29/05/25

Vitórias e derrotas


No futebol como na política, no (nosso) clube ou no (nosso) partido, tem que se conseguir a vitória a todo o custo e a derrota não pode existir. 
Em todos os jogos da nossa vida, no jogo familiar, sindical, interpessoal, transformamos cada vitória ou derrota num assunto tão fundamental que reagimos com emoção de forma desproporcionada, ou arranjamos maneiras de enviesar e alterar a realidade do fracasso.

Porque é tao dificil assumir a derrota? Já nos habituámos a ver, nas noites eleitorais, transformar derrotas em vitórias. Há quem nunca perca e seja incapaz de ver a realidade. Assistimos muitas vezes a episódios de quem não sabe perder e até tem mau perder. 
E o que é mais espantoso: porque não se sabe ganhar? Por que é que nas vitorias tem que haver vingança e manifestações violentas ?

Experiências positivas e negativas, vitórias e derrotas afetam o cérebro de maneiras diferentes.  (Veja o que acontece no cérebro na vitória e na derrota)
Na vitória, o cérebro liberta substâncias químicas, principalmente dopamina, que é frequentemente associada ao prazer e à recompensa. Cria uma sensação de euforia e satisfação, que incentiva a repetir comportamentos que levam ao sucesso. 

Por outro lado, numa derrota, o cérebro liberta dopamina em níveis muito menores. Em vez disso, outras áreas do cérebro, como a amígdala, que está associada às emoções e ao processamento do medo, tornam-se mais activas. Isso pode levar a sentimentos de frustração, tristeza ou, até mesmo, raiva.

A maneira como a mente interpreta uma derrota pode influenciar a resposta do cérebro. "Pessoas que vêem a derrota como uma oportunidade para aprender tendem a recuperar mais rapidamente e a serem mais resilientes. Isso sugere que a mentalidade desempenha um papel crucial na forma como o cérebro processa falhas e sucessos".

Na experiência de M. Seligman sobre o fracasso aprendido sabemos que podemos ser ainda mais prejudicados, a ponto de nos deprimirmos: nunca ganho, tudo corre sempre mal, perdido por cem perdido por mil...

Psychologies
Por outro lado, sabemos que cada fracasso pode ser um progresso para o sucesso. Mais do que lamentar-nos dos fracassos, é preciso celebrá-los como etapas cruciais do nosso percurso. Cada fracasso é uma lição, cada decepção é uma oportunidade de crescimento. Devemos aceitar os desafios, porque eles são o que nos torna mais fortes e nos impulsiona. Por isso, não devemos ficar presos em pensamentos negativos. Cada dia oferece uma nova chance de nos reinventarmos e construir um futuro mais positivo.

Eduardo Sá em "As derrotas das vitórias", refere: “O que custa numa noite de eleições é que muitos dos que concorrem nunca percam. Mesmo quando perdem. Na verdade, desistem de se confiar às suas derrotas e de crescer com elas. E demonstram, nesse momento, que se desencontraram da humildade de reconhecer a dor.”

Para concluir, podemos dizer que é derrotado quem não sabe perder mas é igualmente derrotado quem não sabe ganhar mesmo que a evidência seja menos óbvia.


Até para a semana.





Rádio Castelo Branco





23/05/25

Vínculo vital


Amar é uma tarefa da vida inteira. Aprender a amar também. Temos assim a possibilidade de experimentar desafios que ao longo do tempo vamos tentando superar; isto quer dizer que a nossa vida  é também um processo terapêutico em que nos adaptamos e tornamos melhores pessoas.

“Aprender mais sobre o que é o verdadeiro amor é essencial para superar a confusão mental, permitindo-nos detetar a sua ausência na forma como nos tratamos e começar a nutrir e honrar a sua presença naqueles de quem decidimos aproximar-nos”. (Alain de Botton, Uma viagem terapêutica, p.131)

Para Alain de Botton, temos uma ideia fundamentalmente romântica e pouco útil do amor segundo a qual o amor é a recompensa que alguém recebe pelos seus pontos fortes: ser rico, popular, carismático...

Porém, existe uma outra concepção de amor, não como recompensa pelos pontos fortes mas como simpatia e compromisso com a fraqueza: “Amor é o que sentimos quando vemos um bebé recém-nascido, indefeso  perante o mundo, a tentar agarrar o nosso dedo, apertando-o com força e esboçando um sorriso  frágil e agradecido.”...

As pessoas em quem devemos acreditar “são aquelas que se comovem com as nossas crises que estão por perto nas horas mais sombrias que estarão ao nosso lado quando o resto do mundo estiver a fazer troça.” (idem)


Sob o signo do afecto (da capa),
 de B. Cyrulnik  

Na encíclica Fratelli Tutti, o Papa Francisco, definiu o vínculo amoroso como o vínculo da vida:  “ninguém pode experimentar o valor de viver, sem rostos concretos a quem amar” (nº 87), ou seja, com as suas potencialidades mas também fragilidades.

Este vínculo vital exige rostos concretos a quem amar. São pessoas que têm as suas características mesmo que não sejam aquelas que mais apreciamos.

