27/12/20

No dia da Sagrada Família



Berlioz - L'enfance du Christ, Op 25, (A Infância de Cristo)
L' Adieu des bergers à la Sainte-Famille
(Adeus dos pastores à Sagrada Família)

Concert de l'Académie de musique de Paris à l'église de la Trinité à Paris.
Direction : Jean-Philippe Sarcos
2013

17/12/20

“Neste Natal nada nos pode separar”


É o que diz a publicidade* mesmo que nunca tenha havido, nas nossas vidas, um tempo de Natal como este em plena pandemia e estado de emergência.

Já tínhamos que lidar com o risco normal que faz parte do quotidiano da nossa vida mas agora também temos que lidar com este que ninguém previu. Dispensava-se mais esta provação.

Mas este Advento de 2020, é também tempo de desafio da capacidade de superação do ser humano,  da capacidade de bondade para com os outros e de atingir os mais altos estádios de desenvolvimento moral.

 

Depois das conquistas científicas e sociais do século XX voltamos a mostrar a nossa fragilidade porque mais expostos à morte ou porque a nossa relação com a morte passou a ser diária, nas estatísticas da pandemia à hora do almoço, que a DGS divulga em todos os media, nas conversas com os outros, ou no seio da própria família quando um dos seus elementos fica contagiado ou esteve em contacto com alguém covid positivo.

O maravilhoso mundo construído desde a segunda metade do sec. XX começou a desabar. Muitas famílias voltaram a níveis elementares  de subsistência porque perderam os empregos, os negócios, as empresas...

Tudo isto se reflecte na vida da família. O século XX foi o século da descoberta da criança e apesar de todos estas alterações que vivemos há algo de substancial que não muda:  “Todas as crianças nascem com direito a uma família, sendo que uma família não é um pequeno grupo de pessoas com uma história comum que se converte em cumplicidades, mas os laços que entre elas se criam através de experiências de intimidade, irrepetíveis, inimitáveis e inefáveis”. (Eduardo Sá, Más maneiras de sermos bons Pais, p. 33).

 

O advento é o tempo da construção de uma família e, portanto, da  esperança e da expectativa, que  pouco a pouco se vai concretizando até ao nascimento de um filho. 

O Natal, como os outros dias de festa  é a realização das necessidades básicas (Maslow) da criança do ponto de vista da sobrevivência biológica mas também do ponto de vista simbólico.

“O  que é maravilhoso na magia positiva dos dias de festa é o facto de que ela dá à criança segurança durante todo o ano, quando é mais necessária, mesmo nas circunstâncias mais penosas da vida”. (Bruno Bettelheim, Bons Pais, p. 593)

Segurança e confiança real e simbólica representada nas pequenas coisas que só as crianças sabem avaliar e guardar, nos presentes insignificantes para nós mas que a elas lhes dá expectativas de futuro.

E diz-nos D. Antonino Dias (Diocese de Portalegre e Castelo Branco):  Não são as expectativas estáticas nem as meramente racionais ou as simplesmente afectivas ou as memórias fechadas ao  futuro ou as meramente legais.  São “as expectativas que interpelam, comprometem, fazem alargar o horizonte, abrem o coração à surpresa da novidade.” 

“A família é um dos mais importantes campos em que a expectativa, como atitude própria de Advento, pode ser aprendida, educada, purificada, vivida e ajudar a vida com os seus talentos a dar fruto”. (Reconquista, p. 2, 3-12-2020).

 


Um bom Natal, com muita saúde.


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* "Neste Natal, nada nos pode separar" ("A campanha de Natal da Nos é uma história de amor entre avós e netos").









13/12/20

Terapia da natureza

                   


As terapias que oferecem alívio do sofrimento e prometem a cura da doença são inúmeras.
Porém, muitas delas não obedecem a critérios rigorosos e a métodos científicos para podermos confiar nelas. E, por isso, facilmente nos colocamos numa posição céptica em relação às terapias. Neste caso muitas questões se colocam: Há mesmo uma terapia da natureza? Há provas de que a natureza melhora a nossa saude e cura algumas das nossas doenças? É mais uma panaceia para que alguns espertos ganhem dinheiro ludibriando os crédulos? É mais uma moda porque tudo o que é verde está na moda ?...

Já aqui falámos na terapia de ar livre e da natureza e da hortiterapia e, depois de ter visitado o Parque do Barrocal, e de pensar nas potencialidades terapêuticas que possui, tenho procurado saber mais sobre as terapias da natureza, como em  A natureza cura, de Florence Williams, e shinrin yoku, de Y. Miyazaki, para saber mais sobre as terapias da natureza. 

