02/10/25

Humildade - Uma força terapêutica



Alain de Botton, em Uma viagem terapêutica, releva a importância da psicoterapia que todos podemos praticar na nossa vida diária, designadamente nos sítios que por mais pessoais que sejam, são também os lugares onde pode ocorrer mais atrito entre as pessoas.
"Os paradigmas da psicoterapia não pertencem apenas à prática clínica; aplicam-se, de forma mais abrangente ao quarto e, sobretudo, ao lado de fora da porta da casa de banho, à meia-noite, durante aquelas discussões acesas sobre quase nada. Quando as relações se tornam difíceis como invariavelmente acontece, as noções terapêuticas podem fornecer-nos os meios para lidar empaticamente com muitos dos aspetos mais estranhos em nós próprios e nos nossos parceiros.“ (p. 152).

Assim, há conceitos terapêuticos que poderão ser muito úteis para a nossa vida cotidiana. Muitos destes conceitos têm a ver com as atitudes que adoptamos quando pretendemos uma comunicação compreensiva e eficaz na nossa vida. 
Podemos relevar, por exemplo, a escuta reflexiva, deixar espaço para a solidão e suavizar a linguagem:
- a escuta reflexiva significa escutar mais do que falar, usar a paráfrase, sublinhando o que o outro nos diz não como eco das suas palavras mas com palavras novas e diferentes que validam a sua experiência e narrativa.
- espaço para a escuridão – não devemos negar a gravidade do que a pessoa está a sentir e que acabou de nos transmitir.
- suavizar a linguagem – evitar a forma directa como tentamos incutir as nossas ideias na mente do outro, não emitir sentenças sob pena de sermos rejeitados com violência e indignação ... "mas assinalar claramente que estamos a explorar possibilidades"... (p. 152-162)

Outro importante conceito terapêutico é a humildade. 
No Livro de Ben-Sirá podemos ler: “em todas as tuas obras procede com humildade e serás mais estimado do que o homem generoso. Quanto mais importante fores, mais deves humilhar-te e encontrarás graça diante de Deus.”

A humildade, para o psicólogo M. Seligman, é uma força de carácter que integra a virtude da temperança, tal como a misericórdia: prática do perdão e da compaixão, evitando atitudes vingativas; a prudência: o cuidado com as atitudes, e o autocontrole: a capacidade de controlar as suas emoções e impulsos. (1)

A humildade consiste em não se ver como alguém melhor do que os outros. 
A humildade aparece também ligada à modéstia, ou é traduzida por modéstia, “não tem nada a ver com falta de ambição, mas com uma aspiração mais consciente a algo que passámos a reconhecer como principal ingrediente da felicidade: a paz de espírito.” (p. 83)
A humildade é um antídoto para o orgulho, o sentimento de superioridade em relação a tudo e a todos. O orgulho patológico caracteriza-se pela vaidade, soberba, arrogância e pretensiosismo. É uma atitude de superioridade e um sentimento de desprezo em relação aos outros. O orgulhoso tem um auto-conceito exagerado de si próprio.

A humildade interessa na terapia de algumas perturbações psicológicas, como, por exemplo, na terapia para recuperação de uma depressão. A humildade permite a aprendizagem do que é importante na vida e, desta forma, ajuda a superar a doença. (2)
A humildade pode ser um remédio para a fobia de impulsão. Na justa medida em que quisermos ser humildes e não ceder à tentação do orgulho de “sermos os maiores”.

Até para a semana. 

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(1) Martin Seligman, A vida que floresce.
(2) É, nesta perspectiva, muito interessante a Entrevista de Joao Vieira de Almeida ao Observador.



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Rádio Castelo Branco









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