Como costumamos dizer, passamos a vida toda a aprender e, obviamente, a aprender a amar também. Mesmo quando chegamos aos cinquenta anos de casados? Talvez ainda com mais premência depois de passadas tantas experiências em contextos diferentes, simpáticos ou adversos, é, no entanto, sempre nesta capacidade de nos ligarmos ao outro que se baseia toda a nossa vida afectiva e relacional da qual depende a nossa saúde mental.
Acontece também que "as relações modernas têm inscritas no seu cerne, um paradoxo da melancolia: sabemos que o crescimento afetivo requer amor, mas no terreno, encontramos cada vez menos relacionamentos felizes. “ (Alain de Botton . Uma viagem terapêutica, p. 133)
Num relacionamento, o fracasso ou sucesso resume-se na essência à presença ou ausência de vários factores, cinco âncoras, como lhes chama Alain de Botton.
Estas cinco âncoras permitem manter a embarcação da vida relacional em equilíbrio. São as seguintes: não defensividade, vulnerabilidade, ternura, atitude terapêutica e entusiasmo.
A nossa postura defensiva é compreensiva e até necessária (defesas do ego) mas também pode ser parte do fracasso das nossas relações.
Por experiência ou não, a frase " “ama-me por quem eu sou” é o inevitável grito de guerra de todos os amantes que se encaminham para o desastre". Seria injusto "exigirmos ser amados tal como somos, com a nossa panóplia de falhas, obsessões, neuroses e imaturidades... só devemos esperar ser amados por quem desejamos ser, por quem somos nos nossos melhores momentos..." (p.134-135)
"O amor não é frágil, "pode haver ruturas - e reparações. O amor verdadeiro é resistente. Não será destruído por um pormenor... A defensividade pode ser ultrapassada. Podemos aprender a medir no nosso coração a difrerença entre uma queixa e uma rejeição existencial” (p.137)
Os parceiros devem ter a capacidade de ultrapassar a defensividade, podemos chegar a entender o que podemos reconhecer e superar os pequenos defeitos que todos temos, como por exemplo, na forma como deixamos a casa de banho, podemos comentar que temos mau hálito ou que estamos mal vestidos...
copiar (p. 138)
Ser vulnerável é descobrir "um lado em nós que remonta à infância..." (p. 140) e podemos e somos capazes de pedir ajuda.
A ternura está, por exemplo, no comportamento de um pai quando vê uma birra do seu filho que empurra o prato do jantar para o chão e mesmo assim não o castiga nem o considera “mau”
Ter uma atitude terapêutica depende essencialmente da capacidade de ambos os parceiros adoptarem em momentos críticos uma atitude terapêutica em relação às compulsões, falhas, fúrias e e excentricidades um do outro...
Finalmente, o entusiasmo. Claro que no principio da relação é fácil viver com entusiasmo. Porém a pouco e pouco "deixamos de nos maravilhar porque nos enredamos inconscientemente em várias formas de irritação não assimilada (p. 148): porque nunca pede desculpa; porque decidiu sem nos consultar; porque... porque...
Devemos deixar um tempo para falar daquilo que não correu bem, não para fazer queixas, não para voltar ao “histórico” que sempre é relevado quando nos irritamos e vamos buscar pormenores da relação de muitos anos atrás...
Mas em vez disso devemos verbalizar os nossas irritações com regularidade. Tentando compreender o que esteve na atitude do outro.
Até para a semana.

