06/11/24

Idosos cuidadores de idosos


Tem vindo a aumentar o número de pessoas idosas que necessitam de cuidados permanentes ou regulares, muitas vezes prestados pelos próprios familiares. 
Como sabemos, há perdas e ganhos no envelhecimento. A mente vai-se deteriorando ainda que o corpo esteja fisicamente em condições de realizar as actividades da vida diária. Ou então é o corpo que já não possui as condições que a mente ainda lhe exige. Num ou noutro caso, ter consciência dessas dificuldades não é fácil de aceitar.

Não é um problema da actualidade. Séneca, na carta 26 (Cartas a Lucílio), divide a velhice em duas fases: a da velhice propriamente dita e a da decrepitude.
Diz Séneca: “Dizia-te eu, não há muito, que já estava à vista da velhice; agora creio bem já ter deixado a velhice lá para trás de mim! 
À minha idade, ou pelo menos ao meu corpo, já será adequada outra designação, pois "velhice" é o nome que se dá ao período da vida em que o homem está, embora cansado, ainda não gasto de todo. 
Inclui-me, portanto, no número dos decrépitos já prestes a atingir o fim. 
Há, porém, uma coisa que te peço tomes em consideração: é que não sinto na alma as injúrias da idade, conquanto as sinta no corpo. Somente envelheceram os meus vícios, tal como o corpo auxiliar desses vícios. O meu espírito conserva-se vigoroso e mostra-se contente de já pouco ter de se ocupar com o corpo, isto é, já alijou uma grande parte do seu fardo. “


Colocar o pai ou a mãe num lar pode ser uma decisão extremamente difícil e complicada e gerar conflitos contra a sua vontade, quando rejeita essa opção, de forma ostensiva ou ficando em silêncio... Uma alternativa é, muitas vezes, ficar a cuidar deles  na sua própria casa, mesmo que a nível temporário, mesmo que com apoio de outros familiares.

 

É necessário avaliar se o podemos fazer sozinhos, com apoio dos irmãos ou outros familiares, ou com necessidade de recorrer ao apoio domiciliário disponibilizado por instituições ... 

Com pais muito idosos é natural que os filhos também já sejam idosos e, por isso, é necessário ter em conta que os idosos cuidadores de idosos sao duplamente onerados devido às suas fragilidades e por terem de cuidar de outros ainda mais frágeis.


Como encarar esta dupla fragilidade? Que fazer? A gestão desta situação faz-se em vários planos: as interações com os pais, as interacções com os irmãos, com o resto da família, com a sociedade.
E não é fácil cuidar, com as forças que nos restam, de pais muito idosos. Mas por vezes mais difícil ainda é lidar com o resto da família, em especial os irmãos.
Sendo uma fase stressante para toda a família, muitas vezes as pessoas revelam facetas desconhecidas, quase sempre por motivos por dinheiro e heranças...
Por estarmos numa das fases mais complexas, tristes e emocionalmente desgastantes da vida, é necessário estarmos preparados para estas situações e protegermos a nossa sanidade mental. (Reviver, "Cuidar de pais idosos: As 15 melhores formas de manter a sanidade mental)

 



Até para a semana.

 





03/11/24

"Q"



Frank Sinatra - After You've Gone (2024 Mix) com Quincy Jones

Quincy Delight Jones Jr. (14/3/1933 - 3/11/2024)





25/10/24

Onde florescem os limões



Wo die Zitronen blühn (Onde florescem os limões) op. 364
Johann Strauss II (25/10/1825 - 3/6/1899)

O auricular invisível


O auricular de que falou o Sr. Primeiro-ministro só tem relevo para a comunicação que pretendia fazer se entendermos que de facto há um auricular invisível que  formatou e aculturou algumas pessoas da comunicação social, com carteira ou sem ela, jornalistas, comentadores ou comentadores-jornalistas e vice-versa. 

1984 (George Orwell) parece estar a acontecer agora, com grande parte do mundo a viver em estado de guerra sem fim à vista. Grande Irmão, fabricado pela Polícia do Pensamento é omnipresente e o Ministério da Verdade, faz a sua propaganda, perseguindo os cidadãos que se atrevem a defender o indivíduo e o pensamento independente.

