... as primeiras cegonhas chegaram, hoje, a Castelo Branco, alheadas da emergência climática.
23/11/19
22/11/19
Medos bons e medos maus - a fobia de impulsão
De uma maneira ou de outra, todos conhecemos e somos afectados pela ansiedade e pelo medo em diferentes graus, circunstâncias e diferenças intra e interpessoais.
O medo é uma resposta emocional do organismo a uma situação de ameaça que podemos sentir e assim é uma resposta protectora do equilíbrio psicológico.
O medo dirige-se a algo concreto, a algo exterior, entra dentro do possível. A ansiedade á algo mais indefinido, é mais interior do que exterior, responde a uma ameaça vaga, algo mau que nos pode acontecer, ou fazer perder o controlo...
Mas há ansiedade normal e patológica. Há ansiedades que são características do desenvolvimento como os medos sociais próprios da adolescência que desaparecem normalmente com a idade. Porém nos fóbicos esses medos mantêm-se.
Há fobias em relação a tudo, algumas que podemos achar ridículas, como o medo de baratas, de osgas… que, ainda assim, merecem ser levadas em conta particularmente quando descontrolam o comportamento.
Mesmo quando um determinado objecto fóbico não o seja para a maioria das crianças, temos que ter em conta que há crianças que têm medo, por exemplo, de animais, como cães ou gatos, e mesmo do pai natal.
Os pais devem ter sensibilidade para compreender cada situação e não reforçar essa fobia pela persistência em confrontar a criança com esses objectos ou situações.
Em geral, devemos estar atentos a sinais como:
- Sentir medo exagerado em relação a uma situação de pouco ou nenhum perigo real;
- Ficar descontrolado perante determinadas situações ou objetos;
- Evitar situações da vida ou determinados objectos impedindo a pessoa de um comportamento normal, ex. medo de andar de elevador;
- Sentir reacções físicas como sudorese, taquicardia, dificuldade para respirar perante algumas situações ou objetos…
Quase todas as pessoas (80%) têm pensamentos intrusivos e desagradáveis durante a vida mas a maioria de nós interpreta-os como sendo sem gravidade e não ligamos.
Pode não acontecer o mesmo com a fobia de impulsão que consiste na obsessão de fazer mal a alguém, familiares, a si próprio, ter medo extremo de insultar, agredir, ter ideias assassinas, perder o controlo e seguir os seus impulsos, o que atormenta alguns pacientes ...
Há factores que desencadeiam esta situação: uma mudança de vida, traumatismos ou factores de stress.
As fobias de impulsão variam em função do contexto socio-cultural e do que é admitido ou proibido numa sociedade. É expectável que actualmente as temáticas pedófilas sejam mais frequentes.
Perante esta perturbação, é possível sabermos qual o risco, qual a possibilidade de passagem ao acto ?
Na fobia de impulsão estas ideias podem ser consideradas egodistónicas, isto é, contrárias ao que a pessoa deseja, que é controlar o pensamento.
No caso de um paciente que apresenta risco de passagem ao acto o pensamento violento é considerado em ligação com a procura de prazer. Os pensamentos de agressão ou sexuais são, então, egossintónicos, isto é, de acordo com o que a pessoa pensa. Eles serão vividos como agradáveis e a pessoa minimiza as consequências do seus acto.
Na história desta pessoa poderemos encontrar antecedentes de passagem ao acto e esforços de planeamento do mesmo.
Em todo o caso, a dificuldade está sempre em fazer o diagnóstico acertado.
As estatísticas * indicam-nos que as perturbações obsessivo-compulsivas (POC) ** correspondem a 2% dos adultos, sendo as fobias de impulsão um quarto destes casos.
Como em qualquer doença psicológica, a fobia de impulsão provoca uma significativa diminuição da qualidade de vida do paciente.
Sempre que sinta que está a viver situações deste tipo deve procurar ajuda psicológica. Para além da ajuda, se necessário, de medicação adequada, sabemos que as terapias cognitivo-comportamentais são eficazes. ***
____________________
* Clément Guillet, "Phobies d' impulsion: la hantise de faire du mal", le cercle psy, pgs 54 e 55.
** Em Portugal, "disorder" foi traduzido por "transtorno" mas substituído por "perturbação", após o DSM IV.
*** Como sempre, na internet encontra diversos artigos sobre o assunto, por ex.: Fobia de impulsão: o que é e como tratar; Fobia social, por John W. Barnhill ... No entanto, a ajuda especializada não pode nem deve ser negligenciada.
