Antes de olharmos para os nossos filhos e vermos neles uma quantidade enorme de problemas, problemas de alimentação, sono, ciúmes, violência, egoísmo..., poderíamos encontrar muitas qualidades. Afinal os nossos filhos são boas pessoas. Como nos diz muito bem o pediatra Carlos Gonzalez. (Bésame mucho - Como criar os seus filhos com amor, Pergaminho, p.108)
As crianças têm uma série de qualidades a que se calhar não damos importância. É mais fácil percebermos os problemas que são muitas vezes criados por nós do que as qualidades que as crianças apresentam na sua relação com os adultos e com os pares.
Quando acontece um caso de violência intrafamiliar ficamos chocados e é a oportunidade para algumas pessoas porem em questão a educação sem violência das crianças e, provavelmente, arranjamos sempre uma desculpa para justificarmos práticas punitivas e humilhantes, que achamos que, essas sim, funcionam... A criança ainda é vista como um ser que precisa de ser “endireitado” para se tornar adulto.
Ora a criança não nasce ensinada e também pode não aprender à primeira. Pode ser necessário repetir para aprender. Afinal como qualquer ser humano.
O respeito pela infância é uma marca da qualidade da infância que por sua vez é uma marca da qualidade de vida da nossa sociedade.
O respeito, a par com o carinho, são as grandes vias para a educação responsável e justa.
Os nossos filhos e os nossos alunos são muito melhores do que pensamos.
A facilidade com que atribuímos incapacidades às crianças, e aos alunos na escola, é surpreendente: “Não trabalha”, “é preguiçoso”, “é hiperactivo”, “está sempre na lua”, “fala pelos cotovelos”, “nunca participa”, “é implicativo”...
Mas a realidade diz-nos que essas crianças precisam de nós e do nosso trabalho para crescerem ...
A realidade, confronta-nos, todos os dias, com as maldades que os adultos fazem às crianças. Os maus tratos físicos de todo o tipo, os abusos sexuais, o tráfico de menores,... provam que não estamos no caminho certo da proteção da infância e do respeito que nos merece.
Mas não é apenas a maldade activa, é também o abandono, a ausência, o afastamento das pessoas de ligação - os pais - que deviam estar presentes de algum modo na vida dos filhos, transmitindo aprendizagens por modelagem e regulando as circunstâncias, as dificuldades e os problemas da vida, o diálogo permanente, sabendo que, no fim da linha, a autoridade são os pais e a decisão final pertence aos pais.
Os nossos filhos apresentam qualidades que mostram que são boas pessoas como refere Carlos Gonzalez (p.108-121):
o seu filho é desinteressado. O amor de uma criança é assim: puro, absoluto e desinteressado,
o seu filho é generoso mesmo quando parece egoísta,
o seu filho chora, claro! quando tem razões para isso,
o seu filho sabe perdoar sem fingimentos e sem reservas, não guarda ressentimento,
o seu filho é sincero e facilmente diz o que pensa,
o seu filho é sociável, basta observar quando brinca sem reservas com outras crianças,
o seu filho é compreensivo, e sabe confortar quando vê alguém em sofrimento...
O desenvolvimento de uma criança é feito de palavras e mimos, "… devemos tratar os nossos filhos com carinho e respeito…pegar-lhes ao colo ou consolá-los quando choram.” (" 'Todos os castigos são inúteis', diz o pediatra do contra, Carlos Gonzalez", Entrevista de Ana Cristina Marques, Observador, 26-5-2014)
Tal como gostávamos que nos acontecesse a nós.