A ligação da natureza ao ser humano tem uma história tão longa como a da sua existência. Necessitamos de espaços alargados, naturais, onde possamos explorar os nossos sentidos e a nossa paz interior.
"O Homo sapiens tornou-se oficialmente uma espécie urbana por volta de 2008. Foi nesse ano que a OMS informou que pela primeira vez havia mais pessoas em todo o mundo a viverem em áreas urbanas do que em áreas rurais." (F. Williams, p. 22)
Até que ponto esta mudança está a modificar o nosso modo de vida e a nossa biologia ?
A experiência do confinamento devido à pandemia veio pôr em evidênca a necessidade dessa interacção para a nossa personalidade. Na ausência desta interacção com a natureza, aumenta o recurso a medicamentos. São os antidepressivos para os adultos ou os medicamentos para a hiperactividade das crianças...

O controverso biólogo Edward O. Wilson a quem se deve o termo biodiversidade, desenvolveu a ideia de "biofilia" situando-a no mundo natural e identificando "a natural ligação emocional dos seres humanos aos outros organismos vivos" como uma adaptação evolutiva que nos ajudou não só a sobreviver mas também a alargar os limites da realização humana. Apesar de não se terem encontrado quaisquer genes relacionados com a biofilia sabemos que o nosso cérebro responde de modo inato aos estímulos naturais como acontece com o medo. (biofobia ) Como, por exemplo o medo de serpentes... (p. 32) *

Os resultados das experiências de Miyazaki mostram que os benefícios da terapia da floresta se traduz em vários benefícios para a saúde, tais como:  A recuperação do sistema imunitário deficiente, maior relaxamento do corpo, redução do stress ... (Miyazaki, p. 34)

Felizmente, as pessoas têm vindo a tomar consciência da importância da natureza, das árvores, e dos espaços verdes para a sua saúde.
Há protestos e manifestações de cidadãos quando entidades governamentais centrais ou locais decidem cortar árvores, danificar a natureza para construírem equipamentos, como barragens, aeroportos, zonas habitacionais, em zonas sensíveis, cujo impacto ambiental não é levado em conta.

É esta interacção com a natureza que leva todos os verões milhares de pessoas para o litoral para apanharem banhos de sol e banhos de mar. Temos este comportamento porque pensamos que é bom para a nossa saúde, vamos carregar baterias...
Porém, esquecemo-nos de que temos aqui junto de nós, por enquanto, a possibilidade de banhos de natureza tão benéficos para a nossa saúde...

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* "A hipótese da biofilia postula que os elementos pacíficos ou acolhedores da natureza nos ajudaram a recuperar a serenidade de espirito, a clareza cognitiva, a empatia e a esperança. Quando o amor, o riso e a música  não estavam por perto, havia sempre um pôr do Sol. Os seres humanos mais sintonizados com os estímulos da natureza eram aqueles que sobreviviam  e transmitiam estes traços à geração seguinte." (p. 32)

 




https://www.mixcloud.com/RACAB/crónica-de-opinião-de-carlos-teixeira-03-12-2020/









06/12/20

Inominável

 Expresso, Outlook, 29-8-2009



Peço emprestado a PTP este poema que me impressionou quando o li e, sempre que acontece uma  tragédia como esta que enlutou a família Carreira (Sara Carreira tinha 21 anos) me traz de volta a mesma emoção. Só podemos ser solidários com quem passa por tão grande sofrimento.




01/12/20

Parque do Barrocal - o fascínio do tempo




Parque do Barrocal



1. Castelo Branco, conta com mais um equipamento social e cultural, aberto ao público em  7/11/2020, o  Parque do Barrocal. 1

As várias paisagens conseguidas dos vários mirantes que foram criados dão-nos uma perspectiva diferente da cidade  e da paisagem envolvente que se estende até Espanha  e a concelhos limítrofes. 

O silêncio que se pode usufruir num espaço situado dentro da cidade é tão inesperado como, de repente, sentir-se envolvido pelo tempo que esculpiu, em muitos milhões de anos, figuras geológicas que espantam e nos mostram a nossa pequenez quando nos inscrevemos no friso cronológico do planeta ou na grandiosidade das estruturas naturais ali existentes, em contraste com a modernidade do projecto de arquitectura.