Perante esta perturbação, é possível sabermos qual o risco, qual a possibilidade de passagem ao acto ?
Na fobia de impulsão estas ideias podem ser consideradas egodistónicas, isto é, contrárias ao que a pessoa deseja, que é controlar o pensamento.
No caso de um paciente que apresenta risco de passagem ao acto o pensamento violento é considerado em ligação com a procura de prazer. Os pensamentos de agressão ou sexuais são, então, egossintónicos, isto é, de acordo com o que a pessoa pensa. Eles serão vividos como agradáveis e a pessoa minimiza as consequências do seus acto.
Na história desta pessoa poderemos encontrar antecedentes de passagem ao acto e esforços de planeamento do mesmo.
Em todo o caso, a dificuldade está sempre em fazer o diagnóstico acertado.
As estatísticas * indicam-nos que as perturbações obsessivo-compulsivas (POC) ** correspondem a 2% dos adultos, sendo as fobias de impulsão um quarto destes casos.
Como em qualquer doença psicológica, a fobia de impulsão provoca uma significativa diminuição da qualidade de vida do paciente.
Sempre que sinta que está a viver situações deste tipo deve procurar ajuda psicológica. Para além da ajuda, se necessário, de medicação adequada, sabemos que as terapias cognitivo-comportamentais são eficazes. ***
____________________
* Clément Guillet, "Phobies d' impulsion: la hantise de faire du mal", le cercle psy, pgs 54 e 55.
** Em Portugal, "disorder" foi traduzido por "transtorno" mas substituído por "perturbação", após o DSM IV.
*** Como sempre, na internet encontra diversos artigos sobre o assunto, por ex.: Fobia de impulsão: o que é e como tratar; Fobia social, por John W. Barnhill ... No entanto, a ajuda especializada não pode nem deve ser negligenciada.
18/11/19
Ter filhos é bom... para o planeta
Como sabemos os filhos e os netos transformam a nossa vida. Aprendemos isso
quando decidimos ter filhos.
Cada criança que vem a este mundo cria dessa forma uma família ou integra-se nela, seja de que tipo
for: monoparental, reconstituída, adoptiva, etc. e seja qual for o processo de
procriação.
São os filhos que definem a família.
As motivações que levam uma pessoa a ter filhos são as mais diversas. Poderá
mesmo não ter havido motivação. (1)
Por outro lado sabemos que o envelhecimento da população é um factor extremamente importante para o
problema da sustentabilidade dos diversos sistemas sociais.
"Em cerca de cinco décadas o número de nascimentos em Portugal caiu
para menos de metade.
…Em 1982, o número médio de filhos por mulher caiu abaixo de 2,1, considerado o limite da
substituição de gerações.
Na década seguinte, em 1994, esse indicador ficou, pela primeira vez, abaixo
de 1,5 filhos por mulher, valor que é considerado crítico para a
sustentabilidade de qualquer população, inviabilizando uma recuperação das
gerações no futuro se tal nível se mantiver durante um longo período." (Fundação Francisco Manuel dos Santos, Nascer em Portugal)
As razões que levaram a esta situação são as mais diversas. Porém aquilo que
pensávamos que podia ser um problema é visto de outro modo por alguns investigadores.
Sarah Harper, gerontóloga da Universidade de Oxford , defende que afinal
a diminuição da natalidade não é um problema e não há motivo para alarme ...
Pode até ser bom.
Porém o que eu não sabia é que uma das razões para não ter filhos pudesse ser o aquecimento global e as alterações climáticas. (1, 2, 3, 4)
Corinne Maier, psicanalista, defende que “Ter filhos sai caro, mata o
desejo no casal, impede a mãe de ter uma carreira bem sucedida e, para além
disso... há demasiadas crianças na Terra.
Há também o movimento GINK (green inclination no kids - inclinação verde não aos filhos) que defende
que a pegada ecológica ou pegada de carbono de uma criança é muito grande e por isso é melhor
para o planeta não ter filhos. (Justine Canonne, "Faire un enfant, c'est mauvais pour la planète...", le cercle psy, nº34, pgs. 28 e 29)
Cada um é livre de pensar e expressar o que quiser mas qual a importância
da pegada ecológica de uma criança que
vem a este mundo?
Todos queremos ambiente saudável, é
necessário fazer tudo para reduzir a poluição – o que não deve ser confundido
com alterações climáticas – mas isso não pode ser posto em alternativa a não
ter filhos.
