Foram trinta e três anos de programas e crónicas na Rádio Beira Interior (RBI), actualmente Rádio Castelo Branco (RACAB). Desde 1992 participei em programas como “Falar de educação” e “Avenida Central - Falar claro...sobre educação” e “Conversas Informais” e, desde 2007, faço semanalmente a crónica "Opinião”.
Durante esse tempo aqui, nesta Rádio, falei da importância da psicologia na vida quotidiana das pessoas e do relevo que merece a educação e a defesa dos direitos da criança.
Falei da minha experiência num Serviço de psicologia e orientação (SPO) e dos desafios que este trabalho apaixonante, todos os dias, colocava.
Falei em especial para os pais, educadores e professores.
Estas crónicas são o reflexo do que sou e do que faço, do que acredito, da minha ansiedade e também do que detesto e contesto...
A evolução das políticas de protecção das crianças foi enorme, principalmente a partir de meados dos séc. XX, em todo o mundo, em que as crianças puderam ver os seus direitos reconhecidos na Declaração dos direitos da criança (1959) e na Convenção dos direitos da criança (1989).
Também no nosso país a evolução na protecção da infância deve ser motivo de orgulho, com destaque para os últimos 50 anos, com o acesso generalizado de todos a todos os níveis de educação.
Uma das realizações mais importantes foi a criação das Comissões de Protecção de Crianças e Jovens (CPCJ) em que participei desde o seu início, em 1993. *
É necessário e urgente continuar a criar ambientes seguros e protegidos nas famílias, nas escolas, nas instituições sociais, onde as crianças se possam desenvolver harmoniosamente. Porque, como sabemos, apesar dessa evolução estamos muito longe de cumprir esses direitos. Três exemplos de situações de perigo:
- Segundo a Unicef, morrem à fome um milhão de crianças por ano.
- O número de crianças expostas à violência em zonas de conflito armado atingiu 520 milhões em 2024, fixando um novo recorde pelo terceiro ano consecutivo. (Save the Children)
- O aumento da violência sexual, em particular na internet, é assustador e as crianças estão permanentemente em perigo.
Mas o nosso trabalho não é só pôr cobro aos maus tratos. A protecção da criança começa, verdadeiramente, com os bons tratos, de que faz parte o direito ao afecto.
É gratificante saber que cada vez mais a sociedade compreende a relação adulto-criança nesta perspectiva, como bem exprime Manuela Eanes, presidente honorária do Instituto de Apoio à Criança (IAC): "A angústia por falta de amor, por carências graves no aspecto afectivo, marca mais a Criança do que a fome ou o frio. Como dizia Gabriela Mistral, de uma forma tão bela:
Muito do que precisamos pode esperar.
A Criança, não.
Não se lhe pode dizer amanhã.
Seu nome é Hoje."
("O papel da Família no desenvolvimento da Criança e da sociedade", in Identidade e Família, p. 94)
Quero deixar, nesta crónica, um grande agradecimento às pessoas com quem trabalhei mais directamente, Isabel Moreira, Graça Lourenço, Manuela Cardoso e Ricardo Coelho, e igualmente à gestão da RACAB, pela liberdade de expressão que sempre tive e por me terem ajudado a levar esta informação aos ouvintes que tiveram a paciência de me ouvir durante tantos anos.
Muito obrigado.
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* Inicialmente designada Comissão de Protecção de Menores. A Lei n.º 147/99, de 1 de Setembro, viria estabelecer o Regime jurídico da proteção de crianças e jovens em perigo.

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