29/06/24

“Não me fales nesse tom de voz”

 








 

A voz é um instrumento elementar e imediato de que o ser humano dispõe para comunicar com os outros, com o mundo. Nem sempre da melhor maneira. Temos essa experiência. Quando alguém nos irrita começamos a falar mais alto e terminamos a gritar. Basta estarmos mais nervosos para ficamos com a voz mais trémula ou até chegamos a perdê-la (afonia de conversão).

Ou seja, modificamos a voz de forma automática e inconsciente quando estamos em situações dominadas por  emoções como  raiva, surpresa ou felicidade.

Quando alguém vive em conflito com outra pessoa, o que acontece frequentemente num casal, o tom de voz denuncia esse conflito. Na comunicação interpessoal temos o hábito de ir levantando a voz até chegar ao grito para transmitir a nossa razão. E o hábito muitas vezes passa a ser: falar aos gritos.


“O resultado de uma pesquisa sobre a forma de nós comunicarmos (A. Mehrabian, citado por Xavier Guix, Ni me explico, ni me entiendes, pag. 49) concluiu que a comunicação por palavras corresponde a 7%, o tom de voz a 38% e a linguagem corporal a 55%,  quer dizer, o corpo fala mais alto que a voz e que as palavras.“

De facto, a voz é um elemento fundamental da comunicação. “A nossa voz faz ressoar os nossos dados internos. A voz revela tudo de nós ainda que  não nos demos conta disso. Os problemas que com frequência temos com a voz, alguns inclusive crónicos, têm uma relação directa com conflitos emocionais não resolvidos.” (idem)


Levantar a voz é uma forma de reagir emocionalmente à fala, às atitudes e comportamentos do outro. E aqui aparecem todos os tipos de voz possíveis que levam à escalada nos decibéis e nos conteúdos mais agrestes ou, pelo contrário, à desescalada e podemos ter uma conversa com as interações que os adultos devem ter (estado Eu Adulto, em Análise Transacional).

Se não houver nenhum problema fisiológico ou uma perturbação  da fala, o resto são problemas emocionais.

Conhecemos as pessoas pelo seu tom de voz. Nesse tom de voz há traços da idade, sexo, personalidade e, obviamente, estado emocional do indivíduo. 

“Eu conheço esta voz de algum lado”, ou então, como verificamos quando se faz autoscopia, podemos ficar impressionados e incrédulos, pela primeira vez, com a nossa voz. “Este sou eu?” “Horrível !” “Eu falo desta maneira?”

A voz é, de facto, única e nem sempre é agradável e melodiosa  mas “rouca”, “gasta”, “irritante”, “cansada”, com disfluências e “bengalas linguísticas” ... 


Os filhos conhecem a voz dos pais, ou os alunos do professor, conforme as suas emoções e adivinham o que se vai seguir na comunicação entre eles: que mensagem se quer transmitir pela palavra, tom de voz e comunicação não-verbal (gestos, olhares, expressões faciais), tornando cada indivíduo único e diferente  dos demais.


É importante saber que a nossa voz é única e que podemos melhorar a nossa comunicação com os outros. Os nossos comportamentos estão ligados à nossa voz. Por vezes, temos dificuldade em controlar a nossa voz porque não somos capazes de controlar as nossas emoções. 

Na vida social, na relação familiar, na educação das crianças, o domínio da voz é fundamental. Então, comecemos por controlar as nossas emoções melhorando o tom de voz tantas vezes desagradável para os outros. Claro que não é fácil...

 





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