A CEE/UE foi-nos "vendida" como o grande desígnio nacional pelos avós dos que estão actualmente no poder.
"Os motivos que me levaram a requerer a adesão à CEE ‐ que muitos portugueses na altura contestaram, mas que partidos maioritários na Assembleia da República apoiaram – não foram, ao contrário do que alguns ainda hoje julgam, essencialmente, económicos. Foram políticos e tiveram a ver com um grande desígnio para Portugal: a consolidação da democracia pluralista e civil, liberta há pouco tempo da tutela militar; e também o reconhecimento de que o ciclo imperial tinha terminado com a descolonização." (Comemorações da adesão de Portugal à União Europeia, Mário Soares)
Não deixa de ser estranho que a vemos agora promovida a alvo de todos os ataques por ser responsável pelos insucessos que temos vindo a coleccionar. É com estranheza que, vemos, ouvimos e lemos, tem de se bater o pé, dizer não, ameaçar com processos e tribunais a essa desgraçada que nos rouba a capacidade de decisão e a soberania económica.
A rábula das sanções parece que está a chegar ao fim pelo menos por enquanto. Já a invenção do inimigo principal vai continuar em modo estival moderado, agora que a Europa saiu derrotada pela nossas forças e daqueles que sempre foram contra a Europa.
Por enquanto a batalha foi ganha e por isso há um jogo que vale a pena ser jogado. "Vale a pena jogar o jogo das regras" europeias, frisou o chefe da diplomacia portuguesa, insistindo que o "mais importante" na decisão da Comissão foi o "dar razão a Portugal" e aos seus argumentos.
O quê? Não, não. "O jogo da Comissão Europeia, o jogo da União Europeia, não é um jogo que valha a pena ser jogado, é a roleta russa, e por muito que tenhamos ganho desta vez, continua a ser a roleta russa em setembro, por isso nós sabemos que Portugal não ganha por jogar pelas regras, Portugal ganha por defender a dignidade de quem aqui vive e por não ceder à pressão." ("Notícias de catástrofe" até aprovação do OE",Catarina Martins)
O inimigo principal, portanto, é a União Europeia, nem sequer a Comissão Europeia ou a actual Comissão Europeia. Por isso, tem-nos à perna, é preciso não jogar pelas regras ou como escrevia António Barreto, gritar "Às armas!" ( DN, "Sem emenda", de 17 de julho de 2016). A culpa é dos outros.Tem sido assim na história e ultimamente a culpa é da Europa. Os europeus “…São eles os responsáveis pelas nossas dívidas, os causadores das nossas perdas, os obreiros da nossa crise e os culpados das nossas dificuldades!"
"Em vez de procurar valorizar o que temos, de aproveitar o que sabemos e de organizar a economia; em vez de investir, de diminuir o desperdício e de fazer obra útil; em vez de apenas gastar o que temos, de atrair investimento externo e de trabalhar e poupar; em vez de estudar, de nos governarmos com mais sabedoria e de fazer com que o Estado respeite os cidadãos, em vez disso, procuram as autoridades comover os sentimentos, confundir os espíritos e mobilizar contra alguém, o inimigo, o adversário, a ficção dos que querem mandar em nós, a invenção dos que não respeitam os portugueses e a fantasia dos que não honram uma nação com oito séculos de história!”…
É confrangedor assistir à parceria "estratégica" Costa/Catarina que levantaram voo com a vaca e vivem cada um no seu mundo mas os dois igualmente virtuais: onde a Europa é a fonte de todo o mal.
E, afinal (oh inanidade!): "A correspondência do Governo português e a Comissão é isso mesmo: a correspondência do Governo português e a Comissão." (A. Costa, 5/7/2016).
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