E interrogo-me sobre que mundo será o nosso sem filhos e sem crianças
Se como dizia Pessoa o melhor do mundo são as crianças, essa é a única maneira
de ter um planeta melhor. Um futuro melhor. Nelas está a esperança de podermos
ter um Mozart, Beethoven, Freud, cientistas, artistas, … seres humanos que
transformem o mundo que temos num mundo mais belo e mais humano.
E nenhuma criança tira o lugar
a outra. Cada um de nós, cada um dos nosso filhos e netos, como ser único que é,
tem um papel a desempenhar no mundo.
E chegámos aqui. Com a emergência climática – que para alguns não passa de
uma invenção - o homem quer controlar o clima nem que para isso
seja necessário abdicar de ter filhos
As crianças são muito mais do que pegada ecológica e origem de mal-estar.
As crianças, os filhos, são de facto um milagre de amor e algo de
transcendente na vida das famílias que as coloca num futuro aberto e promissor
para a humanidade que não cabe nestas mesquinhas concepções climáticas.
03/11/19
Muros de silêncio
The sound of silence - Paul Simon
... And in the naked light I saw
Ten thousand people, maybe more
People talking without speaking
People hearing without listening
People writing songs that voices never share
And no one dare
Disturb the sound of silence
"Fools" said I, "You do not know
Silence like a cancer grows
Hear my words that I might teach you
Take my arms that I might reach you"
But my words like silent raindrops fell
And echoed
In the wells of silence...
O silêncio é
de ouro mas o silenciamento não. Nesse caso "é como um cancro que
cresce".
David
Draiman dos Disturbed, na sua versão de "The sound of silence", dá bem a ideia do dramatismo do
silenciamento, talvez mais do que a versão original de Paul Simon.
Dá
também Uma resposta ao
silenciamento de Roger Waters sobre as ditaduras mais ferozes que têm grassado
por este mundo.
A questão,
afinal, não é "nós não precisamos de educação" mas, sim, precisamos
de uma educação decente, nós precisamos de uma educação livre, crítica, sem os
muros (quem diria!) de silêncio que Roger Waters quer impor aos outros, os
muros da palavra, simbólicos, da liberdade, de poder cantar seja onde for para
quem quiser ouvir.
As
sociedades democráticas estão carregadas de defeitos, alguns dos líderes
democráticos não são do nosso agrado, merecem todas as críticas porque e quando
se põem a jeito, mas, e esta diferença é determinante, sabemos que serão
substituídos pelos eleitores em próximas eleições.
Já não
podemos dizer o mesmo dos pulhas que se mantêm no poder anos intermináveis, sem
eleições democráticas, até caírem da tripeça, deixando os respectivos países
ainda mais miseráveis.
Onde estão
os que não se calam, os que não são corruptos, os corajosos, os que não são
calculistas, os que não são hipócritas, os que não são habilidosos e
videirinhos... Onde estão ?
Onde está a
comunicação social livre e independente que dá voz aos que a não têm, que
não vai atrás de modas de share ou lá o que é, mas que não
passa da voz do dono ?
Onde estão
os que não calam os criminosos, onde estão os procuradores e os juízes que
devem fazer justiça ?
Há quantos
anos vivemos com a extrema-esquerda no parlamento e na rua, neste país e
por todo o lado, e silenciamos a sua filiação à mais profunda das
desgraças, violências, que reinaram nos países, arruinaram povos, dizimaram
etnias... que tiveram a infelicidade de saber o que ela é ?
Onde está a
comunicação social - que tem nesta matéria uma responsabilidade particular - e os
jornalistas independentes ?
A intelligentsia parece
esquecida destas realidades quando defende não a "liberdade"
mas o eufemismo das "mais amplas liberdades"? Foi assim em Portugal,
é assim nos países onde a extrema-esquerda é quem mais ordena.
Onde estava
Bernard Shaw quando os opositores de Estaline eram dizimados ?
Onde está
Noam Chomsky quando ignora o "Arquipélago de Gulag" e defende
todas as ditaduras de esquerda ?
O silêncio
não é de ouro quando é silêncio que fala alto através da linguagem das armas
mas também de outras formas simbólicas ensinadas não apenas nos quartéis mas
nas escolas e universidades.
Paradoxalmente, assistimos
a estas lutas interculturais e intraculturais, à violência mais
feroz que fica dentro de fronteiras, dentro de casa, da luta de classes às
guerras civis.
