É muito curioso o pedido que os irmãos Tiago e João, seguidores de Jesus, Lhe fazem:
“Mestre, queremos que nos faças tudo o que Te pedirmos”...
“Concede-nos que, na tua glória, nos sentemos um à Tua direita e o outro à Tua esquerda”.
Disse-lhes Jesus: “Não sabeis o que pedis. Podeis beber o cálice que eu vou beber e receber o batismo que Eu vou receber ? ”
Eles responderam-Lhe: “Podemos”.
Jesus disse-lhes: “Bebereis o cálice que vou beber e sereis batizados com o batismo com que Eu serei batizado; mas o sentar-se à minha direita ou à minha esquerda não me pertence concedê-lo. É para quem está reservado”.
Os outros dez, tendo ouvido isto, começaram a indignar-se contra Tiago e João.
Jesus chamou-os e disse: “Sabeis como os governantes das nações fazem sentir o seu domínio sobre elas e os magnates a sua autoridade.
Não deve ser assim entre vós. Quem quiser ser grande entre vós faça-se vosso servo; e quem quiser ser o primeiro entre vós faça-se escravo de todos.
Porque o Filho do homem também não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos”. (Mt.20, 20-28)
O que está em jogo é o poder face aos outros, e mesmo face aos outros discípulos. A mentalidade de uns, os que fazem a petição, e outros, que os criticam, era idêntica: ter o poder.
Como ouvimos dizer, o poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente. Esta cultura só pode levar a abusos.
O clericalismo é o poder do clero na vida social, política e económica... é a conduta política que o clero de uma determinada religião manifesta para favorecer os seus interesses institucionais e materiais com o objetivo de incrementar o seu poder. (Wikipedia)
Face aos abusos sexuais verificados na igreja católica, o Papa Francisco culpou o "clericalismo" da Igreja Católica por criar uma cultura em que o abuso criminoso foi difundido e foram feitos extraordinários esforços para ocultar os crimes.
O clericalismo é também abuso de consciência. Cito J. M. Pereira de Almeida:
“Os abusos de consciência correspondem a todas as iniciativas daqueles que, exercendo um determinado poder, não respeitam a autonomia pessoal daqueles que se lhes confiam. E, em vez de os escutarem, de saberem dialogar com eles, numa atitude de serviço que caracteriza o ministério que exercem, mandam fazer, indicam como actuar, prescrevem medidas concretas. Apontando sempre (muitas vezes) para o bem ideal; em vez de ajudarem cada uma das pessoas que lhes são confiadas a decidir livre e responsavelmente o que perceba ser o bem concretamente possível, para cada uma delas, nas circunstâncias concretas em que se encontra.” *
A alternativa a esta tentativa de poder, por parte de Tiago e João, e de todos os que querem exercer o poder, é a proposta do serviço: não vim para ser servido mas para servir. É a proposta apresentada a todos, clero e leigos, face ao exercício do poder: servir os outros a começar pelos mais vulneráveis.
Até para a semana
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* J.M. Pereira de Almeida - "Poder Clerical e Serviço"- comunicação apresentada no Encontro Nacional com as Comissões Diocesanas de Proteção de Menores e Adultos Vulneráveis, Fátima 4 de fevereiro de 2023.
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