02/03/11

Ninguém morre só…

...foi o slogan de uma campanha da segurança social, há cerca de trinta anos. Como evoluiu a sociedade, desde então,  face ao envelhecimento da população?
Vamos imaginar que tem alguém que se encontra numa situação de alguma dependência devido à idade ou devido a qualquer doença e precisa de uma resposta social para essa pessoa.
O que vai fazer  se  necessitar de uma resposta social para si ou para um familiar?
Que respostas sociais e onde estão?
Em qualquer entrevista com o poder e neste caso com o poder social um aspecto que costuma ser referido é que as respostas sociais devem ser suficientes  e de proximidade.
Mas como encontrar respostas de proximidade ?
Vamos usar alguns métodos: Comecemos por fazer uma pesquisa na internet. A primeira constatação é de que não conseguiu informação que interesse. Vai quando muito encontrar alguns nomes de IPSS, misericórdias, associações, lares lucrativos.
Isto é, pode concluir que nesta situação a informação circula  boca-a-boca e do tipo: este lar é bom, este lar é barato, este tem qualidade, aquele não. Conheces lá alguém?
Pode tentar a sua inscrição ou do seu familiar directamente no local, ficando em lista de espera não se sabe até quando. Também não sabe quais são os critérios de entrada e de saída da  lista de espera…
pode esperar sentado ou pode esperar até morrer.
Há lares onde lhe dizem que, se quiser, se pode inscrever mas que não vale a pena porque a lista de espera é muito grande.
Os preços variam de lar para lar, uns  são subsidiados pela segurança social para além daquilo que o cliente já paga, outros não e o cliente tem que pagar tudo….
Se quiser procurar um lar de idosos de luxo vai encontrar informação mais detalhada com os valores que irá pagar e todos os suplementos que tem desde a manicura ao cabeleireiro, ao fisioterapeuta, ao animador, tipo de quarto, etc.
Em resumo: a informação é muito escassa, não há  transparência nas respostas que são dadas e também não se conhecem os procedimentos de admissão.
Vai perceber que estamos num território, em que ninguém se interessa por si nem pelo seu problema e o que vale é cada um por si, cada família por si.
Assim sendo o que pode acontecer ?  Aquilo que, ultimamente, tem acontecido, de vez em quando: são encontrados idosos, mortos há meses ou anos, em  casa.
Após a s reportagens da comunicação social, perante este problema, o que diz e faz o poder social ?
Assobia para o lado. Porque o poder social nem sequer reconhece que há um problema: “A rede de Segurança social tem capacidade para dar todas  as respostas” (Edmundo Martinho). Pelo menos houve uma sugestão: a criação  de  manuais de procedimentos para estas situações (Maria de Belém) .
Sempre me pareceu que isto do fim da vida é um confronto definitivo e solitário entre a pessoa e a morte em que já se sabe quem ganha. Podíamos pelo menos imaginar que alguém vai dar conta de que morremos, para além dos senhores do fisco.
Nem que seja para deixarmos de constar nos cadernos eleitorais, para não sermos contados como eternos abstencionistas.

Sem comentários:

Enviar um comentário