Temos  sido confrontados, ultimamente, com notícias que nos deixam angustiados devido a casos de extrema violência doméstica. Periodicamente, parece haver um aumento de situações letais deste tipo de violência. 
Também as páginas negras das revistas cor de rosa mostram que o glamour nem sempre é o que parece. 
Na realidade, conheço melhor a violência familiar do ponto de vista das crianças que chegam à consultas de psicologia ou porque já estão a ser acompanhadas pelos tribunais e comissões de protecção ou porque as famílias estão a viver essas situações.
São crianças expostas a modelos de violência com frequência e que às vezes são igualmente vitimas quando tentam defender  o progenitor agredido. 
Outras vezes o sofrimento é mais invisível: Sofrem porque os pais não se entendem, se agridem verbal ou fisicamente de forma sistemática.
Há algumas falsas ideias que é importante termos  em conta.
Há a falsa ideia de que se pode ser um bom pai mesmo sendo um marido violento.  “Só me bate a mim, não toca com um dedo nos filhos…”
Outra ideia errada é  pensar, quando as crianças são pequenas, que ainda não entendem o que se passa.
Acontece que estas violências começam desde muito cedo.  Em 40% dos casos a violência inicia-se logo na gravidez ou logo a seguir ao nascimento. 
Observam-se reacções de agressividade ou de medo em crianças desde os 8 ou 9 meses que é uma altura em que  áreas especializadas do cérebro são mais sensíveis a indicadores de ameaça psicológica.
Alem disso a violência psicológica é igualmente importante se desqualificam a vítima ou se a vítima é ameaçada de maus tratos corporais graves. A criança pode assumir como real essa ameaça.(Entrevista de Jean-François Marmion a Karen Sadlier, Le cercle Psy)
A violência doméstica envolve os vários elementos da família mas ela é principalmente uma violência de género.  Em 2013, em 82% dos casos de violência doméstica, o autor do crime era do sexo masculino.(APAV)
Nas violências familiares não é fácil de entender  porque as vitimas tem tanta dificuldade a denunciar e ou deixar o cônjuge violento.
Em parte, talvez  porque as vítimas sempre esperam que o agressor possa  mudar por elas ou pelos filhos.
Apesar das  convenções internacionais e da legislação existentes, o atavismo cultural e o fanatismo religioso continua a ter grande importância em muitos países. Em alguma culturas, as mulheres continuam a ser propriedade dos maridos, os filhos propriedades dos pais...
Mas entre nós há quem ainda não compreenda que as pessoas não são propriedade de outras pessoas. Nem o casamento as torna proprietários de alguém.  
Um dos aspectos de maior conflito tem sido a subtracção de menores (Artigo 249.º do CC). Muita violência tem a ver com a desregulação do poder parental porque consideramos que somos proprietários dos nossos filhos.
Vossos filhos não são vossos filhos.           
São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.           
Vêm através de vós, mas não de vós.           
E embora vivam convosco, não vos pertencem.           
Podeis outorgar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos,           
Porque eles têm seus próprios pensamentos.           
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas;           
Pois suas almas moram na mansão do amanhã,           
Que vós não podeis visitar nem mesmo em sonho.           
Podeis esforçar-vos por ser como eles, mas não procureis fazê-los como vós,           
Porque a vida não anda para trás e não se demora com os dias passados.           
Vós sois os arcos dos quais vossos filhos são arremessados como flechas vivas.           
O arqueiro mira o alvo na senda do infinito e vos estica com toda a sua força          
Para que suas flechas se projectem, rápidas e para longe.           
Que vosso encurvamento na mão do arqueiro seja vossa alegria:           
Pois assim como ele ama a flecha que voa,           
Ama também o arco que permanece estável. 
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