Muitas explicações, toda a gente opina sobre a maioria absoluta inesperada do PS, sobre a fantástica estratégia de Costa, o atabalhoado discurso de derrota de Rio, e, dizem, também o perdedor Marcelo...
Todos devem ter razão ou alguma razão. Não contradigo ninguém. Todos os argumentos não serão, no entanto, justificação para tudo o que aconteceu.
Mesmo com intenção de votar útil (círculo eleitoral de Castelo Branco), como explicar a inutilidade do meu voto?
Bem. Manuel Villaverde Cabral explica o fenómeno em "Os mistérios da «maioria absoluta»" - O facto de a relação de proporcionalidade eleitoral vir a diminuir desde o início do século XXI é a prova da degradação do sistema de representação partidária e, portanto, da qualidade da democracia."
"Se é certo que o PS beneficiou de uma transferência de votos e de deputados muito semelhante às perdas do BE, do PCP e do PAN, já o PSD ganhou o equivalente ao que o CDS desbaratou mas perdeu deputados para o PS, confirmando o processo de redução da proporcionalidade entre votos e eleitos. A prova está no facto de o PS conseguir ganhar a tal maioria absoluta com apenas 42% dos votos, quando Sócrates precisou de 45% e Cavaco Silva 50% no século passado. O facto de a relação de proporcionalidade eleitoral vir a diminuir desde o início do século XXI é a prova da degradação do sistema de representação partidária e, portanto, da qualidade da democracia."
A ausência de entendimento entre PSD-CDS para uma coligação em distritos com poucos deputados dá este resultado.
O que eu sei é que apesar do que pensava sobre Costa e Rio (Desgoverno e desoposição), mais uma vez o meu voto foi inútil mesmo tendo votado útil.
Para além destas questões, as explicações para o que aconteceu devem ser procuradas principalmente noutras perspectivas.
Bem ajuizavam Joaquim Aguiar e Jorge Marrão (Think Tank - 29/1/2022), dizem e explicam tudo o que eu queria dizer em "Freud também explica isso". Esconder o que Sócrates fez. O muro derrubado e o muro levantado que tornou o centro dependente de partidos irrelevantes. Um muro que caiu: a unidade com a extrema esquerda - que no dia 19 de Julho de 1975 foi posta em causa por Mário Soares - e que criou um grande muro com a extrema direita e até a direita.
2015 é um ano charneira para perceber o que se passou: o debate entre Seguro e Costa, a saída de Sérgio Sousa Pinto; os interesses estado-empresas e aquilo que tinha de ser escondido, Sócrates, que, sem recursos, pede apoio externo (a bancarrota); 2022 repete o fracasso de 2015, os mesmos discursos, as mesmas soluções; como o Afonso Costa, "ninguém pode governar contra o partido democrático", com Costa "ninguém pode governar contra o partido da classe operária"; o enfraquecimento do centro que permite o crescimento dos extremos e a dependência deles...
A "reversão" e "virar de páginas" mas o pasteleiro e o bolo é o mesmo...
PPP na saúde com boa gestão, para quê? Uma faculdade de medicina na Universidade Católica ? Como disse o "pai" do SNS, A. Arnaut: nós tratamos dos corpos e vocês tratam das almas.
Quando o que interessa é, no imediato, tratar dos corpos quem quer saber dos problemas da alma?
Sim, Marcelo vai ser chamado ao centro do palco.
Think Tank - a semana política e económica vista por Jorge Marrão e Joaquim Aguiar - 29/01/2022
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