A invasão russa da Ucrânia levou milhões de ucranianos a abandonar o país nas semanas seguintes ao começo da ofensiva. Na imagem, uma lágrima rola pela face de uma jovem a bordo de um autocarro no posto fronteiriço de Siret, na Roménia REUTERS/CLODAGH KILCOYNE
24/02/23
Não à guerra
A invasão russa da Ucrânia levou milhões de ucranianos a abandonar o país nas semanas seguintes ao começo da ofensiva. Na imagem, uma lágrima rola pela face de uma jovem a bordo de um autocarro no posto fronteiriço de Siret, na Roménia REUTERS/CLODAGH KILCOYNE
23/02/23
Parentalidade na era digital
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15/02/23
"Dar voz ao silêncio"
Estou a ler o Relatório Final da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais na Igreja Católica Portuguesa, divulgado a 13 de Fevereiro, em conferência de imprensa.
Merece ser lido com todo o cuidado tendo presente a complexa realidade que o problema da violência sexual representa.
Segundo o Relatório, foram validados 512 testemunhos, num total de 564 recebidos, entre Janeiro e Outubro do último ano, relativos a casos ocorridos nos últimos 72 anos (1950-2022). Estes testemunhos, apontam a uma rede de 4815 vítimas. 25 casos foram enviados ao Ministério Público.
Por reduzidos que fossem, os resultados do estudo seriam sempre uma “monstruosidade”, para usar o termo do Papa Francisco. Estes resultados são preocupantes tal como as enormes consequências/tarefas que resultam deste processo porque como diz o Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. José Ornelas, a Igreja não quis fazer “um teatrinho” com este procedimento. Se bem entendo, o que se pretendeu foi, certamente, saber a dimensão do fenómeno da violência sexual na Igreja e querer assumir todas as consequências que daí resultam.
De facto, as "Notas finais e recomendações", apresentadas no Relatório, são todo um extenso programa de reflexão, análise e de propostas de intervenção para os vários anos que se seguem.
Algumas tarefas são urgentes como as que dizem respeito à reparação devida às vítimas, fazendo justiça reparativa e proporcionando os apoios psicológicos de que necessitam. Mas também, adoptar todas as medidas de prevenção para que não haja possibilidade de continuação dos abusos.
O Relatório indica uma grande diversidade de medidas preventivas e formativas. São em meu entender medidas que também se devem aplicar a outros espaços e instituições frequentadas por crianças, como escolas, instituições desportivas, de lazer e de férias... Dá como exemplo: a necessidade de controlar os antecedentes criminais de quem vai trabalhar com crianças e adolescentes, impedir que quem seja suspeito nesta matéria possa actuar na proximidade das crianças...
Há que continuar a fazer mudanças no relacionamento educativo que temos com as crianças e jovens desde logo a mudança de cultura que coloque a criança no lugar central onde sempre devia ter estado, principalmente a partir Declaração e da Convenção dos Direitos da Criança.
Destaco algumas medidas de grande relevância para esta perspectiva de mudança:
- A formação específica nesta área da violência sexual.
- O desenvolvimento de competências parentais relacionadas com o tema.
- O "reforço do papel da Escola e da «educação para a sexualidade», em articulação e respeito com as diversas singularidades das famílias e seus contextos socioculturais." (Lei 60/2009, de 6 de Agosto).
- Uma proposta particularmente relevante sugerida no Relatório, é a da realização de um Estudo sobre os abusos sexuais na sociedade portuguesa. *
No fim de contas, foi positivo que a Igreja portuguesa, através da Conferência Episcopal, se tivesse aventurado nesta floresta fechada dos abusos sexuais. O trabalho da Comissão Independente, assim como o trabalho que está a ser desenvolvido pelas Comissões Diocesanas de Prevenção e Protecção, a nível nacional, estimula à lucidez, à bondade e ao perdão, num assunto que tem sido tão ocultado, silencioso e perturbador.
Até para a semana.
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14/02/23
Namorados
"Meu bem-amado disse-me:
"Levanta-te, minha amiga,
vem , formosa minha!
Eis que o inverno passou,
cessaram e desapareceram as chuvas.
Apareceram as flores em nossa terra,
voltou o tempo das canções.
Em nossas terras já se ouve
a voz da rôla.
A figueira começa agora a dar seus figos
e a vinha em flor exala o seu perfume.
Levanta-te, minha amada amiga,
e vem comigo, formosa minha!
Minha pomba, oculta nas fendas do rochedo,
e nos abrigos das rochas escarpadas,
mostra-me o teu rosto,
faze-me ouvir a tua voz.
Tua voz é tão doce,
Tão delicado o teu rosto!"
(Cant 2, 10-14)
O Novo Catecismo - A Fé para adultos, Herder, p. 446. Também conhecido como Catecismo Holandês)
09/02/23
Onde estás felicidade ?
Depois de um terrível século XX, como entender o que se passa no início deste século em que o Caos parece reinar em relação à Ordem, com as várias catástrofes que têm vindo a acontecer: as guerras, como na Ucrânia, a pandemia e agora o terramoto na Turquia e Síria?
Somos motivados com frequência, pela publicidade, pelos livros de auto-ajuda, etc., nas mais diversas circunstâncias da vida a buscar a nossa própria felicidade. Ora mesmo nas coisas mais simples da vida sabemos que assim não é. Como diz a canção de Madalena Iglésias: “Onde estás felicidade que não te encontrei?”
Então de que felicidade se trata ?
Jordan Peterson (12 regras para a vida - Um antídoto para o caos) questiona que a felicidade seja o objetivo mais ideal para a nossa vida, pois sabemos que o sofrimento faz parte dela, e propõe entender a felicidade num sentido mais profundo.
