02/02/12

Da zetética a Eros

Freud, em 1929, escreveu O Mal-Estar na Civilização. A introdução da cultura no selvagem leva o homem à humanização que é o mesmo que dizer angústia, ansiedade, depressão e outras perturbações psicopatológicas.
O homem tenta evitar o sofrimento como no verso: “há sempre uma candeia dentro da própria desgraça”.
Podemos encontrar prazer nas artes ou na doação aos outros. Como me dizia uma adolescente “tenho o meu ponto de refúgio: a heroína Bella da saga Twilight e os meus comportamentos são geridos como ela faria".
Podemos refugiar-nos em paraísos artificiais. É a luta permanente entre o princípio do prazer em contraposição ao princípio de realidade.
O ingénuo primitivo (Voltaire) encontra a civilização para o contradizer.
De facto nós somos fruto da cultura e da civilização. O homem é as suas circunstâncias (Ortega e Gasset) que são os outros. E se é com os outros que podemos encontrar o nosso equilíbrio psicológico também temos essa insatisfação que resulta da falha no conhecimento de nós próprios e dos outros.
O problema é que "quanto mais me olho menos me conheço" (Amaral Dias) e este parece ser um problema sem tratamento.
Perante esta situação que nos acompanha desde que somos humanos que fazemos ? Acreditamos. Em qualquer coisa.
Apesar da recessão da religião de há um século para cá, as crenças não diminuíram. Elas existem no campo biológico: dietas, naturismo… e no espiritual: parapsicologia, yoga, seitas…
A tecnologia que também serviu para estragar este nosso mundo levou ao regresso ao neonaturismo: voltar ao campo, à vida simples e rústica, ao sol…
A assimilação precipitada da ciência e da técnica não dispensa a astrologia, burguesa ou proletária, rica ou pobre, popular ou urbana, do padre Fontes à Maia, é, porventura, uma forma de responder às angústia das pessoas perante a instabilidade da vida familiar e social.
Quando falha praticamente tudo, a falha dos pais ou dos filhos, a falha do dinheiro, da integração na comunidade, ou quando se tem isto tudo, o problema da angústia mesmo assim persiste. À falta de melhor explicação para a sua vida, as pessoas fazem coincidir a sua crença com as “explicações” paranormais.
As pessoas que não acreditam em nada são muito raras. Em França, num inquérito realizado em 2003, verificou-se que apenas 4,3 % das pessoas não acreditavam em nada.
Há crenças para todos os gostos, práticas pre-cientificas, filosóficas e religiosas.
Desde 1993, porém, dispomos de uma nova metodologia para compreendermos, se não a nossa angústia, as crenças que adoptamos: A zetética. É o método usado para compreender o motivo das coisas. É, se quisermos, fomentar o espírito crítico, a arte da dúvida. É, na verdade, a recusa de qualquer afirmação dogmática e a opção por uma abordagem científica rigorosa dos chamados fenómenos que não compreendemos muito bem ou paranormais.
A zetética é um caminho importante para sabermos até que ponto tais fenómenos e os seus “intérpretes” nos enganam.
Mas, como já dizia Freud “A questão fatídica para a espécie humana será saber se o desenvolvimento cultural conseguirá dominar a perturbação de sua vida comunal causada pelo instinto humano de agressão e autodestruição. Talvez, precisamente com relação a isso, a época actual mereça um interesse especial. Os homens adquiriram sobre as forças da natureza um tal controle, que, com sua ajuda, não teriam dificuldades em se exterminarem uns aos outros, até o último homem.
Sabem disso, e é daí que provém grande parte de sua actual inquietação, de sua infelicidade e de sua ansiedade. Agora só nos resta esperar que o outro dos dois ‘Poderes Celestes’ ver, o eterno Eros, desdobre suas forças para se afirmar na luta com seu não menos imortal adversário. Mas quem pode prever com que sucesso e com que resultado?”

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