09/10/25

Saúde mental para todos


 

Comemora-se amanhã, dia 10 de Outubro, mais um Dia Mundial da Saúde Mental. O tema da Organização Mundial da Saúde (OMS) para o Dia Mundial da Saúde Mental de 2025 é "Saúde mental para todos: acessível e inclusiva", focando-se no acesso equitativo a cuidados de saúde mental de qualidade. (1)


A partir de 2020, com a pandemia, muita coisa se alterou na nossa vida. Tanto mais que as guerras que se seguiram, sem fim à vista, são responsáveis por mais ansiedade, insegurança, falta de perspectivas de futuro. Dizia-se então: “vai ficar tudo bem”. De facto, podemos dizer, cinco anos depois, que não ficou tudo bem. 

Vejamos, numa breve avaliação: 

A pandemia revelou novas preocupações no que respeita à saúde mental. Estamos menos tolerantes, mais propensos ao conflito. Aumentou o consumo de antidepressivos e de ansiolíticos. Há mais casos graves a chegar às urgências dos hospitais, incluindo de tentativas de suicídio, algo que poderia ser evitado se antes tivesse havido apoio psicológico, dizem os especialistas. É sobretudo nas crianças e nos jovens que a saúde mental foi mais afetada pela covid-19. E há efeitos que só vamos conseguir ver quando esta geração chegar à idade adulta. Os pediatras estão a identificar, em consultas de rotina, mais casos de sofrimento mental. (2)


Segundo o psiquiatra Caldas de Almeida, “O campo da saúde mental é muito vasto e integra fenómenos de natureza diversa:
A saúde mental positiva que constitui a base do bem-estar mental, do funcionamento efetivo e da capacidade relacional dos indivíduos. 
As doenças mentais ou psiquiátricas, que são entidades patológicas caracterizados por um conjunto de sintomas e sinais psicológicos e comportamentais associadas a sofrimento psíquico e, muitas vezes, também a incapacidades de vária ordem... 
E ainda problemas de saúde mental relacionados com situações que envolvem algum sofrimento psíquico, embora não cumpram os critérios para o diagnóstico de uma doença mental...” (J. M. Caldas de Almeida, A saúde mental dos portugueses, F. F. M. dos Santos, p.15)


“Se definirmos a doença mental como uma perda de controle sobre a mente poucos de nós podem garantir estar livres de algum tipo de mal-estar. A verdadeira saúde mental envolve uma aceitação honesta de que mesmo nas vidas mais competentes e significativas, haverá sempre algum grau de sofrimento ou dificuldades." (Alain de Botton, Viagem terapêutica, D. Quixote, p.19)


“A saúde mental é um milagre de que não nos apercebemos até ao momento em que nos foge das mãos - e nesse momento perguntamo-nos  como é que até aí conseguimos fazer algo de tão belo e complexo como manter os nossos pensamentos sadios e equilibrados” (idem, p. 14)

Para continuarmos neste caminho mentalmente saudável, o que podemos fazer?
Em primeiro lugar, não hesitar em procurar ajuda especializada quando não entender o que se passa consigo, com os seus pensamentos e sentimentos.
Entretanto, podemos fazer muito por nós e pelas pessoas da nossa família. O auto-cuidado, cuidar de si próprio, com o recurso a terapias de auto-ajuda é um primeiro passo para mantermos uma mente saudável e plenamente funcional.

 

Até para a semana.

 

 

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(1) Na realidade o tema deste ano destaca a "saúde mental nas emergências humanitárias".  No entanto, o Google informou-me que  "saúde mental para todos"  era o tema para 2025. De facto, este tema podia servir para todos os anos.

Nos dois anos anteriores, os temas foram "A saúde mental é um direito humano universal" (2023) e "É hora de priorizar a saúde mental no local de trabalho" (2024). 

Este dia foi celebrado pela primeira vez em 1992, por iniciativa da Federação Mundial para Saúde Mental.


