25/10/24

Onde florescem os limões



Wo die Zitronen blühn (Onde florescem os limões) op. 364
Johann Strauss II (25/10/1825 - 3/6/1899)

O auricular invisível


O auricular de que falou o Sr. Primeiro-ministro só tem relevo para a comunicação que pretendia fazer se entendermos que de facto há um auricular invisível que  formatou e aculturou algumas pessoas da comunicação social, com carteira ou sem ela, jornalistas, comentadores ou comentadores-jornalistas e vice-versa. 

1984 (George Orwell) parece estar a acontecer agora, com grande parte do mundo a viver em estado de guerra sem fim à vista. Grande Irmão, fabricado pela Polícia do Pensamento é omnipresente e o Ministério da Verdade, faz a sua propaganda, perseguindo os cidadãos que se atrevem a defender o indivíduo e o pensamento independente.

Quando querem ser imparciais, jornalistas e cidadãos, precisam de capacidade crítica para poderem perceber quando se trata de manipulação do Ministério da Verdade. Para dificultar, há a 'novafala' que tem o seu próprio vocabulário. (1)

Por exemplo, o que é ser activista? Chama-se activista a  alguém de esquerda  que até pode ser violento, fazer manifestações violentas, fazer parar o trânsito, praticar vandalismo, estragando objectos culturais e destruindo bens públicos muitas vezes da própria comunidade de pertença. Já se for de direita é apelidado de extremista.

Os piores ditadores da história são legitimados como Líderes: O Líder Cubano, o Líder Sírio (2) ... Se forem de direita não passam de ditadores de extrema-direita.


Para alguns países os direitos humanos são uma miragem. Nesta matéria, um retrocesso assinalável está a acontecer em todo o mundo. Mas é  neste mundo que o jornalismo se movimenta e por isso não é fácil ter liberdade de pensamento e de expressão. (3)

Não é o nosso caso. Como vivemos em democracia  podemos questionar as medidas do governo (estas ou outras)podemos ter opiniões diferentes e discutir os assuntos que dizem respeito à vida das pessoas: 

 

- Se os velhos socialistas colectivistas, os novos canceladores wokistas, ou os progressistas muito avançados querem impor a dita disciplina de cidadania que é posta em questão por muitos pais e encarregados de educação, anulando princípios constitucionais que definem que “os pais têm o direito e o dever de educação dos filhos” (Artº 27º), então é necessário afirmar aqueles princípios e procurar uma solução que não ponha em causa a responsabilidade da família, tornando a frequência daqueles conteúdos opcional, ou integrando-os na disciplina de História ou de Ciências ou, simplesmente, procurar-se uma plataforma de entendimento suficiente para que não haja objecções por parte dos pais. 

 

- Também se pode buscar consenso para a questão da imigração. Ninguém  concorda, certamente, com políticas de portas escancaradas, sem qualquer controlo, afirmando  que não estão associadas a insegurança e dizendo que as estatísticas sobre segurança não são preocupantes.

Esquecem-se que o medo que as pessoas sentem não vem nas estatísticas nem nos jornais. O medo sente-se na rua onde moram, na zona onde habitam, quando saem à noite ou quando vão ao parque infantil com os filhos... (4)

 


Até para a semana.

 

 

 

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(1) "Guiões da linguagem" dita neutra e dita inclusiva."

 (2) Comentário  de um leitor (lucklucky a 19.10.2024)  a um post de Henrique Pereira dos Santos, "Eu?", no Blog Corta-fitas  sobre a confiança dos americanos na comunicação social,  onde se encontra  algum deste vocabulário.

(3)  "O aumento da polarização está associado à crise da democracia, e à emergência de autocracias e anocracias, em vários países. Segundo o Democracy Report 2023, do V-Dem Institute, entre 2012 e 2022 a percentagem da população mundial que vive em países autocráticos passou de 46% para 72%. Pela primeira vez, em mais de duas décadas, as autocracias são dominantes. Atualmente, só 13% da população mundial vive em democracias liberais enquanto 28% vive em regimes em que não há eleições multipartidárias, não há liberdade de expressão nem de associação e as eleições são manipuladas. A democratização da sociedade só está a acontecer em 14 países, onde vivem 2% da população mundial. Este valor é o mais baixo dos últimos 50 anos."  (Luís Caeiro, Nós e os outros. A sociedade polarizadaCatólica - Lisbon,  Setembro 26, 2023.

(4) E não me refiro apenas à percepção de insegurança.