Quando querem ser imparciais, jornalistas e cidadãos, precisam de capacidade crítica para poderem perceber quando se trata de manipulação do Ministério da Verdade. Para dificultar, há a 'novafala' que tem o seu próprio vocabulário. (1)

Por exemplo, o que é ser activista? Chama-se activista a  alguém de esquerda  que até pode ser violento, fazer manifestações violentas, fazer parar o trânsito, praticar vandalismo, estragando objectos culturais e destruindo bens públicos muitas vezes da própria comunidade de pertença. Já se for de direita é apelidado de extremista.

Os piores ditadores da história são legitimados como Líderes: O Líder Cubano, o Líder Sírio (2) ... Se forem de direita não passam de ditadores de extrema-direita.


Para alguns países os direitos humanos são uma miragem. Nesta matéria, um retrocesso assinalável está a acontecer em todo o mundo. Mas é  neste mundo que o jornalismo se movimenta e por isso não é fácil ter liberdade de pensamento e de expressão. (3)

Não é o nosso caso. Como vivemos em democracia  podemos questionar as medidas do governo (estas ou outras)podemos ter opiniões diferentes e discutir os assuntos que dizem respeito à vida das pessoas: 

 

- Se os velhos socialistas colectivistas, os novos canceladores wokistas, ou os progressistas muito avançados querem impor a dita disciplina de cidadania que é posta em questão por muitos pais e encarregados de educação, anulando princípios constitucionais que definem que “os pais têm o direito e o dever de educação dos filhos” (Artº 27º), então é necessário afirmar aqueles princípios e procurar uma solução que não ponha em causa a responsabilidade da família, tornando a frequência daqueles conteúdos opcional, ou integrando-os na disciplina de História ou de Ciências ou, simplesmente, procurar-se uma plataforma de entendimento suficiente para que não haja objecções por parte dos pais. 

 

- Também se pode buscar consenso para a questão da imigração. Ninguém  concorda, certamente, com políticas de portas escancaradas, sem qualquer controlo, afirmando  que não estão associadas a insegurança e dizendo que as estatísticas sobre segurança não são preocupantes.

Esquecem-se que o medo que as pessoas sentem não vem nas estatísticas nem nos jornais. O medo sente-se na rua onde moram, na zona onde habitam, quando saem à noite ou quando vão ao parque infantil com os filhos... (4)

 


Até para a semana.

 

 

 

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(1) "Guiões da linguagem" dita neutra e dita inclusiva."

 (2) Comentário  de um leitor (lucklucky a 19.10.2024)  a um post de Henrique Pereira dos Santos, "Eu?", no Blog Corta-fitas  sobre a confiança dos americanos na comunicação social,  onde se encontra  algum deste vocabulário.

(3)  "O aumento da polarização está associado à crise da democracia, e à emergência de autocracias e anocracias, em vários países. Segundo o Democracy Report 2023, do V-Dem Institute, entre 2012 e 2022 a percentagem da população mundial que vive em países autocráticos passou de 46% para 72%. Pela primeira vez, em mais de duas décadas, as autocracias são dominantes. Atualmente, só 13% da população mundial vive em democracias liberais enquanto 28% vive em regimes em que não há eleições multipartidárias, não há liberdade de expressão nem de associação e as eleições são manipuladas. A democratização da sociedade só está a acontecer em 14 países, onde vivem 2% da população mundial. Este valor é o mais baixo dos últimos 50 anos."  (Luís Caeiro, Nós e os outros. A sociedade polarizadaCatólica - Lisbon,  Setembro 26, 2023.

(4) E não me refiro apenas à percepção de insegurança.




