18/11/09

Reformas do sistema educativo

Que mudança, que reformas ?
Mudam-se os tempos, mudam-se os ministros, com algumas, poucas, novidades. Mas novidades não quer dizer mudança, em todos os casos.
Do mal que foi feito, restarão mágoas, tempos instáveis, carreiras perturbadas e interrompidas antes do seu termo natural e previsível.
As reformas ou são para as pessoas ou não são reformas nem mudança.
Ao contrário do que alguns pensam, a luta pela educação, pelo direito à educação é de sempre.
Ganhando sempre novidades. Mesmo que disfarçadas de muito progressismo, igualitarismo e do fim da necessidade de lutar por ela.
Milton Schwebel, em 1968, em Who can be educated ?, já lá tinha chegado: "o recurso a bodes expiatórios é a saída para alguns em tempo de crise: «a culpa é dos professores»". Atribuir ao professor a falha da educação, que podia chegar ao ponto de contar para a sua avaliação, tansformando-o em burocrata atascado em papelada e tarefas administrativas, era (espero que seja passado) o modelo de professor que se pretendia.
Este comportamento "ocorre em resultado da interacção e identificação com aqueles que nas escolas, defendem tais valores e crenças, e em resultado do desejo de segurança, status e aprovação que os que exercem o controle estão em posição de conceder ou retirar. Os professores correspondem às expectativas dos que manejam o poder".
Não, "a novidade" é que já naquela altura tudo isto levou à desistência de se poder confiar nas próprias capacidades dos professores para educar os alunos.
E depois de tantas reformas, contra-reformas, ou nenhuma reforma, nada chega a sedimentar, nada chega a ser avaliado.
De repente, fica tudo sem efeito e é substituído por modelos que alguns iluminados "descobriram" e por "novos" projectos de peritos nacionais ou estrangeiros que propõem formas de organização ou modelos que devem ser adoptados...
E lá voltamos às novidades em tudo diferentes da esperança.
Cada ministro, sua reforma, ou seja, mais uma reforma avulsa, porque sim, sem sentido e mais uma oportunidade perdida.
E lá voltamos às novidades em tudo diferentes da esperança.
As necessidades de que fala Schwebel mantêm-se hoje. Têm a ver com o dinheiro investido, os dirigentes do sistema, as lideranças educativas, a qualidade do ensino, a formação dos professores, o sistema de avaliação dos alunos, o conceito ampliado de escola, isto é, as relações escola comunidade e pais mais interessados.
Esperamos que desta vez a mudança ganhe novas qualidades.

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidade.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem se algum houve as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

Camões

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