Rádio Castelo Branco


17/10/24

Pedro e o lobo: a actualidade de Esopo

M. - 5 anos


Uma das famosas fábulas de Esopo é "O Pastor mentiroso e o Lobo". 
"Era uma vez um jovem pastor que levava suas ovelhas para pastar na serra. Para se divertir e ter companhia, ele gritava "Lobo! Lobo!" na direção da aldeia, fazendo os camponeses irem até ele. Mas não era verdade, era apenas uma brincadeira. O pastor repetiu essa brincadeira várias vezes.
Depois de alguns dias, um lobo realmente apareceu e atacou o rebanho. O pastor pediu ajuda gritando "Lobo! Lobo!" ainda mais alto, mas os camponeses não acreditaram nele, pensando que era mais uma brincadeira. O lobo pôde atacar as ovelhas à vontade, pois ninguém veio ajudar. Quando o pastor voltou para a aldeia, reclamou amargamente. O homem mais velho e sábio da aldeia respondeu: "Quem mente constantemente não será acreditado quando falar a verdade."

Pedro e o Lobo, na versão da Disney, narra a história de Pedro e o Lobo, por meio da música, como em Prokofiev. Pedro não é mentiroso. É apenas um caçador que vai para a floresta à procura do lobo. Quando os caçadores da aldeia surgem já Pedro com a ajuda de Ivan, o gato, tinham preso o lobo. Pedro é então o herói da aldeia. Todos estavam felizes menos o lobo, claro !

A história “Pedro e o Lobo” do compositor Sergei Prokofiev foi composta em 1936 com o objectivo pedagógico de mostrar às crianças as sonoridades dos diversos instrumentos musicais. Em "O Pedro e o Lobo" é utilizada uma Orquestra Sinfónica em que cada personagem é representado por um instrumento ou naipe da orquestra e possui um tema musical: O Pedro: Instrumentos de cordas; o Lobo: Trompas; o Avô: Fagote; O Pato: Oboé; O Gato: Clarinete; O Pássaro: Flauta Transversal; Os Caçadores: pelos Tímpanos e pelo Bombo.

A fábula de Esopo e a história de Prokofiev apenas têm em comum o nome, “Pedro e o Lobo”, porque quanto ao resto são completamente diferentes. 
A moral da história de Esopo: Se mentirmos muitas vezes, tornamo-nos pessoas que não são dignas de confiança e os outros deixam de acreditar em nós, mesmo quando falamos a verdade.

A moral da história de Prokofiev, como, por ex., na versão de Suzie Templeton, mostra que a coragem pode ajudar a superar medos que atrapalham, e com a ajuda de um pássaro louco e de um pato sonhador, capturam o lobo.

O destino do lobo é diferente consoante as histórias: vai para o zoo, ou, na versão da Disney não sabemos o que acontece ao lobo, no caso da versão de ST, é solto e regressa à floresta.






"Não é não!" ou da assertividade


“Não é não!” Tem sido à volta desta frase que a política tem acontecido desde que este governo exerce funções. Não é suficiente um não, é necessário reforçar a todo o momento a assumpção desse comportamento, ou seja, de que há linhas vermelhas que não querem ultrapassar.
Temos assistido, incrédulos, a uma “negociação” orçamental onde a descomunicação é que mais ordena e mais despreza qualquer eficácia.
De fora, as pessoas reforçam a experiência de que em política se pode fazer todas as promessas, declarações, propósitos mas quando se chega ao poder (executivo, legislativo...), se pode mudar de atitude, de comportamento, a qualquer momento, dependendo de interesses políticos pontuais ou conjunturais. Como no humor de Groucho Marx: “Esses são os meus princípios. Se não gostar, eu tenho outros.” (1)

Também não deixa de ser curiosa a frase de uma ex-ministra (A. Leitão, 2022), que afirmou: “a assertividade é mais prejudicial às mulheres na política e na vida”. Afinal ser assertivo é bom para os homens!
Pelo contrário, ser assertivo é, de facto, fundamental nas nossas relações e interacções com os outros. 
A assertividade, tal como a inteligência emocional e a empatia, é um dos factores que concorre para uma comunicação eficaz.

Podemos dizer que a assertividade "é o conjunto de condutas emitidas por uma pessoa num contexto interpessoal que expressam os sentimentos, as atitudes, desejos, opiniões e direitos dessa pessoa de um modo directo, firme e honesto, respeitando ao mesmo tempo sentimentos e atitudes, desejos, opiniões e direitos das outras pessoas" (Xavier Guix, Ni me explico ni me entiendes, p. 120)
Desta forma simples, a assertividade parece uma palavra mágica que resolve todos os problemas de comunicação.

