29/09/17

Obrar

Depois de várias tentativas eleitorais em que nos prometeram mudanças, "agora é que é", ou  como na colocação do "maior mastro do mundo" (Deolinda), os programas eleitorais continuam a ser lindos e megalómanos mas, na realidade, as prioridades da actividade municipal continuam a ser:
Obrar.  De norte a sul. Vira o país em estaleiro e  ninguém tem descanso com o barulho dos martelos pneumáticos e retroescavadoras, incluindo trabalho aos sábados, trabalho até mais tarde, para que a 1 de Outubro tudo pareça pronto a inaugurar; o que não se fez em quatro anos, ou mesmo em oito, faz-se agora da noite para o dia; com dinheiro ou sem ele, o importante é apresentar obra que se veja porque sem obra autarca fica invisível. É uma espécie de absolvição para todas as "irregularidades": "corrupto  mas com obra feita".
Praça das Flores, Lisboa
Vangloriar-se. Revêem-se na obra feita, publicitada em cartazes que inundam avenidas e rotundas. Concorrem para oferecerem mais obras e serviços gratuitos, livros, infantários, casas ... a gratuitidade em todo o lado.
Gostam de dar o nome a ruas, estádios de futebol, bibliotecas... e sonham ser comendadores.
Enquanto assim for, situação e oposição, os que saem e os que entram,  estão bem uns para os outros e, sem dúvida, que: "El postito portugués/Solo es grandito en pequenez".
Denunciar. É este o tempo preferido para denunciar os que estiveram antes ou querem ficar agora,  surgem denúncias ligadas a "irregularidades": "revelações" sobre os  escândalos maiores, mais pequenos, indícios...
"Sacrificar-se". Pelos outros. No entanto, não quiseram que a  lei da limitação de mandatos os libertasse desse pesado sacrifício. Afinal, foi esclarecido, a lei só se referia à mesma autarquia e, passado um ano de nojo, poderiam voltar a sacrificar-se, e foi o que aconteceu este ano com alguns veteranos das autarquias que estão dispostos a ficar até caírem da tripeça. Três mandatos de sacrifício a somar a outros três, para terminarem não como comendadores mas como santos.
Falir e taxar.  É o que acontece a alguns municípios, porque tudo vai continuar na mesma. Sabemos, no entanto, quanto custa a gratuitidade a quem paga  impostos: IRS (9% dos cidadãos paga 70% deste imposto), IMI, Taxas e taxinhas...
Desleixar.  Falta de passadeiras, falta de locais nos passeios para passagem de cadeiras de rodas, carrinhos de bebé, pessoas com dificuldades de mobilidade...
Quinta das Conchas, Lisboa
A mistura de irresponsabilidade município/munícipes. Nojento é como se pode descrever o estado de algumas ruas, lixo por todo lado, restos de obras, pedras que saltaram do sítio, papeleiras estragadas e insuficientes, parques infantis inseguros, árvores cortadas sem serem repostas, troncos das árvores e jardins desleixados que servem de lixeira/estrumeira aos cães dos munícipes que gostam de animais, mas também gostam de deixar os dejectos na rua deles e dos outros, que gostam tanto de animais que os abandonam, porque só os abandona quem os tem, e vagueiam pela cidade.
Garantir. O futuro dos familiares e amigos fica assegurado. Tudo boa gente, tudo gente que se vai sacrificar para liderar as autarquias e ficar a obrar para a comunidade, se bem que obrem mais para os próprios e respectivos familiares e amigos.
Votar? "A esperança é a última a morrer"?
_______________________________
Sobre o assunto acabei de ler "Tu és a revolução", de Clara F. Alves, "Pluma caprichosa", A revista do Expresso, nº 2344, de 29/9/2017.

Sem comentários:

Enviar um comentário