Ouvimos dizer que a escola já não é como era. Antes havia disciplina e os professores eram respeitados.(1) De facto, parece haver um “sentimento geral” de que se perdeu o respeito pela autoridade que havia em relação a várias instituições políticas, sociais, religiosas. Parece que este fenómeno é particularmente notado nas escolas e em relação aos professores.
Cada um de nós tem conhecimento de agressões a professores, feitas por alunos e pais, que são notícia nos meios de comunicação social, o que significa que são suficientemente graves para merecerem essa referência.
Era interessante saber: qual a dimensão destas atitudes e comportamentos para com os professores? Quem desrespeita quem: são os alunos, os pais, a comunidade?
Em 2020, "os números mostram que todas as semanas alguém foi agredido ou ameaçado de morte. Mas tanto professores como polícia garantem que existem muitos mais casos que ficam dentro dos muros das escolas, sem nunca serem esquecidos pelas vítimas. "Muitos preferem remeter-se ao silêncio para não colocar a imagem da escola em causa".
Se virmos o que dizem alguns sindicatos de professores, parece que quem desrespeita mais os professores é o ministério da educação. Ou seja a autoridade dos professores é posta em causa pelo poder quando não cria as condições para que a função docente seja exercida nas condições que evitem a falta de respeito aos professores e a outros funcionários da escola.
Mas o desrespeito pelo poder e pela autoridade vem também dos alunos como aconteceu com o slogan “não pagamos“ e a “geração rasca”. Ou era apenas irreverência da juventude?
De facto, podemos dizer que a escola e os professores têm vindo a perder status *. Interessa, por isso, saber a que se poderá dever esta situação. Onde começou esta mudança profunda de desrespeito da autoridade dos professores na escola e na sociedade.
A degradação da autoridade tem vindo a acontecer a partir de uma das perversidades saídas do Maio 68, em França. Um dos slogans, “Proibido proibir”, foi o mote que levou a questionar toda a autoridade e não só o poder.
Vargas Llosa, em A Civilização do Espectáculo, refere: “Pelo menos no campo do ensino, a partir de 1968 a autoridade castradora dos instintos libertários dos jovens voara em pedaços.” Mas, por outro lado, o Maio 68 vem dar “legitimidade e glamour à ideia de que toda autoridade é suspeita, perniciosa e desdenhável e que o ideal libertário mais nobre é desconhecê-la, negá-la e destruí-la” (p. 79)
E escreve Vargas Lhosa: “Em nenhum campo isto foi tão catastrófico para a cultura como na educação. O professor, despojado de credibilidade e autoridade, convertido em muitos casos, na perspetiva progressista, em representante do poder repressivo, isto é, no inimigo a quem para alcançar a liberdade e dignidade humana era preciso resistir e até abater não só perdeu a confiança e respeito sem os quais era impossível cumprir eficazmente a sua função de educador - de transmissor tanto de valores como de conhecimentos - perante os seus alunos, como também os dos próprios pais de família e de filósofos revolucionários..." (p. 80)
Porém, o poder não se viu afectado minimamente. Pelo contrário. (3)
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(1) Podemos questionar o que quer dizer "respeito". O respeito é um sentimento positivo em relação a outra pessoa ou em relação a si próprio. Respeito é mais do que tolerância. Respeito é concordar, incentivar, respeito implica inclusão, empatia, honestidade, cumprir as promessas que se fazem, escutar com atenção, colocar-se no lugar do outro, cumprir as leis do país em que se vive...
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