A internet oferece-nos essa magia com muitas soluções, regras, leis, estratégias, para se ser assertivo. (2)
“Ora o que é mágico nem sempre funciona , nem é do gosto de todos. Não existe uma única forma no mundo de comportar-se assertivamente mas uma série de estratégias que podem variar segundo a pessoa, o contexto, a sociedade e a cultura em que se vive” (p. 121) 

Perante qualquer situação, mesmo que gere ansiedade ou tensão, podemos responder com passividade, com agressividade ou então com assertividade. (3)
Por isso, a assertividade é importante na nossa vida familiar, no trabalho, na política, e, particularmente, quando a comunicação é difícil, como em situações de ansiedade ou outras situações perturbadoras.

Podemos aprender a desenvolver estratégias assertivas nas interações com os outros, como refere X. Guix (p. 131-133 ):
- Ter propósitos claros: O que realmente quero fazer.
- Evitar os pensamentos automáticos.
- Analisar a posição do outro.
- Tratar as nossas convicções como hipóteses.
- Ver a situação de fora.
- Ter, a priori, dúvidas positivas: partir do que se tem em comum, daquilo em que o outro tem razão, parece ser um bom começo.
- Atender à forma de verbalizar.
Sobre este último aspecto podemos ver a complexidade que requer ser assertivo:
- Ser claro e preciso.
- Implicar-se pessoalmente. Usar o “Eu” em vez do “Eles”.
- Saber implicar o outro: gostei da forma como o outro cooperou na reunião.
- Mostrar-se educado e cordial: dar e receber feedback.



Até para a semana.

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(1)  "Afinal, Portugal raramente foi mais do que «isto»"Maria João Avillez considera que não há um português que suporte um minuto mais “disto”. 

(2) Desenvolver a atitude assertiva e ser mais feliz nas relações interpessoais

(3) Podemos avaliar se somos mais agressivos ou assertivos, como no Teste de assertividade de Rathus.



Rádio Castelo Branco



09/10/24

A comunicação social e os abusos


Perante a crise dos abusos sexuais na Igreja, a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) tem respondido assertivamente ao problema, de várias formas. 

Em Portugal, o estudo desta realidade foi entregue  a uma Comissão Independente que concluiu pela existência dos abusos, ao longo de mais de 70 anos, e pela necessidade de agir em várias áreas, como consta do Relatório final elaborado.

A realidade descrita é suficientemente dolorosa para, tout court, se aceitar as conclusões do Relatório.

No entanto, não questionando essa  verdade, certamente que se podem colocar problemas metodológicos e em consequência questionar  algumas conclusões a que a Comissão Independente chegou. (1)

Perante a necessidade de dar continuidade às sinalizações, verificou-se a impossibilidade de identificar muitos casos por falta de dados, tal como de vir a poder efectuar compensações financeiras, sem ter de obrigar a novo processo ainda que com o risco de revitimização.

 

Na sequência da Carta Apostólica Vos estis lux mundi do Papa Francisco, foram criadas as Comissões Diocesanas para proteção de crianças e jovens e pessoas vulneráveis que respondem localmente pela prevenção e protecção das vítimas de abusos.

 

Foi também criado o Grupo VITA que não só continuou  a atender vítimas, a nível nacional, como se tem empenhado na realização de acções de prevenção primária como formação e elaboração de instrumentos de trabalho pedagógicos para a prevenção.

O Grupo VITA criou ainda uma bolsa de psicólogos e psiquiatras, de  todo o país, que têm atendido as vítimas que necessitam de apoio psicológico. Como Bento XVI referiu, "o importante é, primeiro, olhar pelas vítimas e fazer tudo para as ajudar e acompanhar enquanto saram”.

 

A comunicação social informa, investiga e divulga mas também manipula e é manipulada de acordo com interesses mais ou menos expressos ou mais ou menos ocultos.

Seja como for, na complexidade do mundo global, uma grande parte da  luta pela liberdade e liberdade de expressão passa pelo trabalho dos jornalistas e dos media, que não têm trabalho fácil e estão sujeitos a perseguições arriscando a própria vida. (Committee to Protect Journalists)

Por isso, o papel da Comunicação Social é fundamental na investigação de eventuais casos de violência sexual nas instituições da Igreja mas também da sociedade, famílias, escolas, desporto... Por isso mesmo, deve investigar e informar com imparcialidade. 


