30/03/22
Os bons e os maus, o bem e o mal
22/03/22
Psicologia e fé
O que é a fé? Pode o ser humano viver sem fé? Que importância tem a fé na nossa vida?
O psicanalista Alexander Lowen (La depresion y el cuerpo, Alianza Editorial, Madrid,1972, pags. 175-201) diz-nos que a palavra "fé" surgiu espontaneamente durante o estudo da natureza da depressão. Verificou que uma pessoa enquanto conservava uma fé forte e activa progredia na vida sem se tornar deprimida. Lowen concluiu, assim, que o doente depressivo é uma pessoa sem fé. Claro que como psiquiatra vê esta pessoa como uma pessoa doente.
Segundo Lowen, o desencantamento do mundo em que vivemos traduz-se na procura de diversão e de estimulação e os jovens são os que mais manifestam esta falta de fé, nos seus escritos, nos seus protestos, nos consumos excessivos. Têm pouca fé no futuro desta civilização.
Podemos verificar que quanto mais cresce a depressão no mundo, simultaneamente, mais diminui o número de pessoas que têm fé, ou seja, estamos vivendo tempos depressivos.
Sendo a fé do domínio religioso e místico não se pode estudar nem controlar por meios objetivos nem explicar com princípios racionais e científicos. Esta posição, muito evidente em Freud e outros psicanalistas, não deveria impedir-nos de examinar o papel que a fé joga nas vidas humanas. Se tentamos compreender a condição humana em termos de conceitos objetivos e científicos deixamos de fora um grande parte da experiência humana. As relações entre as pessoas ou de uma pessoa com o seu meio, ou de uma pessoa com o universo pertencem a este domínio. A religião surgiu da necessidade de compreender estas relações.
A fé é uma experiência diferente do conhecimento. É mais profunda do que este. Rezar é um bom exemplo disto. Muita gente reza para se acabar a guerra rapidamente ou para que uma pessoa venha da guerra sã e salva ou para que uma pessoa recupere de uma doença.
Estas pessoas podem acreditar que rezar não resolve o curso dos seus problemas. No entanto, rezar é uma expressão de fé e isso tem um efeito positivo e graças a esse efeito são capazes de suportar o peso dessa vivência.
Ter fé não significa que exista uma divindade omnipotente. O poder da oração baseia-se na fé que a pessoa manifesta. Dizem que a fé faz milagres e existem boas razões para acreditar nisso.
A oração não é o único caminho para expressar a fé. Um acto de amor também é uma questão de fé. Tal como a complexidade e a interdependência das pessoas leva a concluir que a ordem social seria impossível sem a fé: O trabalhador tem fé que pode comprar o que necessita com o dinheiro que ganha, o paciente tem fé que o médico fará o possível para o curar.
Os seres humanos viveram em comunidades durante milénios e desta longa experiência adquiriram fé no esforço cooperativo. Se essa fé desaparecesse seria o caos.
Os pacientes depressivos têm a mesma necessidade de funcionar como todas as pessoas porém falta-lhes motivação. Rendem-se. Perderam a fé, resignaram-se a morrer. Portanto, a fé pode fazer a diferença em situações de crise.
21/03/22
Psicologia em tempo de guerra
Psicologia em tempo de guerra. A Arte e o sofrimento
Psicologia em tempo de guerra. Putin: 5 centímetros de altura fictícios, 30 anos de medo real
Psicologia em tempo de guerra. E se alguém lhe dissesse: “Estamos em perigo. Temos de sair daqui”?
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16/03/22
“O império em vão se contempla...”
10/03/22
“Todos os ditadores são lineares”
Por que surgem sempre novos ditadores ? Por que a educação não leva a evitar os erros do passado e a criar seres humanos que sejam melhores para o seu semelhante ?
A psicologia e psicopatologia do pensamento ajudam-nos a compreender o funcionamento mental destas pessoas.
Para Augusto Cury, existem três tipos de pensamento: um inconsciente, o pensamento essencial, e dois conscientes, os pensamentos dialéctico e antidialéctico.
O pensamento essencial está na base da formação do pensamento antidialéctico e, posteriormente, do dialéctico. É o primeiro resultado da leitura da memória e é fundamental na construção dos pensamentos conscientes: interpretações, compreensão, definição, conceituação. (p. 138)
A criança começa por ser perguntadora, no jardim de infância, e a pouco e pouco durante a educação escolar vai fazendo menos perguntas. No secundário isso verifica-se ainda menos e quando chega à universidade deixa de haver perguntas. (p. 140)
O processo de socialização - educação na família e na e na escola - faz o seu trabalho. “Muitos pais corrigem os seus filhos sem refletirem sobre o instrumento de correção que usam...”.
“Tais pais desconhecem que sob o enfoque da gestão da emoção deviam usar também o pensamento antidialético para pensar antes de reagir e olhar os seus filhos com generosidade. Pais que são excessivamente lógicos, cartesianos, enfim, dialéticos são também intolerantes e, ao corrigir os efeitos, em vez de deterem as causas de determinados comportamentos, bloqueiam a formação de mentes livres, resilientes e maduras.” (p. 132)
Ou seja, o pensamento dialético é muito importante mas “precisa do pensamento antidialético para ter profundidade; caso contrário torna-se superficial, parcial, frio.”