Rádio Castelo Branco


17/10/24

Pedro e o lobo: a actualidade de Esopo

M. - 5 anos


Uma das famosas fábulas de Esopo é "O Pastor mentiroso e o Lobo". 
"Era uma vez um jovem pastor que levava suas ovelhas para pastar na serra. Para se divertir e ter companhia, ele gritava "Lobo! Lobo!" na direção da aldeia, fazendo os camponeses irem até ele. Mas não era verdade, era apenas uma brincadeira. O pastor repetiu essa brincadeira várias vezes.
Depois de alguns dias, um lobo realmente apareceu e atacou o rebanho. O pastor pediu ajuda gritando "Lobo! Lobo!" ainda mais alto, mas os camponeses não acreditaram nele, pensando que era mais uma brincadeira. O lobo pôde atacar as ovelhas à vontade, pois ninguém veio ajudar. Quando o pastor voltou para a aldeia, reclamou amargamente. O homem mais velho e sábio da aldeia respondeu: "Quem mente constantemente não será acreditado quando falar a verdade."

Pedro e o Lobo, na versão da Disney, narra a história de Pedro e o Lobo, por meio da música, como em Prokofiev. Pedro não é mentiroso. É apenas um caçador que vai para a floresta à procura do lobo. Quando os caçadores da aldeia surgem já Pedro com a ajuda de Ivan, o gato, tinham preso o lobo. Pedro é então o herói da aldeia. Todos estavam felizes menos o lobo, claro !

A história “Pedro e o Lobo” do compositor Sergei Prokofiev foi composta em 1936 com o objectivo pedagógico de mostrar às crianças as sonoridades dos diversos instrumentos musicais. Em "O Pedro e o Lobo" é utilizada uma Orquestra Sinfónica em que cada personagem é representado por um instrumento ou naipe da orquestra e possui um tema musical: O Pedro: Instrumentos de cordas; o Lobo: Trompas; o Avô: Fagote; O Pato: Oboé; O Gato: Clarinete; O Pássaro: Flauta Transversal; Os Caçadores: pelos Tímpanos e pelo Bombo.

A fábula de Esopo e a história de Prokofiev apenas têm em comum o nome, “Pedro e o Lobo”, porque quanto ao resto são completamente diferentes. 
A moral da história de Esopo: Se mentirmos muitas vezes, tornamo-nos pessoas que não são dignas de confiança e os outros deixam de acreditar em nós, mesmo quando falamos a verdade.

A moral da história de Prokofiev, como, por ex., na versão de Suzie Templeton, mostra que a coragem pode ajudar a superar medos que atrapalham, e com a ajuda de um pássaro louco e de um pato sonhador, capturam o lobo.

O destino do lobo é diferente consoante as histórias: vai para o zoo, ou, na versão da Disney não sabemos o que acontece ao lobo, no caso da versão de ST, é solto e regressa à floresta.






"Não é não!" ou da assertividade


“Não é não!” Tem sido à volta desta frase que a política tem acontecido desde que este governo exerce funções. Não é suficiente um não, é necessário reforçar a todo o momento a assumpção desse comportamento, ou seja, de que há linhas vermelhas que não querem ultrapassar.
Temos assistido, incrédulos, a uma “negociação” orçamental onde a descomunicação é que mais ordena e mais despreza qualquer eficácia.
De fora, as pessoas reforçam a experiência de que em política se pode fazer todas as promessas, declarações, propósitos mas quando se chega ao poder (executivo, legislativo...), se pode mudar de atitude, de comportamento, a qualquer momento, dependendo de interesses políticos pontuais ou conjunturais. Como no humor de Groucho Marx: “Esses são os meus princípios. Se não gostar, eu tenho outros.” (1)

Também não deixa de ser curiosa a frase de uma ex-ministra (A. Leitão, 2022), que afirmou: “a assertividade é mais prejudicial às mulheres na política e na vida”. Afinal ser assertivo é bom para os homens!
Pelo contrário, ser assertivo é, de facto, fundamental nas nossas relações e interacções com os outros. 
A assertividade, tal como a inteligência emocional e a empatia, é um dos factores que concorre para uma comunicação eficaz.

Podemos dizer que a assertividade "é o conjunto de condutas emitidas por uma pessoa num contexto interpessoal que expressam os sentimentos, as atitudes, desejos, opiniões e direitos dessa pessoa de um modo directo, firme e honesto, respeitando ao mesmo tempo sentimentos e atitudes, desejos, opiniões e direitos das outras pessoas" (Xavier Guix, Ni me explico ni me entiendes, p. 120)
Desta forma simples, a assertividade parece uma palavra mágica que resolve todos os problemas de comunicação.