(2) "Cinco anos depois, há muita gente que não se libertou da máscara". Como ficou a saúde mental depois da pandemia? "Pior",  Wilson Ledo , 9-3-2025,  CNN PortugalPodemos também ver o "Impacto da COVID-19 na saúde mental", SNS24.

 

 



Rádio Castelo Branco








02/10/25

Humildade - Uma força terapêutica



Alain de Botton, em Uma viagem terapêutica, releva a importância da psicoterapia que todos podemos praticar na nossa vida diária, designadamente nos sítios que por mais pessoais que sejam, são também os lugares onde pode ocorrer mais atrito entre as pessoas.
"Os paradigmas da psicoterapia não pertencem apenas à prática clínica; aplicam-se, de forma mais abrangente ao quarto e, sobretudo, ao lado de fora da porta da casa de banho, à meia-noite, durante aquelas discussões acesas sobre quase nada. Quando as relações se tornam difíceis como invariavelmente acontece, as noções terapêuticas podem fornecer-nos os meios para lidar empaticamente com muitos dos aspetos mais estranhos em nós próprios e nos nossos parceiros.“ (p. 152).

Assim, há conceitos terapêuticos que poderão ser muito úteis para a nossa vida cotidiana. Muitos destes conceitos têm a ver com as atitudes que adoptamos quando pretendemos uma comunicação compreensiva e eficaz na nossa vida. 
Podemos relevar, por exemplo, a escuta reflexiva, deixar espaço para a solidão e suavizar a linguagem:
- a escuta reflexiva significa escutar mais do que falar, usar a paráfrase, sublinhando o que o outro nos diz não como eco das suas palavras mas com palavras novas e diferentes que validam a sua experiência e narrativa.
- espaço para a escuridão – não devemos negar a gravidade do que a pessoa está a sentir e que acabou de nos transmitir.
- suavizar a linguagem – evitar a forma directa como tentamos incutir as nossas ideias na mente do outro, não emitir sentenças sob pena de sermos rejeitados com violência e indignação ... "mas assinalar claramente que estamos a explorar possibilidades"... (p. 152-162)

Outro importante conceito terapêutico é a humildade. 
No Livro de Ben-Sirá podemos ler: “em todas as tuas obras procede com humildade e serás mais estimado do que o homem generoso. Quanto mais importante fores, mais deves humilhar-te e encontrarás graça diante de Deus.”

A humildade, para o psicólogo M. Seligman, é uma força de carácter que integra a virtude da temperança, tal como a misericórdia: prática do perdão e da compaixão, evitando atitudes vingativas; a prudência: o cuidado com as atitudes, e o autocontrole: a capacidade de controlar as suas emoções e impulsos. (1)

A humildade consiste em não se ver como alguém melhor do que os outros. 
A humildade aparece também ligada à modéstia, ou é traduzida por modéstia, “não tem nada a ver com falta de ambição, mas com uma aspiração mais consciente a algo que passámos a reconhecer como principal ingrediente da felicidade: a paz de espírito.” (p. 83)
A humildade é um antídoto para o orgulho, o sentimento de superioridade em relação a tudo e a todos. O orgulho patológico caracteriza-se pela vaidade, soberba, arrogância e pretensiosismo. É uma atitude de superioridade e um sentimento de desprezo em relação aos outros. O orgulhoso tem um auto-conceito exagerado de si próprio.

A humildade interessa na terapia de algumas perturbações psicológicas, como, por exemplo, na terapia para recuperação de uma depressão. A humildade permite a aprendizagem do que é importante na vida e, desta forma, ajuda a superar a doença. (2)
A humildade pode ser um remédio para a fobia de impulsão. Na justa medida em que quisermos ser humildes e não ceder à tentação do orgulho de “sermos os maiores”.

Até para a semana. 

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(1) Martin Seligman, A vida que floresce.
(2) É, nesta perspectiva, muito interessante a Entrevista de João Vieira de Almeida ao Observador.



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Rádio Castelo Branco