07/11/13

Automóvel e personalidade




aqui falámos do problema da multitarefa e condução, ou seja, por exemplo, conduzir e falar ao telemóvel. E fazer isso, mesmo que fosse permitido, é uma habilidade que muito poucas pessoas possuem, No entanto, todos vemos, frequentemente, condutores que falam ao telemóvel, completamente descontraídos e distraídos.
Esta é uma experiência que todos temos: condutores a falar ao telemóvel nos mais inesperados locais apesar de não ser permitido, apesar de colocar em perigo o trânsito e ser uma das causas frequentes de acidentes....
Este é também daqueles comportamentos perfeitamente evitáveis mas que insistimos em não ter.

Foi notícia, na semana passada, comentada na cidade e na imprensa local, o caso de um condutor alcoolizado que subiu a avenida 1º de maio em contramão (Reconquista, 30/10/2013), colocando em perigo a própria segurança e a de todos os que se deslocavam naquela avenida e apanharam um grande susto.
O que faz com que um individuo mesmo alcoolizado decida conduzir ?
O que acontece às pessoas para terem comportamentos tão irresponsáveis ?
O que faz um condutor julgar-se omnipotente e pensar que é o melhor ?

Os números dos acidentes são assustadores. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) mais de 1.2 milhões de pessoas morrem em acidentes rodoviários por ano e mais 20 a 50 milhões de pessoas são feridas.
A OMS prevê que em 2030 as mortes causadas por acidentes rodoviários se torne a 5ª causa de morte a nível mundial, ultrapassando outras causas de morte como o HIV, todas as formas de cancro, violência, e diabetes. (1)

Conhecer os comportamentos dos condutores é uma tarefa importante, tal como os condutores conhecerem os seus próprios comportamentos. Este é um trabalho de prevenção que deveria fazer-se com frequência.
O problema começa logo por aí: a negação. Eu sou competente a conduzir, os outros é que são um problema, os outros são um obstáculo ao meu ego.

“O automóvel, através das determinações económicas e da menta1idade colectiva, é, hoje, um facto político primordial".  Político porque está no centro da nossa vida de cidadãos. Muitas das intervenções das autarquias são decididas em função do automóvel: "...para aumentar o alargamento das artérias no interior das cidades, parques de estacionamento à superfície ou subterrâneos; as próprias estradas periféricas têm o efeito de incitar as pessoas a conduzir mais carros, num círculo vicioso e sem saída".
"O desenvolvimento do automóvel constituiu um dos factores mais marcantes do século XX, por implementar um aumento da facilidade de deslocação e como consequência da qualidade de vida." (2)
O problema é que ser cidadão total na sociedade actual tornou-se ser dependente do automóvel.

"Por outro lado, o automóvel possui a nível individual e colectivo uma série de conotações simbólicas, que se encontram relacionadas com sentimentos de afirmação pessoal e social, e que são geridos e agidos por cada um de acordo com a sua personalidade. Esta, está presente em todas as actividades e relações que estabelece com o mundo que o rodeia, não sendo a condução uma excepção. É de salientar que, provavelmente o risco que se revela na condução, não é mais do que um espelho da situação em que o sujeito se encontra nas restantes áreas da sua vida, e do modo como gere e lida com os seus conflitos." (1)

É, por isso, que a condução automóvel mostra qual a personalidade do indivíduo e a sua relação com os outros. Mostra também o que é necessário cuidar e melhorar na nossa personalidade. Diz-me como conduzes, dir-te-ei quem és mas o contrário também é verdade: diz-me quem és, dir-te-ei como conduzes.

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(1) OMS,  Melhoria da segurança rodoviária global.
(2) R. Girão e R. A. Oliveira, Condução de risco: Um estudo exploratório sobre os aspectos psicológicos do risco na tarefa de condução.

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