Constatou que as grandes histórias do passado tinham mais a ver com o desenvolvimento do carácter face ao sofrimento do que com a felicidade.
A vida tem os dois lados: Ordem e Caos. Ordem “quando as pessoas ao nosso redor agem de acordo com normas sociais bem definidas, comportando-se de forma previsível e cooperante”; Caos é onde – ou quando - acontece algo inesperado” como a guerra ou perder o emprego...
Como organizar-se mentalmente do ponto de vista individual, familiar e social? De facto, “as pessoas necessitam de princípios ordenadores, caso contrário, surge o caos. Precisamos de regras, padrões, valores - individualmente e em conjunto.” (p.17)
O ser humano procura a felicidade mas neste sentido mais profundo que envolve os momentos difíceis da vida, que existem, e sabemos que podem ser superados. Quando parece que tudo está perdido uma nova ordem pode surgir da catástrofe e do caos, sem nos deixarmos submergir no niilismo ou na ordem excessiva e rotineira da normose.
Aprendemos com as experiências vividas por nós, observadas nos outros, de que a vida é constituída por ordem e caos.
Para Jordan Peterson podemos criar a ordem a partir do caos e vice-versa. E escreve: “Nos meus momentos de maior escuridão, no submundo da alma, dou por mim frequentemente assombrado e maravilhado pela capacidade das pessoas para fazerem amizades, para amar o seus parceiros e pais e filhos, e de fazerem o que devem para manter a maquinaria do mundo a funcionar.
Acredito que este tipo de heroísmo quotidiano é a regra e não a exceção. A maioria dos indivíduos tem de lidar com algum problema de saúde enquanto continua a ser produtivo sem se queixar. Se alguém tem felicidade de desfrutar de um raro período de graça e saúde impecável, então, é provável que haja algum membro da família que atravesse uma crise. No entanto, as pessoas prevalecem e continuam a fazer tarefas difíceis, que exigem esforço, para se manterem unidas à família e à sociedade ... Merecem por isso uma admiração genuína e sentida...” (p. 92)
É esta Ordem que temos visto, e esperamos continuar a ver, no Caos do início deste século.
Até para a semana.
01/02/23
Porque hoje é domingo - O palco* das bem-aventuranças
1. O Evangelho do passado Domingo falava das bem-aventuranças. Em 2014, disse aqui que as bem-aventuranças eram as Regras para uma vida feliz.
Esta perspectiva remete-nos para a Exortação Apostólica Gaudete et Exsultate, de 19 de Março de 2018, do Papa Francisco, sobre a chamada à santidade no mundo actual e onde apresenta cada uma das bem-aventuranças como um caminho de felicidade para qualquer pessoa.
2. Martin Seligman é um dos meus psicólogos inspiradores e tenho aqui dedicado muito tempo a espalhar as ideias sobre "felicidade autêntica" e "bem-estar" que podemos resumir nas seis virtudes e nas vinte e quatro forças de carácter que integram a nossa personalidade.
Permitam-me que vá buscar a ideia de forças de assinatura e integre no inventário de Seligman esta ideia de bem-aventuranças.
Como refere Francisco: “64. A palavra «feliz» ou «bem-aventurado» torna-se sinónimo de «santo», porque expressa que a pessoa fiel a Deus e que vive a sua Palavra alcança, na doação de si mesma, a verdadeira felicidade.”
Ou seja, não se é feliz por se ser pobre ou por chorar ou se sentir injustiçado... a última palavra não é da pobreza, nem da tristeza, nem da injustiça mas da possibilidade que temos de ser felizes no desapego, na mansidão, na compaixão, na justiça, na misericórdia, na pureza do coração e na paz:
- a felicidade da pobreza em espírito e do desapego...
- a felicidade da mansidão num mundo de discussões, agressões, violências...
- a felicidade que vem da compaixão, de sermos solidários com os que sofrem e de partilhar as suas dificuldades e as suas dores.
- «Fome e sede» de justiça que correspondem a necessidades primárias, de sobrevivência. A justiça é, assim, uma necessidade básica nas relações sociais e políticas.
- A felicidade da misericórdia é o caminho da ajuda, do serviço dos outros, da compreensão e do perdão.
- A pureza de um coração que sabe amar.
- A felicidade que vem do caminho da paz.
- Os bem-aventurados, as pessoas felizes, vivem com autenticidade, questionam e incomodam a sociedade com a sua vida.
3. Ao mesmo tempo, nesta semana, discute-se o palco da Jornada Mundial da Juventude, a pala, o happening, a requalificação, revalorização de uma zona degradada de Lisboa e Loures, as coisas básicas da vida, como a limpeza, os wc, a água, a comida... e os milhões envolvidos.
Mais uma vez apareceu a falha na organização de um evento desta magnitude. Nada de novo. Simplesmente o espelho da nossa desorganização caseira, dos interesses mesquinhos, político-partidários, de aproveitamento para justificar as próprias posições... Penso no que esconde a máscara de cada um, desde os responsáveis directos pelas decisões que têm sido tomadas até ao último dos jovens que estão a dar o seu melhor para participarem nesta Jornada. **
O que será que interessa nesta Jornada? Tudo, portanto. Mas o sentido tem de ser o do caminho que se abre à juventude, do acesso à sua felicidade e bem-estar, numa vida com sentido como o traçado pelas bem-aventuranças.
Até para a semana.
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* "Ao ver a multidão, subiu a um monte, e, depois de Se ter sentado, aproximaram-se d'Ele os discípulos. Tomando então a palavra, começou a ensiná-los, dizendo..." (Mt, 5)
** Que modelagem temos para apresentar a estes jovens ?
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