24/01/09

Preguiça ?

Há conceitos que usamos no quotidiano que em psicologia se podem enquadrar naquilo que Ebbinghaus chamava de psicologia implícita .
Por isso, a investigação tem vindo a compreender melhor alguns comportamentos
Preocupa-me que continuemos a rotular as pessoas, e principalmente as crianças, com classificações que não são mais do que clichés tradicionais mas que dificilmente correspondem à realidade.
A preguiça é um desses conceitos.
Mas o que é efectivamente um aluno preguiçoso? Quantos alunos preguiçosos é que temos nas nossas escolas ? Em que factos se baseia esta construção do aluno preguiçoso ?
E já agora é um defeito ou uma virtude ? Para alguns mais moralistas, a preguiça é a mãe de todos os vícios. Mas para outros, como P. Lafargue, que fez o elogio da preguiça, a preguiça é uma virtude principalmente no sistema capitalista.
Claro que se trata de outro contexto…
Mas desde que o Professor Bairrão Ruivo estudou os alunos preguiçosos, na sua tese de doutoramento, deixei de aplicar, na minha profissão, esse termo aos alunos. Uma criança preguiçosa poderá ser uma criança de risco, risco biológico, social….
Além disso, com Piaget aprendemos que a criança é activa e é pela actividade que ela aprende.
Bion trouxe-nos também o conceito de epistemofilia que é o desejo de aprender e todas as crianças são curiosas e têm esse desejo.
Quando uma criança não manifesta actividade é porque alguma coisa está mal e não é certamente por ser preguiçosa
Claro que é mais fácil rotular como preguiçosa uma criança com dificuldades escolares.
Como conta Isabel Stilwell: “Só quem passou por isso sabe como é ver uma professora, frente a todos os meninos, levantar a nossa redacção ao ar e a dizer: «Vinte erros! Vinte erros, como é que é possível!?!» …
Diariamente, a repreensão repetia-se (e desconfio que, apesar de todas as modernices pedagógicas, ainda se repete em muitas escolas), e aquele que não sabia escrever ia sendo rotulado por todos, entre risinhos de troça. Os sintomas seguintes eram (e são) os óbvios, as dores de barriga, os ataques de asma, as insónias, porque o corpo saltava em defesa do seu dono, todos os dias assaltado na sua auto-estima. O «preguiçoso» implorava que o tirassem da escola, mas a mãe devolvia-o à sua carteira, e recomendava-lhe mais empenho.
Um dia deram nome a esta deficiência. Chamaram-lhe Dislexia, mas os professores continuaram, durante muito tempo, a insinuar à criança que se inventara uma doença à sua medida, para esconder a preguiça.”
Esta questão levanta outro problema chamado procrastinação. Que é o diferimento ou adiamento de uma acção.
Quem é que de nós, alguma vez, não deixou alguma coisa para fazer amanhã.
Só as crianças é que não gostam de fazer os trabalhos de casa ou guardam sempre tudo para a última hora ?
Vontade não nos falta mas depois fazemos, como cantam os Deolinda, no movimento perpétuo associativo.
-Agora não, que é hora do almoço...
-Agora não, que eu acho que não posso...
-Agora não, que me dói a barriga...
-Agora não, dizem que vai chover...
-Agora não, que joga o Benfica...
e eu tenho mais que fazer...
- Agora não que falta um impresso…

Vão sem mim que eu vou lá ter…




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