Bento XVI, em entrevista a Peter Seewald, Luz do mundo - O Papa, a Igreja e os Sinais dos tempos, disse o seguinte sobre o papel da comunicação social: "Não foi possível deixar de reparar que subjacente a este esclarecimento por parte da imprensa, estavam não só a vontade pura de obter a verdade, mas também uma alegria em comprometer e em desacreditar o mais possível a Igreja. Independentemente disso, tem, porém, de ficar sempre claro que, sendo verdade, devemos estar agradecidos por cada  esclarecimento. A verdade, associada ao amor correctamente entendido, é o valor número um. E, por fim, os meios de comunicação social não teriam podido falar como falaram, se na própria Igreja não houvesse o mal. Só porque o mal estava na Igreja é que os outros puderam utilizá-lo contra ela."




Até para a semana.

 

 

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Felícia Cabrita entrevistou várias personalidades (Euclides Dâmaso, Jónatas Machado, Mário Mendes, José Cardoso da Costa) sobre o assunto - "Já não estamos no tempo da Inquisição", Jornal I, 18-3-2023;

02/10/24

Envelhecer com dignidade


O dia 1 de Outubro foi declarado pela ONU, em 1990, como dia internacional dos idosos, e em 1991 foram aprovados os princípios para as pessoas idosas (Resolução 46/91 das Nações Unidas). Este ano, o Secretário-Geral da ONU na sua mensagem para o Dia Internacional dos Idosos, voltou a apelar para: “Envelhecer com dignidade: A importância de reforçar os Sistemas de Cuidados e de Apoio aos Idosos em todo o Mundo.”
Todos estamos de acordo. Mas sabemos que o discurso bem intencionado se confronta com uma realidade bem diferente. Infelizmente, as estatísticas dão-nos uma imagem deplorável do tratamento dado a muitos idosos que vai do abandono e negligência aos maus tratos físicos. E, mais uma vez, vindos de quem não se devia esperar.

Esta discriminação negativa, devida à idade cronológica, chama-se idadismo (ageism). Para Sofia Duque(“Dia Internacional do Idoso: contra o estigma e estereótipos, para dignificar e respeitar os direitos dos mais velhos”, DN, 1-10-2024o idadismo “pode ter várias consequências negativas:

de natureza psicológica – a baixa autoestima, depressão e ansiedade; 

a redução do acesso a cuidados de saúde; 

a falta de  motivação dos próprios para a adoção de estilos de vida saudáveis, face à crença falsa de que a deterioração funcional e cognitiva são consequências inevitáveis do envelhecimento; 

o isolamento social e solidão;  

a tensão nas dinâmicas familiares, sendo frequentemente afastada a pessoa mais velha da tomada de decisões, mesmo quando estas lhe dizem diretamente respeito; 

o afastamento das esferas familiar e social; 

as políticas sociais e de saúde desfavoráveis; 

a desvalorização das capacidades das pessoas mais velhas e a falta de oportunidades.”


Podemos fazer um exercício. Para entendermos o que sente um idoso coloquemo-nos no seu lugar. Como gostaria de ser tratado quando fosse mais velho ou idoso?

Um idoso quer ser tratado com o respeito que é devido a um ser humano.

Deve-se ter em conta o seu passado, o profissional que foi  e o trabalho que fez durante tantos anos.

Embora possa ficar calado, não gosta de ser tratado com termos  ofensivos e esterotipados.

Apesar de já não poder deslocar-me tão facilmente ou de não estar “à la page”, não gosta de ser excluído de nada: da vida da família e da vida em sociedade.

Não gosta de ser tratado por tu mas de ser chamado pelo seu nome e gosta de ser cumprimentado como as outras pessoas.

Não gosta de ser excluído de sítios que proíbem a sua entrada.

Gosta que lhe perguntem a sua opinião em relação às coisas que lhe dizem respeito e que o deixem decidir em relação à ida para um lar ou uma “erpi” (estrutura  residencial para pessoas idosas). Deve ser respeitada a sua vontade.

Gosta de ser tratado por profissionais competentes que sabem como lidar com pessoas idosas com as suas dificuldades emocionais, cognitivas e sociais.

Gosta de fazer o que gosta e de não ser infantilizado. As actividades devem ter em conta que o adulto ou o idoso não é uma criança, que tem uma experiência de vida, cultura e vivências próprias.

Gosta que o deixem em paz quando não quer participar... mas,  ainda que sozinho, prefere ler, escrever e pensar...


 

Até para a semana.





Rádio Castelo Branco