A internet oferece-nos essa magia com muitas soluções, regras, leis, estratégias, para se ser assertivo. (2)
“Ora o que é mágico nem sempre funciona , nem é do gosto de todos. Não existe uma única forma no mundo de comportar-se assertivamente mas uma série de estratégias que podem variar segundo a pessoa, o contexto, a sociedade e a cultura em que se vive” (p. 121) 

Perante qualquer situação, mesmo que gere ansiedade ou tensão, podemos responder com passividade, com agressividade ou então com assertividade. (3)
Por isso, a assertividade é importante na nossa vida familiar, no trabalho, na política, e, particularmente, quando a comunicação é difícil, como em situações de ansiedade ou outras situações perturbadoras.

Podemos aprender a desenvolver estratégias assertivas nas interações com os outros, como refere X. Guix (p. 131-133 ):
- Ter propósitos claros: O que realmente quero fazer.
- Evitar os pensamentos automáticos.
- Analisar a posição do outro.
- Tratar as nossas convicções como hipóteses.
- Ver a situação de fora.
- Ter, a priori, dúvidas positivas: partir do que se tem em comum, daquilo em que o outro tem razão, parece ser um bom começo.
- Atender à forma de verbalizar.
Sobre este último aspecto podemos ver a complexidade que requer ser assertivo:
- Ser claro e preciso.
- Implicar-se pessoalmente. Usar o “Eu” em vez do “Eles”.
- Saber implicar o outro: gostei da forma como o outro cooperou na reunião.
- Mostrar-se educado e cordial: dar e receber feedback.



Até para a semana.

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(1)  "Afinal, Portugal raramente foi mais do que «isto»"Maria João Avillez considera que não há um português que suporte um minuto mais “disto”. 

(2) Desenvolver a atitude assertiva e ser mais feliz nas relações interpessoais

(3) Podemos avaliar se somos mais agressivos ou assertivos, como no Teste de assertividade de Rathus.



Rádio Castelo Branco



09/10/24

A comunicação social e os abusos


Perante a crise dos abusos sexuais na Igreja, a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) tem respondido assertivamente ao problema, de várias formas. 

Em Portugal, o estudo desta realidade foi entregue  a uma Comissão Independente que concluiu pela existência dos abusos, ao longo de mais de 70 anos, e pela necessidade de agir em várias áreas, como consta do Relatório final elaborado.

A realidade descrita é suficientemente dolorosa para, tout court, se aceitar as conclusões do Relatório.

No entanto, não questionando essa  verdade, certamente que se podem colocar problemas metodológicos e em consequência questionar  algumas conclusões a que a Comissão Independente chegou. (1)

Perante a necessidade de dar continuidade às sinalizações, verificou-se a impossibilidade de identificar muitos casos por falta de dados, tal como de vir a poder efectuar compensações financeiras, sem ter de obrigar a novo processo ainda que com o risco de revitimização.

 

Na sequência da Carta Apostólica Vos estis lux mundi do Papa Francisco, foram criadas as Comissões Diocesanas para proteção de crianças e jovens e pessoas vulneráveis que respondem localmente pela prevenção e protecção das vítimas de abusos.

 

Foi também criado o Grupo VITA que não só continuou  a atender vítimas, a nível nacional, como se tem empenhado na realização de acções de prevenção primária como formação e elaboração de instrumentos de trabalho pedagógicos para a prevenção.

O Grupo VITA criou ainda uma bolsa de psicólogos e psiquiatras, de  todo o país, que têm atendido as vítimas que necessitam de apoio psicológico. Como Bento XVI referiu, "o importante é, primeiro, olhar pelas vítimas e fazer tudo para as ajudar e acompanhar enquanto saram”.

 

A comunicação social informa, investiga e divulga mas também manipula e é manipulada de acordo com interesses mais ou menos expressos ou mais ou menos ocultos.

