Mesmo discordando praticamente de todas as propostas que a (dita) esquerda tem apresentado, não há regra sem excepção. Esta é uma excepção. Tentar impedir, até ao fim, que haja candidatos que não cumprem a lei da limitação de mandatos é estar do lado do estado de direito.
"O Chiado tem uma história multisecular de boémios e intelectuais. Cafés, restaurantes, livrarias, lojas de moda e grandes armazéns marcaram gerações na história da cultura portuguesa. Impossível enunciar quantas figuras da intelectualidade portuguesa foram marcadas e inspiradas pelo Chiado boémio e erudito. Garrett, Eça de Queiroz, Fernando Pessoa, Almada Negreiros, Bocage e tantos outros, encontraram no Chiado o espaço ideal para as suas deambulações poéticas, filosóficas e doutrinárias." (Chiado, meu amor, "Pórtico", Albérico Cardoso, Lucidus-Publicações, Lda)
Nos anos 70 e 80, o Chiado fez parte do meu espaço geográfico, cultural e afectivo. Passava por ali quase todos os dias. Na rua da Emenda, onde ficava o ISPA, um pouco mais acima, foi o início da minha formação académica. Frequentava algumas livrarias: Bertrand, Moraes, Sá da Costa, Portugal... Passávamos pelo Bairro Alto, rua da Rosa, a caminho da Escola Politécnica, onde almoçávamos em Ciências.
Deambulávamos pelas lojas de discos, de moda, Grandes Armazéns do Chiado, onde mandei fazer um fato para uma ocasião especial. Entrava-se, do lado esquerdo, subiam-se algumas escadas, e aí estava a alfaiataria onde se era atendido com toda a distinção.
Nos anos 80, quando trabalhava na rua do Século, dar uma volta pelo Chiado, era uma das rotinas mais frequentes.
O Chiado faz parte do imaginário dos portugueses, e é, por isso, mais do que um local de Lisboa. Foi inspiração de gente de vários quadrantes da música popular: Vicente da Câmara, Filarmónica Fraude, UHF, Vitorino, moda das tranças pretas, animais de estimação, rua do Carmo, leitaria Garrett...
Vicente da Câmara - A Moda das tranças pretas
Filarmónica Fraude - Animais de estimação
UHF - Rua do Carmo
Vitorino - Leitaria Garrett
Em 25 de Agosto de 1988 morreu algum deste Chiado. Mas há quem se continue a apaixonar por Lisboae por este velho novo local.
Melody Gardot - Lisboa
Não havia necessidade ... de ser lembrado com um simulacro do incêndio. Qualquer dia... não seria de espantar se acontecesse a sugestão aqui feita para outras comemorações.
Tanta gente a tomar conta da gente! Querem prover tudo e observar tudo. Em vez de sermos nós a fazê-lo.
Há provedores para tudo. O que se pode fazer para não ter um provedor se não se estiver interessado em ter provedor, por exemplo, do leitor, da RTP, da RDP ? Provavelmente nada. Excepto uma coisa: não os ler ou não os ouvir.
O consumismo faz esquecer o que nos interessa e leva-nos a comprar o que pensamos que queremos. Entra-se no supermercado para
comprar a e sai-se de lá com o alfabeto todo no saco. Muitos produtos que não precisamos e alguns que nem sequer são assim tão bons para a saúde.
Tem sido um enigma encontrar no supermercado iogurte natural sem
açúcar. Voltas e mais voltas, mil variedades de iogurtes: com sabores, com frutas, com frutos secos, de imensas marcas, marca branca, líquidos, para a prisão de ventre, para as defesas, para o colesterol, de todas as maneiras. Mas onde é que metem o raio dos iogurtes naturais ?
O marketing e merchandising fazem-nos esquecer aquilo que é mais importante: a saúde pessoal, a saúde ambiental. Embora, ultimamente, haja cada vez mais referências ao ecológico.
Mas, quando nos recordam isso, devemos ter cuidado. O greenwashing faz parte da simpatia com que nos impingem os produtos mesmo que pouco tenham de ecológico. O "ecológico" não é o que parece.(Goleman)
"Vivemos o nosso quotidiano imersos num mar de coisas que compramos, usamos e deitamos fora, desperdiçamos ou guardamos. Todas possuem uma história própria e o seu próprio futuro, estando os antecedentes e o fim em grande medida ocultos dos nossos olhos, uma rede de impactes deixados ao longo do caminho, desde o momento da extracção ou mistura dos seus ingredientes, durante o seu fabrico e transporte, passando pelas consequências discretas da sua utilização nas nossas casas e locais de trabalho, até ao dia em que a deitamos fora. E, no entanto, os impactes invisíveis de todas essas coisas podem constituir o seu aspecto mais importante." (Goleman, cap.1 - O preço oculto do que compramos, pag.10)
Vamos sabendo cada vez mais sobre aquilo que comemos, aquilo que nos cura e aquilo que nos mata.
Há assuntos que não podem continuar a ser ignorados como os referidos n' O livro negro do
açúcar.
O Governo pediu ao Parlamento um voto de confiança à sua acção. A democracia é assim que funciona. Com a utilização dos instrumentos da democracia formal.
Podem os que se opõem ao governo desprezar esses instrumentos. É, aliás, sintomático que estando no Parlamento apoiam os manifestantes cá fora que acham que o Parlamento é uma inutilidade.
Herdeiros daqueles que em tempos a cercaram, põem em causa ou desvalorizam as funções da Assembleia da República, em particular quando elas lhes são desfavoráveis.
As manifestações da assistência, orquestradas ou não, é para isso que também têm servido: desvalorizar as funções do centro da democracia.
Apesar de os políticos fazerem tudo para não se poder confiar neles, os instrumentos da democracia formal são melhores do que "a imprevisibilidade e a arbitrariedade" da rua.
Dito isto, é necessário reflectir sobre a confiança. O desprestígio e a falta de confiança vêm sobretudo de dentro. Do Parlamento e de cada um.
A confiança politica não pode deixar de ser confiança psicológica: "Atitude de tranquilidade derivada do convencimento que se possui de que algo ou alguém , inclusive o próprio, se portará ou funcionará como se espera". Esta confiança fundamental é a "sensação de que o mundo é previsível e fidedigno" (Enciclopédia da Psicologia, vol. 4, pag 47).
Tanto a falta de confiança como o excesso de confiança podem atrapalhar e enviesar as experiências que se têm e facilitar a justificação dos fracassos.
O Sr. Presidente da República tem chamado a atenção para a necessidade de previsibilidade do comportamento das instituições e do país. (1 ; 2) *
Nos tempos que correm quem pode ter confiança de que os políticos se portarão ou funcionarão como se espera ? E espera-se que seja como dizem e como prometem. Por isso a questão diz respeito a todos os políticos quer se considerem do grupo dos bons quer sejam considerados do grupo dos maus (já que todos eles se acham bons). Quem tem confiança nos políticos ? A fazer fé neste estudo são apenas 4% dos portugueses, o que deve incluir os próprios políticos que confiam em si próprios.
A crítica a fazer é indispensável para que a "transparência radical" (Goleman) seja apanágio do Parlamento. Não o é quando se percebe que o parlamento é a casa dos interesses e "o centro de corrupção" (Paulo Morais em relação ao parlamento anterior (2011) e ao parlamento actual).
Se assim é, porque não é criada uma comissão parlamentar de inquérito ao parlamento ?
A confiança do governo vem da maioria do parlamento mas o parlamento tem que merecer a confiança dos cidadãos que o elegem.
* Esta previsibilidade que se chama de "os mesmos" também não deve ser ignorada.