Entretanto,
ninguém perturba o som do silêncio ... trinta anos depois do muro de Berlim.
01/11/19
A educação é o professor
Depois deste interregno das férias escolares de
Verão e eleições legislativas, o meu regresso a estas crónicas de OPINIÃO, acontece após o regresso às aulas e a um novo ano lectivo.
Podia ter a esperança de que este ano lectivo
começaria melhor, dada a experiência de anos anteriores e assim poder pensar numa melhoria da situação educativa das nossas escolas.
O ano lectivo anterior acabou com a crise na educação, devido, principalmente, à
questão do direito dos professores à contagem de tempo de serviço de 9 anos 4 meses e 2 dias que provocou entre
os partidos alguma desorientação e com o
primeiro-ministro a ameaçar demitir-se, caso isso fosse aprovado na Assembleia
da República.
Começámos este ano lectivo da mesma forma. Com este problema por
resolver, assim como com os problemas habituais, como, por exemplo, escolas fechadas
ou disfuncionais devido a falta de pessoal docente e não docente, o problema da
indisciplina dos alunos em muitas escolas, e até com alguma violência contra professores e
funcionários…
Mantém-se o problema do amianto nos telhados de algumas escolas,
o problemas da qualidade das refeições, o problema da gratuitidade e da reutilização dos
manuais escolares…
Mantém-se, principalmente, o problema do clima escolar e os
problemas da relação pedagógica.
O que se passa ?
O que desde há alguns anos está a acontecer é que, sendo a escola um reflexo da sociedade e os comportamentos dos alunos reflexo da comunidade em que a escola está inserida, não se deu a importância devida às mudanças nos processos de socialização. A comunidade educativa – alunos, professores, pais e encarregados de educação - são diferentes e a escola necessita de se adaptar a essa situação.
A começar pelas lideranças políticas que com as atitudes e medidas que tomam, têm importante influência na melhoria das condições que se vivem no quotidiano da escola.
O que se passa ?
O que desde há alguns anos está a acontecer é que, sendo a escola um reflexo da sociedade e os comportamentos dos alunos reflexo da comunidade em que a escola está inserida, não se deu a importância devida às mudanças nos processos de socialização. A comunidade educativa – alunos, professores, pais e encarregados de educação - são diferentes e a escola necessita de se adaptar a essa situação.
A começar pelas lideranças políticas que com as atitudes e medidas que tomam, têm importante influência na melhoria das condições que se vivem no quotidiano da escola.
O ministério da educação não pode silenciar a realidade. Se não podem ser
corporativistas, também não podem ignorar o grande sofrimento por que estão a
passar muitos docentes.
A questão dos recursos humanos da educação é crucial. Impressiona-me,
anualmente, a colocação de professores e também de outros funcionários das
escolas, pela burocracia, centralismo, injustiça, que cria uma das maiores instabilidades no
sistema educativo.
É necessário entender que o sistema educativo não é um
conjunto de leis portarias e despachos, tabelas e fluxogramas... mas de pessoas
e famílias concretas. As famílias dos professores, técnicos, pessoal não
docente e as famílias dos alunos.
Não compreendo como é possível que os recursos humanos no
sistema educativo tenham uma forma de colocação singular em toda a função pública.
Há professores e técnicos que passam
dezenas de anos sem vinculação a uma escola, todos os anos têm de concorrer a
um horário numa escola e que leva à anormalidade de professores serem colocados
a centenas de quilómetros da sua residência porque se o não fizerem ficam no desemprego…
Este é um assunto que
exigiria também a flexibilidade dos sindicatos de forma a que fosse
salvaguardado o essencial:
1. a vinculação o mais cedo possível a uma escola de forma a
estabilizar a vida dos professores e das suas famílias.
2. e a existência de uma carreira em que dois aspectos fundamentais
dela façam parte:
- que o mérito seja levado em conta por uma avaliação de
desempenho justa e simples, radicalmente diferente da actual;
- que seja contado o tempo integral de serviço, não
dependendo da táctica política dos vários
momentos, dos vários governos.
Aprendi, um dia, que a educação é o professor. É a mudança que falta fazer.
Será que há
vontade ministerial e sindical para realizar esta mudança ?
Etiquetas:
Comunicação,
DESENVOLVIMENTO HUMANO,
FALAR DE EDUCAÇÃO,
Família,
PSICOLOGIA ESCOLAR,
RÁDIO BEIRA INTERIOR - OPINIÃO,
Reforma educativa
Subscrever:
Mensagens (Atom)