Seja como for, na complexidade do mundo global, uma grande parte da  luta pela liberdade e liberdade de expressão passa pelo trabalho dos jornalistas e dos media, que não têm trabalho fácil e estão sujeitos a perseguições arriscando a própria vida. (Committee to Protect Journalists)

Por isso, o papel da Comunicação Social é fundamental na investigação de eventuais casos de violência sexual nas instituições da Igreja mas também da sociedade, famílias, escolas, desporto... Por isso mesmo, deve investigar e informar com imparcialidade. 


Bento XVI, em entrevista a Peter Seewald, Luz do mundo - O Papa, a Igreja e os Sinais dos tempos, disse o seguinte sobre o papel da comunicação social: "Não foi possível deixar de reparar que subjacente a este esclarecimento por parte da imprensa, estavam não só a vontade pura de obter a verdade, mas também uma alegria em comprometer e em desacreditar o mais possível a Igreja. Independentemente disso, tem, porém, de ficar sempre claro que, sendo verdade, devemos estar agradecidos por cada  esclarecimento. A verdade, associada ao amor correctamente entendido, é o valor número um. E, por fim, os meios de comunicação social não teriam podido falar como falaram, se na própria Igreja não houvesse o mal. Só porque o mal estava na Igreja é que os outros puderam utilizá-lo contra ela."




Até para a semana.

 

 

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Felícia Cabrita entrevistou várias personalidades (Euclides Dâmaso, Jónatas Machado, Mário Mendes, José Cardoso da Costa) sobre o assunto - "Já não estamos no tempo da Inquisição", Jornal I, 18-3-2023;

02/10/24

Envelhecer com dignidade


O dia 1 de Outubro foi declarado pela ONU, em 1990, como dia internacional dos idosos, e em 1991 foram aprovados os princípios para as pessoas idosas (Resolução 46/91 das Nações Unidas). Este ano, o Secretário-Geral da ONU na sua mensagem para o Dia Internacional dos Idosos, voltou a apelar para: “Envelhecer com dignidade: A importância de reforçar os Sistemas de Cuidados e de Apoio aos Idosos em todo o Mundo.”
Todos estamos de acordo. Mas sabemos que o discurso bem intencionado se confronta com uma realidade bem diferente. Infelizmente, as estatísticas dão-nos uma imagem deplorável do tratamento dado a muitos idosos que vai do abandono e negligência aos maus tratos físicos. E, mais uma vez, vindos de quem não se devia esperar.

Esta discriminação negativa, devida à idade cronológica, chama-se idadismo (ageism). Para Sofia Duque(“Dia Internacional do Idoso: contra o estigma e estereótipos, para dignificar e respeitar os direitos dos mais velhos”, DN, 1-10-2024o idadismo “pode ter várias consequências negativas:

de natureza psicológica – a baixa autoestima, depressão e ansiedade; 

a redução do acesso a cuidados de saúde; 

a falta de  motivação dos próprios para a adoção de estilos de vida saudáveis, face à crença falsa de que a deterioração funcional e cognitiva são consequências inevitáveis do envelhecimento; 

o isolamento social e solidão;  

a tensão nas dinâmicas familiares, sendo frequentemente afastada a pessoa mais velha da tomada de decisões, mesmo quando estas lhe dizem diretamente respeito; 

o afastamento das esferas familiar e social; 

as políticas sociais e de saúde desfavoráveis; 

a desvalorização das capacidades das pessoas mais velhas e a falta de oportunidades.”


Podemos fazer um exercício. Para entendermos o que sente um idoso coloquemo-nos no seu lugar. Como gostaria de ser tratado quando fosse mais velho ou idoso?

Um idoso quer ser tratado com o respeito que é devido a um ser humano.

Deve-se ter em conta o seu passado, o profissional que foi  e o trabalho que fez durante tantos anos.

Embora possa ficar calado, não gosta de ser tratado com termos  ofensivos e esterotipados.

Apesar de já não poder deslocar-me tão facilmente ou de não estar “à la page”, não gosta de ser excluído de nada: da vida da família e da vida em sociedade.

Não gosta de ser tratado por tu mas de ser chamado pelo seu nome e gosta de ser cumprimentado como as outras pessoas.

Não gosta de ser excluído de sítios que proíbem a sua entrada.

