Quando as palavras não são suficientes, podemos manifestar as nossas emoções através do choro. Chorar é um instrumento de comunicação universal, é um sinal social que envia uma mensagem: “preciso de ajuda”, e provoca a empatia dos outros.
Chorar é uma experiência que envolve sons, postura corporal, lágrimas, emoções, contexto social e cultura.
É um comportamento inato, uma forma de o bebé comunicar as suas necessidades: quando tem fome, quando necessita de colo ou interação, quando está desconfortável devido ao frio, calor, fralda suja, roupa incómoda, dor (cólicas) , doença.
No início, o bebé não tem lágrimas. Posteriormente, vai desenvolver as lágrimas emocionais (1) que lhe vão permitir comunicar que está em perigo ou que precisa de ajuda.
Na idade adulta, chorar serve para demonstrar tristeza, como quando morre um familiar, numa situação de luto, mas também felicidade, numa festa ou na conquista de um prémio. O choro funciona como uma libertação (catarse), uma descarga das tensões internas e uma forma de restaurar o equilíbrio emocional.
Chorar é um comportamento individual. Aquilo que me faz chorar a mim não é exactamente o que faz chorar outras pessoas. Há diferenças individuais na expressão emocional, mais aberta ou mais contida, dependendo da personalidade, da forma como se processou o desenvolvimento, da cultura familiar ou social.
Mas chorar às vezes é difícil. Pode acontecer que já não há lágrimas para expressar o sofrimento (2), como na conhecida a canção de Nat King Cole “Não tenho lágrimas”.
Quero chorar,
Não tenho lágrimas
Que me rolem nas faces
Pra me socorrer
Se eu chorasse,
Talvez desabafasse
O que sinto no peito
E não posso dizer
Só porque não sei chorar
Eu vivo triste a sofrer
Estou certo que o riso
Não tem nenhum valor
A lágrima sentida
É o retrato de uma dor
O destino assim quis
De mim se separar
Eu quero chorar não posso
Vivo a implorar
Vemos então que chorar tem benefícios (3): Como na canção, poder desabafar a dor que nos vai no peito.
Perante uma pessoa que chora é tão importante saber o que fazer como saber o que não fazer. Assim, devemos mostrar que nos importamos e oferecer a nossa ajuda.
No entanto, não interessa dizer: “Não chores”. Ou avaliar o comportamento...
No caso das crianças, não fazer comparações com os outros meninos ou outras pessoas que são fortes e não choram ou chamar “choramingas”...
Não dizer: “pára de chorar“ com voz agressiva e autoritária ou até: “pára de chorar se não apanhas”, ou mesmo: "tu não tens culpa, portanto, pára de chorar".
Chorar comunica a nossa fragilidade e a necessidade de apoio e é suficientemente eloquente para levar a uma resposta dos outros.
Mas os tempos que correm não são propícios a essa empatia. Apesar das distrações que nos são servidas todos os dias pela "civilização do espectáculo" (Vargas Llosa), o narcisismo mostra a sua arrogância ainda mais tocante nos momentos de infelicidade e de dor dos outros... como nas actuais situações de guerra.
Se estamos a lidar com situações de tristeza, podemos sempre recorrer a terapias de auto-ajuda. Mas se não estamos a conseguir ultrapassar a situação, pedir ajuda especializada é o caminho mais indicado para poder encontrar o equilíbrio emocional. (4)
Até para a semana.
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(1) Há vários tipos de lágrimas ou de choro: Lágrimas basais: lubrificam os olhos; Lágrimas reflexas: quando os olhos ficam irritados por corpos estranhos; Lágrimas emocionais: quando nos deparamos com situações difíceis como solidão, desamparo ou stress.
(2) Quando as crianças já nem sequer choram como a investigação de R. Spitz já nos tinha ensinado.
(3) Se o meio em que estou é favorável, compreensivo e seguro, as lágrimes permitem exteriorizar a dor, o sofrimento interior... Porém se o meio é inseguro chorar pode aumentar o sentimento de vulnerabilidade.
(4) Sítios da internet com interesse para este texto:
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