Um dos ditadores mais controversos
do nosso tempo e também dos mais anacrónicos na sua visão do mundo, faleceu a
semana passada (25-11).
Como diz José Manuel Fernandes, (Observador, 27/11/2016), "Um ditador é um ditador. Ponto
final, parágrafo". Fidel Castro, ao
fim de 57 anos de ditadura e de maldades sobre o seu povo, com factos
concretos confirmados, devia ser assim
considerado.
No entanto, mais uma vez, temos
assistido a um ritual de exaltação do culto da personalidade, inclusive vindo de
países democráticos, que mostram que os ditadores da chamada esquerda têm um tratamento diferente, uma reverência especial.
A conquista do poder, e a permanência
nele por longos anos, feita através da violência, da repressão, da falta de
liberdade e de liberdade de expressão, é diferente consoante se trate da visão
política de quem a faz…
Por isso, podemos perguntar: O que
faz desculpar os ditadores de uma área política e não os de outra?
A diferença é, desde logo, ideológica, isto é, haverá ditadores de esquerda ? A ditadura do proletariado não é
defendida exactamente para impor pela violência uma determinada visão da sociedade? E isso é politicamente e
moralmente aceitável? Um assassinato não é sempre um assassinato seja em nome da esquerda
ou da direita ? O que faz, então, que perante
dados objectivos concretos um ditador criminoso possa ser considerado um herói, romântico ou não, desculpabilizando-lhe os
crimes cometidos?
Antes de mais, a cegueira
ideológica e o autoconvencimento de que o líder está a cumprir um alto desígnio que
lhe foi outorgado pela história. A negação do comportamento criminoso é a defesa que torna sustentável a violência.
Em nome de que ideologia é então aceitável assassinar? Ou será que os fins justificam os meios? Mas mesmo que os fins fossem moralmente desejáveis um assassinato nunca podia ser justificado.
Em nome de que ideologia é então aceitável assassinar? Ou será que os fins justificam os meios? Mas mesmo que os fins fossem moralmente desejáveis um assassinato nunca podia ser justificado.
Depois, o conformismo que resulta da
pressão do grupo partidário, que vende cara a dissidência e a não adesão à “revolução”…
Mas o conformismo não explica tudo. As experiências psicológicas
mostram a força do conformismo ao grupo. Mas também sabemos que há pessoas para
quem a empatia com outro ser humano exerce uma força ainda maior para que o possa ver com direitos
inalienáveis, como o direito à vida.
Estamos perante uma situação de dualidade da moral. (Albert Szent-Györgyi, O macaco louco, p. 37-43)
A vida e a morte de ditadores da chamada esquerda, também mostram bem a existência de dois códigos de moral. Um
individual, outro público. É por isso que o ditador pode
ser descrito como uma pessoas afável, conversadora…
No crime violento, na violência
doméstica vemos a mesma situação: a pessoa tem um duplo registo da sua vida: Bom rapaz na vida social, um monstro dentro
de casa.
“Este
duplo código de moral é geralmente aceite, sendo aplicado pelos governos em
assuntos de política externa... (p. 41)
Provavelmente, é este duplo código de moral que provoca a mudança de rumo de
muitos políticos de destaque que iniciam os seus esforços políticos com o
desejo de melhorar a sorte dos seus semelhantes. Depois de chegarem ao topo, tendem a trocar o seu código individual pelo
colectivo; começam a servir ideias abstractas, que pouca relação têm com o
bem-estar do seu povo, e fazem a guerra. A linha divisória entre a glória e o
poder de uma nação e os dos seus dirigentes
não é nítida. O sofrimento humano colectivo também se torna facilmente uma abstração." (p.42)
Mas, “a dificuldade é que a ciência moderna aboliu o tempo e a distância como factores
separadores de nações; no nosso
encolhido mundo de hoje só há
espaço para um grupo: a família
do homem.” (p.41)
Por isso, só há espaço para uma moralidade e esta é
a esperança de um mundo sem ditadores.
Sem comentários:
Enviar um comentário