02/06/22

Saúde mental na escola - o lugar da compaixão

O sofrimento, e o sofrimento psicológico, faz parte da vida, mas muito do sofrimento é evitável ou pode ser minimizado. Para isso devemos investir no bem-estar como o modo normal de viver em sociedade *. 

É desolador que tenha acontecido mais um massacre numa escola primária dos EEUU em que um jovem de 18 anos assassinou 19 crianças, entre sete e dez anos, e 2 professoras.
Durante um tempo, voltamos à discussão sobre a questão das armas nos EEUU  e sobre a compreensão deste fenómeno como sintoma de mal-estar na sociedade. Depois cai no esquecimento e somos despertados para o problema quando outro terrível massacre acontecer.

Já sabemos que há um padrão de actuação nestas situações (Viviane Cubas). Assim sendo, podemos prever os factores de risco e perigo.
- A maioria dos casos violentos que resultam em mortes ocorreram durante períodos de transição como o início ou final das aulas ou durante o período de intervalo; ou início e fim do semestre;
- quase 50% dos agressores homicidas deram algum sinal de perigo antes do evento, através de bilhetes ou ameaças;
- Entre as crianças e os jovens que foram agressores, 20% haviam sido vítimas de bullying e 12% tinham expressado ideias ou comportamentos suicidas;
- A facilidade com que os jovens adquiriam as armas usadas nos massacres;
- A cultura norte americana: intensa competição nas relações interpessoais, onde prevalece a valorização da cultura do forte e ridicularização do fraco parece ser também um traço marcante em muitas escolas;
- Não se pode refutar a possibilidade de envolvimento de pessoas com perturbações mentais; 
- O processo de socialização, os padrões de comportamento, valores e crenças... 

Apesar de já se saber isto, mais uma vez se repetiu o padrão: A compra de armas, a informação nas redes sociais, uma vítima de bullying...
Se já se conhece o modus operandi, porque não temos capacidade social para travar o acting out de um jovem que o leve a desistir do seu comportamento, da sua compulsão de levar por diante um massacre?
Neste caso parece que tudo falhou. Não será apenas a velha questão da venda de armas de guerra a qualquer pessoa, coisa, aliás, que para nós na Europa seria impensável. Em qualquer sociedade, é necessário agir na prevenção, na qualidade de vida, no bem-estar, numa vida familiar efectiva, seja qual for a sua estrutrura... 

Em suma, é necessário desenvolver a compaixão das pessoas para podermos criar uma sociedade que se diga civilizada.
“... quanto mais cultivarmos a bondade, tanto menos teremos de lidar com a ira e o ódio. É como termos um sistema imunitário forte...”
É muito importante o trabalho feito nas escolas sobre bullying e ciberbullying... mas também devíamos estar a aprender a compaixão, que é “diametralmente oposta à crueldade”, sermos felizes com a felicidade dos outros, sermos capazes de nos colocarmos no lugar dos outros.
Desta forma, este poderá ser o acompanhamento de que um jovem necessita para poder inibir o acting out e passar a “já posso imaginar que faço”.

Até para a semana.

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* Tento compreender os comportamentos e, para isso, volto a: Crescer vazioInteriores, Preciso de ti  (Pedro Strecht), A bondade e o perdão (Amaral Dias)Eu já posso imaginar que faço (Amaral Dias/J. Sousa Monteiro) e Emoções destrutivas e como dominá-las - Um diálogo científico com o Dalai Lama (Daniel Goleman).




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