Por sua vez, o pensamento antidialético também precisa do pensamento dialético para ser fonte de criatividade produtiva e útil; caso contrário leva ao desenvolvimento de uma imaginação autodestrutiva.” (p.137)
“Todos os ditadores experimentaram limitações cognitivas importantes após ascender ao poder. Construíram um raciocínio simplista, parcial, tendencioso, egocêntrico. Tiveram uma racionalidade abaixo da média, mas uma voracidade pelo poder muitíssimo acima da média. Foram hábeis no uso de armas mas não na gestão da emoção. Foram mais hábeis ainda a construir fantasmas emocionais no inconsciente coletivo com discursos paranóicos. Normalmente são o assombro e a passividade do povo que alimentam os ditadores, principalmente no início do processo ditatorial quando estes são mais frágeis.” (p. 141)
Estaline, “serviu o seu próprio ego e ideias, porém não o seu povo. Como qualquer ditador com limitações cognitivas, era paranoico, sentia-se perseguido pelos monstros que ele mesmo criava no teatro da sua mente. A necessidade neurótica de poder encarcerou o desenvolvimento saudável do pensamento antidialético. Estaline não conseguia pôr-se no lugar dos outros e pensar antes de reagir, reagia como animal irracional." (p. 141-142)
"Hitler era um analfabeto emocional, desconhecia a linguagem da compaixão, da generosidade, do altruísmo, da serenidade." (p. 143)
Diz-nos Cury: “Sem o pensamento antidialético não há gestão da emoção; sem gestão de emoção a nossa espécie ainda chorará lágrimas incontidas.” (p. 143)
Nem mais. Acontece neste momento, por todo o mundo, devido à guerra na Ucrânia.
Até para a semana, com muita paz.
02/03/22
Guerra – o colapso do ser humano
É horrível, de todos os pontos de vista, que se tenha chegado aqui.
É impensável, inacreditável, inaceitável... todas os adjectivos de descrença se aplicam a esta forma de resolver os conflitos entre pessoas, organizações e nações.
Não há alternativa para a paz. A guerra é uma forma obsoleta e errada de resolver conflitos: não resolve nada e, pelo contrário, ainda produz a escalada do conflito sempre mais perigosa e violenta do que a etapa anterior.
Os comportamentos pessoais violentos no processo conflituoso são facilitados nos regimes autoritários em que não há alternativas.
Nas democracias os conflitos* resolvem-se por acordos em que todos podem e devem ganhar porque desde logo a paz é um ganho.
A liberdade e os processos democráticos fazem com que os líderes sejam substituídos sem dramas e há sempre alternativas às posições radicais e extremadas.
Se olharmos para o mundo, vemos que, onde não há democracia, os conflitos internos ou externos, estão sistematicamente presentes com grande violência chegando mesmo à rotura da guerra.
Estes líderes autoritários mostram grande incompetência do ponto de vista racional e emocional.
Podemos estar a lidar com psicopatas ou sociopatas, certamente estamos a lidar com pessoas com perturbação narcísica da personalidade.
O líder autoritário – o ditador - faz ameaças aos seus adversários e a todo o mundo para impor os seus pontos de vista, encontra justificações históricas para apoiar as suas decisões irracionais, uma espécie de história do cordeiro e do lobo, em que a acusação acaba por ser sempre: “se não foste tu, foi teu pai”.
O líder autoritário é um incompetente comunicacional. Começa por se vitimizar e passa a agressor facilmente - até ao limite da irracionalidade da guerra - com a promessa de salvar os que ataca, das mãos dos supostos inimigos. (modelo de Karpman)
O líder autoritário é um incompetente emocional. Não se emociona com o sofrimento dos outros. Não tem empatia. Importa-se apenas com a satisfação das suas ambições.
Aquilo que do ponto de vista etológico faz recuar qualquer ser humano, para o líder autoritário nada disso interessa. Ver o sofrimento duma criança é só por si, dissuasor da violência. As imagens de crianças em fuga levadas pelas mães, que não compreendem o que está a acontecer, não entendem o que é a guerra, não entendem porque estão a lutar uns contra os outros, não compreendem a maldade que lhes rouba os pais, os amigos, a escola, as brincadeiras, porque têm de fugir para onde o barulho das bombas deixe de se ouvir...
O sofrimento do outro resvala na carapaça de indiferença, de frieza, sem empatia, porque ele tem uma missão a cumprir que só ele sabe qual é e lhe foi auto-confiada, e, por isso, elimina fisicamente os adversários um a um, em qualquer lugar do mundo e, através das organizações do estado autoritário, controla a liberdade das pessoas, da informação e comunicação livres...
O que se segue à devastação da Ucrânia ?
É urgente que a liberdade e a democracia façam parar estes líderes autocráticos e falhados.
Até para a semana, com muita paz.
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* Falamos de conflito numa organização "quando uma parte (um indivíduo ou um grupo) percebe o outro como um obstáculo à satisfação das suas preocupações, o que vai levar a um sentimento de frustração, o que poderá conduzir posteriormente a reagir face à outra parte." Alain Rondeau, La gestion des conflits dans les organizations" in Chanlat, J-F, L'individu dans l' organisation , les dimensions oubliées, pag.508.