23/08/14

A ciência da bondade

1. A música/letra de Tom Jobim, Wave, marcou bem a importância da relação entre seres humanos: é impossível ser feliz sozinho.
   
  "Vou te contar
   Os olhos já não podem ver
   Coisas que só o coração pode entender
   Fundamental é mesmo o amor
   É impossível ser feliz sozinho.
    ..."

2. Ser feliz é  quando se faz feliz o outro. "Mas ficarás mais feliz do que nunca
quando tornares feliz outra pessoa."
Texto: Leif Kristianson, Ilustrações: Dick Stenberg, Tradução: Sophia de Mello Breyner Andresen.














 3. Mas haverá uma ciência da bondade, ou o homem é aquilo que todos os dias nos dá de relevante a comunicação social ? Afinal, há biliões de seres humanos para quem fundamental é mesmo o amor.
Dacher Keltner, no livro Born to be good: the science of a meaningful life (2009, ainda sem tradução em português), compila descobertas científicas que revelam o poder da emoção humana inata e criam conexões entre as pessoas, segundo ele um caminho eficaz para uma boa vida.
Em entrevista a Mente e Cérebro:
Mente e Cérebro – Para o senhor, que quer dizer a expressão “nascido para ser bom”?
Dacher Keltner – Significa que a evolução criou uma espécie, os humanos, com inclinação para bondade, brincadeira, generosidade, reverência e autossacrifício – vitais para a evolução, vale dizer, sobrevivência, replicação genética e habilidade de convívio em grupo –, que se manifestam por meio de emoções como compaixão, gratidão, medo, vergonha e felicidade. Estudos recentes revelam que as capacidades humanas de cuidar, brincar e respeitar foram desenvolvidas pelo cérebro e pela prática social.
... O nervo vago é um feixe neural que se origina no topo da espinha dorsal. Ele estimula diferentes órgãos (como coração, pulmão, fígado e aparelho digestivo). Quando ativo, produz uma sensação de expansão confortável no tórax, como quando estamos emocionados com a bondade de alguém ou ouvimos uma bela música. O neurocientista Stephen W. Porges, da Universidade de Illinois em Chicago, há tempos argumenta que essa região cerebral é o “nervo da compaixão”.
... A psicóloga Nancy Eisenberg, da Universidade Estadual do Arizona, descobriu que crianças com atividade alta do nervo vago têm mais chances de cooperar e doar. Segundo pesquisas recentes, ele estimula tal comportamento.
M e C – O que esse tipo de ciência o faz pensar?
Keltner - Ela me traz esperanças para o futuro. Que nossa cultura se torne menos materialista e privilegie satisfações sociais como diversão, toque, felicidade, que do ponto de vista evolucionário são as fontes mais antigas de prazer. Vejo essa nova ciência em quase todas as áreas da vida. Os médicos, por exemplo, hoje recebem treinamento para desenvolver empatia para com seus pacientes, ouvi-los, tocá-los com carinho; são atitudes que ajudam no tratamento. Os professores interagem com mais proximidade com seus alunos. Ensina-se meditação em prisões e em centros de detenção de menores. Executivos aprendem que inteligência emocional e bom relacionamento podem fazer uma empresa prosperar mais do que se ela for focada apenas em lucros.
Ler toda a entrevista aqui.(Mente e Cérebro, Scientific American).


4. De todos os livros pequenos que li, este foi, decisivamente, o maior de todos. Trata-se de uma conferência do Professor Amaral Dias, a 7-11-1987, em Lisboa, no ISPA.
"A violência que quotidianamente é gerada no nosso tempo, e que não deve ser somente denunciada mas essencialmente compreendida como gerada pelas angústias primitivas e pela pulsão de morte existente em cada um de nós, deve o homem não tanto opor-se, mas propor alternativas criadoras e por isso bondosas de habitar a Terra.
Uma das maiores consequências da prática da psicanálise é precisamente esta, ou seja, a compreensão dia a dia, sessão após sessão, da esterilidade da vingança e da estupidez própria da raiva. Diariamente nos confrontamos, nos nossos actos, nos nossos gestos, nas nossas relações e nos nossos sonhos, com a obtusão mental derivada quase  sempre da destruição interna que Thanatos inflige às partes boas e criadoras do self. Esse é o peso que nos empurra para a doença e para a dor. A bondade e o perdão, farão provavelmente parte das asas que nos esperam quando finalmente conseguirmos ser livres."(pag.24)

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