 

Ou seja, a nossa viagem humana  é constituída pelas nossas potencialidades mas também pelas vulnerabilidades: “as fraquezas, carências, medos, imaturidades, incompetências ou simples esquisitices”. (idemNo fundo, características humanas. Tanto umas como outras  podem ter aspectos importantes nessa viagem. Podemos aprender a amar e esta aprendizagem implica podermos ser vulneráveis.


No “decurso da vida” que inicia com a infância pode acontecer que as vulnerabilidades, como as perturbações psíquicas, provoquem rupturas no equilíbrio da nossa personalidade. 

Vão com certeza acontecer crises previsíveis mas  também imprevisíveis, algumas dessas crises podem transformar-se em factores de risco e, em alguns casos, factores de perigo, que seja necessário controlar ou resolver.

E é da interacção de potencialidades, como factores de protecção, e vulnerabilidades, como factores de risco, que pode surgir o equilíbrio na nossa vida e na nossa vida mental.

 

Os psicólogos têm vindo a adoptar sistemas compreensivos desta realidade. Assim, do jogo entre potencialidades e fragilidades resultantes do processo de socialização, das condições sócio-culturais e biopsicológicas do indivíduo (como, por ex., a adaptação cognitiva resultante do processo de assimilação e de acomodação) pode resultar a adaptação ou desadaptação;  e este é um processo de equilíbrios sucessivos (ou equilibração) em que as estruturas mentais vão mudando.

Para Alain de  Botton, os paradigmas da psicoterapia podem aplicar-se às relações amorosas, mesmo quando as relações são difíceis, como a escuta activa, suavizar a linguagem...

 


Até para a semana.





Rádio Castelo Branco 





16/05/25

A cultura do cuidado

 

É a prática  que mais falta faz na nossa sociedade. É verdade que o simples facto de se falar no assunto mostra preocupação de mudança. Mas há épocas  em que parece que estamos pior. As guerras vão-se somando e todos os dias nos apercebemos desse mundo sofrido que não vê solução nos políticos, quer democraticamente nossos representantes, quer ditadores, para haver melhoras.

Vivemos num mundo  de direitos, os direitos humanos, os direitos das crianças. Mas de que direitos se trata quando há milhões de crianças que não têm garantido sequer o direito à vida?

Em vez de os líderes deste mundo adoptarem a  cultura do cuidado como um imperativo, o que temos são guerras entre vizinhos, as guerras mais destrutivas, com os meios sofisticadamente selváticos, as mais violentas.

 É por isso que a cultura do cuidado é a base de toda a convivência. Sem ela não teríamos evoluído das cavernas para o respeito dos direitos humanos e da infância.


Dizia o Dr. Armando Leandro: “Não há desenvolvimento ético, cultural, social e económico de qualidade sem qualidade humana e esta é subsidiária em alto grau da qualidade da infância.

O desenvolvimento dessa cultura da infância, ao nível da prevenção e da intervenção reparadora e superadora do perigo, compete a todos.” 

Como estava certo: Pelo tratamento dado aos mais frágeis podemos avaliar a sociedade.

Os maus tratos às crianças são apenas o sintoma de um sociedade que não está bem e que acaba por se magoar a si própria.


Leão XIV, na alocução inicial do seu pontificado, falou da necessidade de uma paz que seja  desarmada e  desarmante, construída através do diálogo e da criação de  pontes.

Um coro universal das vítimas da  insensibilidade, devia todos os dias soar aos ouvidos dos líderes mundiais, reclamando justiça e paz.  Até que entendessem que os resultados das guerras são sempre o sofrimento de todos, dos perdedores mas também dos vencedores.

Uma cultura do cuidado, como o do samaritano que ajudou o estranho que encontrou doente no caminho é o sentimento que faz falta.


A cultura do cuidado é fundamental para vivermos como pessoas como seres humanos que existem  com os outros e em que os narcisismos não são determinantes. 

Uma cultura do cuidado é uma cultura da interdependência onde ninguém é descartável.

“...  quando chegamos a este planeta, somos desde o início da vida rodeados de cuidados diversos que se prolongam no tempo;  chega depois a altura em que devemos cuidar de outras pessoas e passaremos por momentos em que teremos de permitir que outros cuidem de nós, inclusive quando ainda esteja longe o fim da nossa vida. 

Estaremos preparados para assumir a interdependência que exige a nossa própria vulnerabilidade? Teremos consciência de que devemos cuidar de nós próprios, dos nossos entes queridos, do conjunto da sociedade e do mundo em que vivemos? 

Uma sociedade em que o bem-estar individual e o bem-estar coletivo andam de mãos dadas é mais humana, mais forte e muito mais comprometida.” (Isabel Sánchez, Cultura do cuidado )

 

 

Até para a semana.

 



 Rádio Castelo Branco


 




04/05/25

Para todas as mães


Conversa de mãe 

Olhem só para o meu lindo filho! 
Com suas franjas douradas de cabelo, 
Olhos azuis, bochechas vermelhas! 
Bem, pessoal, vocês têm um filho assim?
Não, pessoal, vocês não têm!
...


Para todas as mães.