O Barrocal oferece, segundo o prospecto divulgado aos visitantes as seguintes actividades: Visitas com guias especializados, Visitas escolares, Passeios pedestres, Parque infantil, Cursos e workshops, Eventos de Arte na Natureza, Eventos de Desporto na Natureza e os Serviços: Cafetaria, Loja, Eventos privados,  Filmagens/ Fotografia.

São enormes as potencialidades do Parque que na minha perspectiva deverão ser, fundamentalmente,  nas vertentes natural, cultural, educativa e espiritual. Este espaço pode ainda ser usado numa perspectiva terapêutica não tanto de "banho de floresta" mas como  “Terapia da Natureza“ ou seja como “uma prática que promete melhorar nossa saúde física e mental que resulta do nosso contacto com a natureza. 2

 

2. No entanto, em 16 de Novembro escrevi no Facebook: "Não é compreensível que numa obra acabada de abrir ao público (Barrocal) tenham esquecido as acessibilidades, a eliminação de barreiras arquitectónicas. A legislação não é cumprida, os objectivos de uma Sociedade Amiga das Pessoas não interessam, a metodologia Universal Design for Learning (UDL) é uma miragem."

Na minha opinião, foi pena que as infra-estruturas ali colocadas, e sei que houve a intenção de mexer o menos possível na natureza, o  que necessariamente sempre havia de acontecer, podia, pelo menos, ser em benefício das acessibilidades e segurança.

Nestes aspectos, acessibilidades e segurança, há ainda muito por fazer, e é pena que não tenha sido tomada em conta a legislação sobre o assunto e, mesmo que tecnicamente fosse de difícil execução e encarecesse o projecto, não devia ser esquecida a eliminação de  barreiras arquitectónicas e outras que permitiria a todas as pessoas usufruirem deste espaço natural de excelência.

No que diz respeito à segurança  e vigilância, certamente estarão  asseguradas de forma a prevenir ou a resolver rapidamente qualquer acidente que aconteça. 

O parque infantil ali implantado ainda está fechado e ainda bem porque, mesmo não sendo especialista de segurança e não sabendo o risco envolvido, mesmo assim parece-me bastante "radical" ou seja, comportando um factor de risco importante para que aconteça qualquer acidente. Mas admito que possa ter sido testado e não haja qualquer problema de segurança. Em todo o caso, provavelmente, estaria mais bem situado noutro contexto ambiental.

 

3. Coloca-se ainda o problema da vigilância... O Parque, como qualquer equipamento social,  é de todos os que o visitam e é importante preservar a natureza de todo o tipo de contaminações e vandalizações a que os equipamentos sociais, paradoxalmente, estão sujeitos. O Parque será tanto mais  aprazível quanto mais estimado for pelos visitantes.

Para já ficaram alguns "graffitis" da treta e asneira  que deviam ser retirados para devolver a dignidade ao local sem aquele tipo de poluição visual. 

 

4. Quanto a algumas das minhas dúvidas, devo dizer que fiquei mais descansado mas também expectante em relação ao futuro do Parque. Fui informado por uma atenciosa funcionária da recepção em relação ao desenvolvimento que se seguirá. Apenas uma pequena parte do Parque foi intervencionada. Outras se seguirão que virão melhorar  e enriquecer aquele espaço. *

 

5. Mais do que opinar sobre este equipamento, o melhor será visitá-lo e desfrutá-lo. Digo-lhe que não se vai arrepender. Foi o que fiz e gostei do que senti. 

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1 O projeto, desenvolvido pelo Topiaris, foi um dos oito finalistas do prémio mundial World Architecture News Awards, na categoria Urban Landscape e que venceu. 
O Parque do Barrocal teve como arquitectos: Teresa Barão, Luis Ribeiro, Catarina Viana, Elsa Calhau, André Godinho, Rita Salgado e Ana Lemos. Envolveu ainda outros especialistas: Olavo Dias, Sérgio Sousa & Gonçalo Santos, Bartolomeu Perestrello, Pedro Delgado e Ana Tiago & Pedro Silva e Sousa.

2. A terapia da floresta (“Forest Therapy“ ou  “shinrin-yoku” -“banho na floresta“) criada no Japão nos anos 80,  como é chamada em seu país de origem, consiste em oferecer aos interessados algumas horas de contacto directo com a natureza em prol de benefícios para a  saúde. O homem precisa da natureza, das árvores para observar, tocar,  plantar... A ligação entre a psicologia e a natureza faz parte do processo evolutivo.

 

* Para saber mais sobre o Parque do Barrocal e questões afins:






https://www.mixcloud.com/RACAB/crónica-de-opinião-de-carlos-teixeira-03-12-2020/