que não era possível responder adequadamente a qualquer crise quando os serviços e equipamentos já eram  deficientes em recursos materiais e humanos com relevo para o sistema de saúde, educação e segurança social...

Acima de tudo, revelou a incapacidade de organização e gestão dos recursos: as listas de espera  cada vez maiores, agendamentos excessivamente burocráticos, teletrabalho nem sempre justificável ...

Por exemplo, sabíamos que no sector da saúde já era complicado haver respostas atempadas,  num contexto de  pandemia covid 19 tudo ficou pior. 

É verdade que os médicos, enfermeiros e restante pessoal fazem o que podem e são merecedores do nosso respeito pelo profissionalismo e humanismo que têm demonstrado.

Mas ficou pior porque a afluência à urgência, tal como o número de intrervenções diminuíram drasticamente. 

Não por serem falsas urgências mas pelo receio dos utentes e pela falta de resposta dos serviços.

Aliás, a questão das falsas urgências é  uma falsa questão.

 

A medicina e a psicologia lidam com o sofrimento do ser humano. O  sofrimento é contra a vida,  tira  o prazer da vida, e, por isso, deve ser eliminado imediatamente.

Bom, mas o sofrimento existe e,  ao contrário do que muitas vezes se diz, não é uma provação de Deus ou um castigo de Deus.

Infelizmente, muito desse sofrimento deve-se ao impasse em que vivemos ou às opções erradas que tomamos. Em vez de nos focarmos na descoberta da cura ou da vacina para a covid,  anda-se numa competição desenfreada para se saber quem é o primeiro a tê-la, quem deterá as patentes e, com isso, fará negócios de muitos milhões.

 

O homem existe para ser feliz, o sofrimento deve ser passageiro e as respostas dos que governam têm que ser rápidas para evitar esse sofrimento.

Temos duas maneiras de reagir ao nosso sofrimento e ao que se passa à nossa volta: aceitação ou resignação.

O estado de resignação significa que não há nada a fazer, a não ser ter um comportamento fatalista. A resignação leva à inacção e o organismo não reage à agressão que sofre.

Pelo contrário, pela aceitação “o doente aceita a realidade e desde logo estabelece a estratégia para combater o mal, o invasor, o problema, a desgraça."

"Quando o indivíduo não aceita a realidade entra em processo de revolta, de raiva, de ódio, de mágoa, o que são condições mentais e físicas  altamente maléficas  e extremamente prejudiciais à cura."

"A diferença gritante entre aceitação e resignação está... no passo seguinte. O resignado não tem um segundo passo. Resignou-se, parou. Aquele que aceita a realidade como ponto de partida, necessariamente dará o segundo passo e os seguintes..." (p.21)*

 

Até para a semana.


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* Lauro Trevisan, Jesus - o grande psicanalista, Dinalivro.








 



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