Gosta que lhe perguntem a sua opinião em relação às coisas que lhe dizem respeito e que o deixem decidir em relação à ida para um lar ou uma “erpi” (estrutura  residencial para pessoas idosas). Deve ser respeitada a sua vontade.

Gosta de ser tratado por profissionais competentes que sabem como lidar com pessoas idosas com as suas dificuldades emocionais, cognitivas e sociais.

Gosta de fazer o que gosta e de não ser infantilizado. As actividades devem ter em conta que o adulto ou o idoso não é uma criança, que tem uma experiência de vida, cultura e vivências próprias.

Gosta que o deixem em paz quando não quer participar... mas,  ainda que sozinho, prefere ler, escrever e pensar...


 

Até para a semana.





Rádio Castelo Branco






30/09/24

Equilíbrio natural


A chuva chegou, de manhã e de mansinho. O tempo de Setembro,  ameno e acolhedor, convida ás actividades agrícolas ou de lazer... A natureza, afinal, também nos dá esta calma e bem-estar, este sentimento de serenidade, de poder olhar até onde a vista alcança e apreciar os últimos legumes e frutos do verão: ainda há curgete, tomate, os canteiros estão cheios de rúcula, espinafre, salsa, coentros e agrião, os pêssegos de Setembro estão agora deliciosos mesmo com algum bicho à mistura, e ainda se mostram os últimos figos e framboesas; começam a aparecer os dióspiros e os kiwis ainda têm que esperar...
Tudo à nossa volta nos ajuda no equilíbrio da nossa mente e as quatro estações completam o seu ciclo milenar de mudança constante. As alterações climáticas, afinal, foram sempre assim. Quando era criança os ribeiros saíam do leito. Há setenta anos que isso não acontece mas não estamos livres de voltar a acontecer.

Como Alberto Caeiro: “Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver do Universo”. Da minha quinta não sou capaz de deduzir a explicação científica do mundo mas consigo ver, ouvir e ler as mudanças que o afectam. 
Não sei nada de clima, nem de alterações climáticas nem de ambiente ou ecologia... e muito menos de javalis. Mas da minha aldeia observo a natureza e sei que os javalis andam por lugares que não era costume.

Leio explicações (Carlos Dias, "Reforço da caça vai travar invasão de javalis? "Chamem o Obélix, pede agricultor", Público , 21 de Julho de 2024):
- “os incêndios florestais de 2017 e a pandemia de covid-19 terão potenciado o aumento desmesurado de javalis. Relatos sobre danos em cultivos, acidentes rodoviários e transmissão de doenças acumulam-se."
- “Estes dois fenómenos, um a seguir ao outro, encaminharam milhares de javalis para as zonas urbanas, e até praias do litoral (Arrábida), em busca de alimento que deixaram de ter no seu habitat natural."
- "uma estimativa da Universidade de Aveiro admite (o número de javalis) poder oscilar entre os 150 mil e os 400 mil."
- "Em 2023, a área (de milho) destruída afectou cerca de 3% da produção nacional e resultou numa perda de “cerca de oito milhões de euros”. (Associação de Produtores de Milho e Sorgo (Anpromis)).
- Mas “a ameaça maior está no potencial perigo para a saúde pública e os aparcamentos de suínos, através da propagação de doenças como... a peste suína africana (PSA), o pesadelo dos criadores de pecuária extensiva.”

Perante isto, era bom que associações de caça, caçadores, partidos, incluindo os chamados ecologistas, os governantes, os cientistas e investigadores e os técnicos de saúde pública, se pusessem de acordo para resolver este problema.
No meio destes desentendimentos sobre uma coisa que parece simples de resolver há pessoas que trabalham e vêem as suas culturas destruídas, as suas quintas completamente fossadas e estragadas. Há pessoas preocupadas, que não dormem sossegadas e vivem na angústia de ver tudo estragado de um dia para o outro.

Mas os que têm o poder de decidir continuam a fazer belos discursos na conferência do clima, nos parlamentos, nos governos, sobre as alterações climáticas. Continuem... Por enquanto, ainda haverá couves para o bacalhau do Natal. Só não sabemos até quando.


Até para a semana.



Rádio Castelo Branco